sexta-feira, 1 de maio de 2009

FRANCISCO GOMES.

"Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçada continuarão glorificando o caçador".
[Provérbio africano]

Nascido em São Manuel, Estado de São Paulo, aos 09.09.1931, filho do ferroviário Benjamim Gomes e de Adélia Moreno Alvarez, órfão de pai aos quatro anos de idade, construiu uma das mais belas páginas de coerência e de luta revolucionária em nosso país. Metalúrgico da Cobrasma e posteriormente ferroviário da Estrada de Ferro Sorocabana, destacou-se na organização da classe trabalhadora para a defesa de seus direitos.
As informações a seu respeito nos arquivos da repressão policial/política são vastas, mostrando a preocupação dos agentes ditatoriais para com sua militância política e a necessidade, em sua ótica, de mantê-lo sob vigilância.
Militante do então clandestino Partido Comunista Brasileiro, fazia parte do Comitê Ferroviário do Partido e representava esta instância partidária junto aos Comitês Executivos da organização partidária. Tesoureiro da União dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana organizou e encabeçou diversos movimentos reivindicatórios da categoria profissional, tendo sido preso em Outubro de 1963, na cidade paulista de Assis, quando da realização de Assembléia da classe ferroviária em greve, foi recambiado para São Paulo, onde permaneceu detido no DOPS.
Por ocasião do golpe militar de 1º de Abril de 1964, foi destituído arbitrariamente de suas funções de Tesoureiro da entidade sindical e novamente preso. Demitido da Estrada de Ferro Sorocabana em Setembro de 1964, por força do Ato Institucional de 09 de Abril daquele ano, por Decreto do então governador Adhemar Pereira de Barros, foi trabalhar na Cooperativa de Consumo dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana.
Em 16.05.1965, foi novamente preso e liberado em 18.06.1965, tendo sido ouvido sobre sua participação na reestruturação do Partido Comunista Brasileiro.
Em 1967, deixou o Partido Comunista para junto com Carlos Marighela, Joaquim Câmara Ferreira e outros militantes, fundarem a Ação Libertadora Nacional. Saíram do Partidão, inconformados com a linha pacifica de luta contra a ditadura adotada pelo comando partidário. Buscou contatos com velhos camaradas ferroviários, buscando a cooptação de quadros para a nova Organização Revolucionária.
Beduíno ou Turco eram seus nomes de guerra dentro da ALN, respeitado pelos companheiros e temido pela repressão. Era o responsável pela segurança do companheiro Joaquim Câmara Ferreira, o Toledo, com quem dividia o mesmo "aparelho". Em final de 1969, inicio de 1970, deslocou-se para o Pará, onde seria um dos responsáveis pelo campo de guerrilha a ser montado pela ALN. Aguardou durante tempos a chegada de novos camaradas do sul do país e daqueles que retornariam do treinamento de guerrilha realizado em Cuba. Entretanto, a Organização já se encontrava esfacelada e com dificuldades monetárias para encaminhar novos militantes para a área.
Concomitantemente, a repressão espalhava cartazes com sua foto, tratando-o como terrorista perigoso, colocando sua cabeça a prêmio. Condenado à revelia a quinze anos de prisão, no processo nº 85/70, na 2ª Auditoria da Segunda Jurisdição Militar , viu-se na necessidade de sair do país, ante o esfacelamento da organização revolucionária e o cerco promovido pela repressão em busca de sua prisão, chegando inclusive a prenderem sua esposa, filhas e irmã, na busca incessante de seu paradeiro.
Exilou-se no Chile de Salvador Allende, onde trabalhou na área rural e menos de um ano de sua presença em território chileno, o golpe do General Pinochet derruba o governo socialista, trazendo apreensão aos brasileiros ali exilados.
Novo refúgio foi escolhido e na calada da noite pulou o muro da embaixada do Panamá, em Santiago, solicitando asilo político. Centenas de outros brasileiros, uruguaios, argentinos e chilenos, tiveram a mesma idéia, superlotando a embaixada panamenha. Depois de muitas discussões políticas, o governo Pinochet concordou com a retirada dos exilados da embaixada, tendo sido os mesmos conduzidos para o Panamá, onde cada qual escolheu o seu caminho, e Chico Gomes foi para Cuba, onde permaneceu até a promulgação da Lei de Anistia em Agosto de 1979.
Em sua permanência em território cubano, Chico juntamente com outros companheiros exilados, defendia o recuo na luta armada no Brasil para uma tentativa de unificação das esquerdas. Por tal atitude, era tratado com desconfiança pelos anfitriões, que iludidos por relatos ufanistas de outros brasileiros, entendiam que o povo brasileiro tinha condições de se organizar e derrotar a ditadura.
A história deu razão para Chico e seus companheiros.
Retornou para o Brasil em 07.09.1979, juntamente com Argonauta Pacheco, que havia sido trocado pelo embaixador americano, servindo como “boi de piranha" para os demais companheiros exilados em Cuba e com a finalidade de verificar se a Anistia era verdadeira.
Radicou-se em Sorocaba, interior de São Paulo, onde veio a ser um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores.
CHICO GOMES, o Turco ou Beduíno merece justificadamente ter sua história resgatada, como defensor intransigente da classe trabalhadora e da liberdade do povo brasileiro.

3 comentários:

  1. Sou casado com uma sobrinha do Francisco Gomes, tenho contato direto com a família. Aprendi a respeitar e admirar o Chico convivendo com ele. Em nome de todos nós, e da liberdade, agradeço o trabalho de resgate e preservação dessa mamória tão importante para nosso país.

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  2. Luiz Algarra, há tempo não falo com o Chico. Ele é meu primo. Morro em Umuarama-PR. Troquei meu telefone e acabamos perdendo o contato. Queria muito falar com ele. Por favor, me envie um e-mail dele ou passe o meu e-mail pra ele.
    Dalva Maria
    dalmari@uol.com.br

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  3. Chico é um dos exemplos vivos de coerencia revolucionária e de solidariedade.

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