sexta-feira, 1 de maio de 2009

TITO BATTINI

Criado em Bauru, onde começou a escrever em jornais aos quatorze anos de idade. Trabalhava como aprendiz de tipógrafo no jornal bauruense " Correio da Manhã", de propriedade de Manoel Sandim. Seu primeiro artigo publicado tinha o título de " Não a Guerra" e fazia críticas ao envio de brasileiros para os campos de batalha durante a Primeira Grande Guerra Mundial. Crítico, excelente texto, rapidamente Battini conquistou seu espaço na imprensa local.
Amigo de Correa das Neves, Manoel Sandim e outros jornalistas bauruenses que viam em Battini um futuro brilhante dentro do jornalismo. Testemunhou o início das atividades dos comunistas nesta cidade e acompanhou de perto as atividades dos anarquistas, estando sempre presente em suas reuniões como acompanhante do pai.
Em seu livro “Memórias de um Socialista Congênito", publicado pela Editora da Unesp, trás histórias interessantes sobre o início do século passado em Bauru e região.
Saiu de Bauru, aconselhado por amigos e jornalistas que diziam o mesmo estar correndo risco de vida, haja vista, ter sido ameaçado por duas vezes pelo então prefeito municipal Eduardo Vergueiro de Lorena, tendo este inclusive sacado de um revólver durante um baile de aniversário da cidade, ameaçando e buscando intimidar o jovem jornalista. Foi trabalhar como escriturário da Companhia de Cigarros Souza Cruz, na capital do Estado. Perseguido constantemente pela polícia política em razão de suas posições socialistas, Battini escreveu diversos livros e ganhou diversos prêmios literários por todo o Brasil. Sempre na defesa da classe trabalhadora e na luta pela libertação do povo brasileiro, Battini escreveu uma bela história de vida na resistência a tirania, com certeza será sempre lembrado por todos aqueles que defendem a liberdade e como um grande jornalista que iniciou sua carreira em nossa cidade.

ROQUE ZERBINI

Poucas informações conseguimos a respeito deste funcionário público estadual, fiscal de tributos. Esteve preso na Cadeia Pública de Bauru, por um período não superior a dés dias e após este período não teve contato com os companheiros de cárcere. Não sabemos de seu paradeiro ou de seus parentes, razão pela qual solicitamos a quem ler este texto, e tiver informações do perseguido político ROQUE ZERBINI, tais como dados biográficos, atividades políticas e profissionais, que realizem a gentileza de informarem, enviando e-mail para chineloneles@hotmail.com

MANOEL JOSE DONATO

Ferroviário da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e militante do Partido Comunista, foi candidato a vereador pelo então PST, conseguindo a eleição, no pleito municipal de 1947, sendo o quinto mais votado da cidade, transformando-se no primeiro comunista a conquistar o mandato de vereador em Bauru. Entretanto, teve seus votos anulados por utilizar em seus panfletos eleitorais a expressão " Candidato de Luís Carlos Prestes". Não só ele, como a grande maioria dos candidatos de seu Partido, que com a cassação do registro do PCB abrigava os comunistas em sua legenda. Elias Calixto, Arcôncio Pereira da Silva, Antenor Dias tiveram seus votos anulados, assumindo a Câmara Municipal, o senhor Alberto Quércio, do Partido de Representação Popular, ligado ao integralismo.
Manoel José Donato, mudou-se de Bauru após ter sido demitido da Estrada de Ferro, deixando para trás as saudades dos que com ele militaram no Partido Comunista.

LUCIANO BERNARDES FILHO

Luciano Bernardes Filho, é de Lençóis Paulista, cidade onde exerce a advocacia. Estudou na Faculdade de Direito de Bauru, mantida pela Instituição Toledo de Ensino, e despontou como liderança estudantil nos anos 60, razão para que o sempre diligente investigador de polícia CARLOS ROSSA saísse a elaborar seus infundados e caluniadores relatórios, para seus superiores. A saga de ROSSA em comprometer pessoas da comunidade com o Partido Comunista era impressionante. Em sua ânsia de aumentar a quantidade dos militantes do Partidão, muita gente que não tinha nenhuma ligação partidária, acabavam fichadas no famigerado DOPS. Luciano era um jovem democrata, inconformado com a ditadura militar e isto bastou para ser um dos que reorganizavam o PCB no centro oeste paulista, no pós-golpe militar. No informe encaminhado a São Paulo, no segundo semestre de 1965, diz explicitamente que Luciano “ era um peões que se moviam no grande tabuleiro da subversão, manejados por cérebros que permanecem na retaguarda visando desestabilizar o movimento revolucionário vitorioso”. Neste informe o irresponsável agente policial informa que centenas de comunistas estavam se reorganizando na região central do estado. Cobrado pelos superiores de São Paulo, sobre o nome dos comunistas, copia o nome daqueles que assinaram um abaixo assinado contra o custo de vida, realizado em 1951. Em 12.10.1966, realiza outro informe, desta vez destacando a candidatura de Luciano à Deputado estadual, pelo então MDB. Vamos a ele:

“ LUCIANO BERNARDES FILHO é candidato a deputado estadual pelo MDB, tendo sido presidente do CA 9 de Julho da Faculdade de Direito de Bauru, no ano de 1964, goza de bastante influência junto ao meio estudantil da região e no afã de aumentar seu colegiado eleitoral, ultimamente passou a residir em Lençóis Paulista. Em meados do mês de agosto último, esteve na cidade de Lins onde manteve contato com João Carlos Bittar Barilara, comunista, estudante de engenharia e presidente da Federação Universitária de Lins. ( FUL).
Durante a última crise estudantil, Luciano foi visto na cidade de Bauru e houve no dia 24 de Setembro de 1966, na fazenda de seu pai, em Lençóis Paulista, uma reunião de estudantes para tratar dos assuntos relacionados aos fatos que estavam acontecendo em todo o Brasil “.

Muitos outros relatórios do DOPS eram encaminhados para São Paulo, dando conta das atividades de Luciano no Movimento Democrático Brasileiro, na cidade de Lençóis Paulista, com seus passos políticos constantemente mapeados pelo diligente e irresponsável Carlos Rossa Neto.

LINO PAVAN

Em 1918, em parceria com o espanhol A. Suarez, editou na cidade de Bauru, o jornal semanário " A RAZÃO", que semanalmente enviava para ASTROGILDO PEREIRA no Rio de Janeiro.
Quatro anos antes da fundação do Partido Comunista, Lino Pavan em seu jornal defendia a Revolução Bolchevique e denunciava a existência de mão de obra escrava no oeste Paulista.
Tinha como lema “a defesa dos empregados nas Estradas de Ferro e dos operários em geral" em todo o oeste paulista e demonstrava ser um jornal de críticas a classe patronal, e principalmente de denúncias das afrontas aos direitos dos trabalhadores.
Podemos dizer que LINO PAVAN foi um dos precursores da imprensa de esquerda em Bauru e em nosso país, conclamando seus leitores a boicotarem os produtos das empresas que utilizavam a mão de obra escrava.

JOSÉ ROBERTO ARANTES DE ALMEIDA.

Pesquisando para concluir um trabalho sobre as vitimas da repressão, no período ditatorial, mais especificamente a história de Márcio Leite Toledo, afinal temos que pesquisar para não cometer atos falhos, ou mesmo deturpar a verdade acabei por constatar que mais pessoas sofreram as agruras da repressão política em nossa região. Um dos maiores líderes estudantis no período pós 64, o estudante de Filosofia, José Roberto Arantes de Almeida, é nascido na cidade de Pirajuí, aos 07.02.1943, sendo filho do médico José Arantes de Almeida e de dona Aída Martoni de Almeida. Seu pai foi médico na cidade de Bauru, onde residiu com a família. Vice-presidente da UNE no ano de 1967, foi processado e teve sua prisão preventiva decretada em 20.10.1968, juntamente com o bauruense Milton Dota, pela sua participação no Congresso da UNE em Ibiúna, Sp. Posteriormente, esteve em Cuba realizando treinamento de guerrilha como militante da Ação Libertadora Nacional, a ALN. Na ilha de Fidel, juntamente com outros companheiros, onde se destacava Zé Dirceu, resolveu criar o Movimento de Libertação Popular, o MOLIPO. Demonstrando que o movimento de resistência à ditadura estava minado de informantes e alcagüetes devidamente infiltrados pela repressão, os militantes do MOLIPO foram sendo presos e mortos, a medida em que retornavam para o Brasil. Com Zé Arantes, não foi diferente e em quatro de novembro de 1971, quando se completavam dois anos da morte de Carlos Marighela, sua casa na Vila Prudente em São Paulo, foi cercada pela polícia e em tiroteio o militante veio a morrer. Sua necropsia, realizada com o nome falso de José Carlos Pires de Andrade, foi realizada pelos legistas drs. Luiz Alves Ferreira e Abeylard de Queiroz Orsini. Posteriormente, devidamente identificado, foi sepultado pela família. Zé Arantes era tido como uma das cabeças pensantes do ME e da resistência ao golpe militar. Continuaremos, com calma a pesquisar a história do Zé, principalmente no período em que residiu em Bauru, para ampliarmos o relato de sua história.

JOSÉ DUARTE

Português de nascimento, filho de José Mateus e de dona Maria Coimbra Manaia, chegou ao Brasil em 1907, com quatro meses de idade e em 1921, aos quatorze anos de idade, já morando em Bauru, na Vila Falcão, conseguiu emprego no setor de tração da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, onde iria começar a sua trajetória de lutas em defesa da classe trabalhadora e na defesa intransigente dos fundamentos do marxismo, que o transformariam em um dos principais dirigentes do comunismo brasileiro, sendo que por sua intensa militância política, passou praticamente dezessete anos nos cárceres, durante o Estado Novo de Getulio Vargas e posteriormente durante a Ditadura Militar, sendo que o tempo em que permaneceu em liberdade, era constantemente vigiado pela polícia política, o que o fazia mergulhar na vida clandestina, sempre trabalhando pela organização da classe trabalhadora e pelo fortalecimento de seu Partido Comunista. Seu primeiro contato político ideológico, foi com o jornal anarquista “ A Lanterna”, em início da década de 20, e muito embora procurasse, não encontrava as lideranças comprometidas com as lutas dos trabalhadores, o que veio a ocorrer em 1º de Maio de 1924, quando da realização de uma concentração de trabalhadores nas dependências do Cine São Paulo, sendo certo que ao final desta reunião pública, quando compareceram trabalhadores de várias cidades do centro oeste do Estado de São Paulo, o espanhol e lenheiro da Estrada de Ferro, recrutou-o para pertencer aos quadros do Partido Comunista.
No distante 1924, Duarte começava a sua trajetória intransigente em defesa dos direitos da classe trabalhadora, lutando pela implantação da semana inglesa, melhores condições de trabalho, e outras reivindicações pertinentes a classe ferroviária e no dia 29 de julho 1924, chegavam a Bauru, as tropas revoltosas de Isidoro Dias Lopes, Miguel Costa e João Cabanas, com os diretores da ferrovia e as autoridades políticas da cidade, empreendendo fuga, tendo o Capitão Otávio Muniz Guimarães assumido o comando da Estrada de Ferro e de imediato determinado o pagamento de dois meses de salários dos ferroviários, que encontravam-se atrasados, angariando de imediato a simpatia da massa trabalhadora. O prefeito da cidade, Carlos Jose Gomes que havia abandonado seu posto, foi substituído no comando da municipalidade pelo Dr. Octávio Pinheiro Brizola, simpático das lutas empreendidas pelos revoltosos. Tomado de entusiasmo com a revolta, Duarte alistou-se na chamada “Coluna da Morte”, liderada pelo Tenente Cabanas, que fazia a retaguarda das tropas, protegendo-a dos ataques dos chamados “legalistas” Foi fazer parte do grupo de destruição, também conhecido como grupo de engenharia, sob o comando do Sargento Philogônio Antonio Teodoro, mais conhecido como Sargento Filó, tendo participado de duas ações, como integrante da “Coluna da Morte”: a destruição da ponte sobre o Rio Tiête, que ligava Airosa Galvão a Pederneiras e a retirada das tropas com destino a Botucatu. Rápida atuação, de pouco mais de um mês e que demonstrava a bravura e coragem deste então jovem português, tendo retornado a Bauru em final de setembro, tendo sido readmitido nos quadros da Noroeste. Ao retornar a Bauru, juntamente com o Dr. Jerônimo de Cunto Junior,m Capitão Esdra, Luis Guiomede, Bento Xavier da Silva, os irmãos Itaim e Itamir Martins, Estevão Gomes, dentre outros, fundou a Liga Cívica 5 de Julho, com a finalidade de divulgar as atividades da coluna e desenvolver atividades políticas na legalidade, buscando manter o ardor patriótico e a esperança na revolução e através da Legião Cívica, encaminhavam grande parte das tarefas do Partido, participando igualmente de uma célula (base) da qual faziam parte: Antonio Açucena Maia, Paulino Rodrigues da S. Castro, Melquiades de Souza, Bento Xavier da Silva e Joaquim Marques, e neste ano, de 1925, a repressão contra os comunistas era grande e o cuidado com o recrutamento de novos militantes era redobrado, fazendo com que seu crescimento fosse lento. A repressão contra os comunistas era apoiado ostensivamente pela Igreja Católica e os padres chegavam ao desplante de afirmar em seus sermões que matar comunista não era pecado. No final desta década de 20, Duarte participou ainda da criação do BOC – Bloco Operário Camponês, buscando lançar candidatos afinados com a ideologia do PC e conseqüentemente divulgar legalmente suas palavras de ordem. Em 1929, participa de mais uma ação em defesa da liberdade da classe trabalhadora, pois em Agudos havia sido fundada a União Operária, tendo a polícia prendido toda a sua diretoria. Duarte, alguns companheiros do partido e trabalhadores de Bauru, lotaram um caminhão e dirigiram-se até a vizinha cidade, reunindo-se com trabalhadores e ativistas do partido naquela localidade. Portando armas de fogo, facas, pedaços de pau e pedras, convenceram a guarda da cadeia a libertar os presos e no dia seguinte, após a festa dos trabalhadores pela libertação dos companheiros presos, Duarte sofria a primeira de uma série de prisões, que viria a enfrentar em sua vida.
Trabalhoso foi a fundação do Sindicato dos Ferroviários, com Duarte fazendo parte da Comissão Provisória criada com a finalidade de instalar a entidade representativa da classe ferroviária, onde juntamente com Oswaldo Alves, Luiz Guiomede, Eustáquio Bittencourt e os irmãos Itaim e Itamir Martins, enfrentou as dificuldades de implantar uma entidade não atrelada ao governo e a diretoria da Estrada de Ferro, sendo implacavelmente perseguido pela direção da Estrada de Ferro e em contra partida contando com o apoio da categoria profissional. Em decorrência de sua atuação à frente do sindicato e de seus discursos inflamados, acabou por sofrer algumas prisões. Em 24 de Outubro de 1930, quando da deposição de Washington Luis, Duarte participou ativamente de mais duas ações, colaborando com o empastelamento de dois jornais contra-revolucionários: Correio de Bauru e Diário da Noroeste. Cabe ressaltar que o Partido Comunista não apoiara e não participara da revolução, entretanto Duarte na rebeldia característica da juventude, apoiava o movimento como integrante da Legião Cívica 5 de Julho, agora presidida por Octavio Pinheiro Brizola. Antes mesmo da revolução, os membros da Legião viam seus quadros sendo ampliados, com a adesão do jornalista Correia das Neves, Evaristo Gonçalves da Silva e membros da família Fraga de Nogueira. Chegaram a ser realizadas reuniões entre o Tenente Siqueira Campos e os opositores, em um barracão localizado no meio do cafezal da Fazenda Sossego, em Tibiriçá.
Em 1931, casa-se com Izabel Pellegrina, filho de Antonio Pellegrina Ruiz e de dona Joaquina Arqueladas, moradores da Vila Falcão, mais precisamente na Praça, hoje denominada de Euclides Paixão, e a militância de Duarte continuava cada vez com maior intensidade. Em 1932, juntamente com o Partido Comunista posicionou-se contra a Revolução Constitucionalista, sendo por tal posição ameaçado de morte e achincalhado nas ruas da cidade, e com o termino do curto movimento, com a derrota dos paulistas, acabaram por reconhecer que Duarte e os comunistas estavam corretos em seu posicionamento, que visava unicamente evitar a derrubada de sangue da juventude paulista e os consagraram como defensores do povo e da paz. Em 1933, em companhia de outros ferroviários e inspirado nos “kolkozes” da União Soviética, fundaram a Cooperativa da Noroeste, que funcionava no segundo quarteirão da Rua Primeiro de Agosto, em uma sala acanhada, onde existiam apenas uma balança e alguns sacos de cebolas, único produto que conseguiram de início disponibilizar para os associados, entretanto reinava o otimismo e as lideranças ferroviárias tinham a absoluta certeza de que a entidade prosperaria. De fato, fundada no início de 1933, pouco tempo depois ela ocupava de 10 a 15 vagões de mercadorias, que percorriam os 1300 quilômetros da ferrovia, ocupando facilidades para o escoamento de seus produtos, principalmente em virtude do alto custo de vida na época. Solidificada a Cooperativa, com apoio entusiasta da classe ferroviária, Duarte inicia a luta pela implantação da semana inglesa, ou melhor, dizendo, o direito de poder trabalhar nos sábados até o meio dia. Getúlio Vargas aprovara para os funcionários públicos e para os da União, entretanto para os ferroviários, a semana inglesa beneficiava apenas os funcionários dos escritórios e das oficinas. No inicio de 1934 era o maquinista do trem do lastro, para as equipes que trabalhavam na conserva e alertou o pessoal de seu percurso, para não deixarem trabalho inacabado perto do meio dia e articulou com os outros maquinistas dos demais trens de lastro. Às onze horas, dirigiu-se ao pessoal das turmas:

“Quem não quiser voltar a pé, embarque, pois a partir de agora é a semana inglesa!”.

As discussões sobre aumento salarial, melhoria das condições de trabalho e promoções atrasadas agitavam as Assembléias Sindicais, com a NOB recusando-se a atender as reivindicações e neste ano de 1934, acabou por ser deflagrada greve da categoria, atingindo as oficinas e parte da estação. A intervenção pacifica da polícia colaborou para que o movimento fosse tranqüilo e as reivindicações da classe ferroviária acabaram por ser rapidamente atendidas, com o movimento paredista terminando em festa de confraternização entre os grevistas e policiais. Fato raro!
Esta greve coincidiu com o início da safra de café e os trabalhadores da Fazenda Val de Palmas, em número aproximado de cinco mil agitavam se com suas reivindicações: aumento no preço por saca de café colhido, direito de criar animais domésticos e um pedaço de terra para plantio de roças de subsistência, sendo que os donos da fazenda chamaram a polícia para que esta estivesse ao seu lado, no momento discutir as reivindicações dos trabalhadores, até como forma de intimidação, entretanto, o tiro saiu pela culatra e após ouvi-las, o próprio comandante do 4º Batalhão dos Caçadores, João Dias de Campos, aconselhou aos proprietários da propriedade a atender aos pleitos formulados pelos trabalhadores. Todavia, quem colaborara de forma decisiva para a organização do movimento dos camponeses tinha sido o militante Duarte, que ao tomar conhecimento do movimento grevista, dirigiu-se até a Fazenda com a intenção explicita de colaborar com o movimento. E não perdeu tempo, ao final do movimento vitorioso, recrutou dois líderes camponeses para as fileiras do Partido Comunista: José Pedro e Oswaldo Pacheco, sendo que em 1935, Pacheco foi preso, torturado e morto pela polícia, dentro do Presídio Maria Zélia, na cidade de São Paulo.
As atividades de José Duarte eram múltiplas, sempre na defesa da classe trabalhadora e na luta pela ampliação constante dos quadros do Partido Comunista e em 05 de Outubro de 1934, o líder nacional dos integralistas Plínio Salgado visitou a cidade de Bauru, sendo recebido com festas por seus correligionários na Estação Ferroviária e se dirigido ao Hotel Cariani com a finalidade de descansar, e poder participar das atividades públicas marcadas para o restante do dia, enquanto seus adeptos dirigiram-se em passeata com destino a Praça Rui Barbosa, onde seria realizado o comício integralista, e enquanto isso corria a notícia de que haveria um confronto entre integralistas e comunistas, sendo este boato alimentado por um panfleto distribuído pelos seguidores de Plínio Salgado, onde acusavam os componentes do 4º Batalhão de Caçadores de Comunistas. A passeata sobe a rua Batista de Carvalho, tendo a frente os Delegados de Polícia e integralistas, Elpidio Reale e Joaquim Rolim Rosa, portando as Bandeiras Nacional e dos Integralistas. Duarte ao ver a cena não se conteve, dizendo em voz alta:

“Isto não é possível. Eles são traidores da Pátria e não podem carregar a Bandeira Nacional, que é coisa sagrada”.

Imediatamente as bandeiras foram tiradas das mãos dos delegados e a da Ação Integralista lançada ao chão e queimada, tendo inicio um tiroteio, com o ferroviário e comunista Afonso Aranda, que posteriormente morreu combatendo o fascismo de Franco, na Guerra Civil Espanhola, sendo atingido de raspão na perna, tiro este disparado muito provavelmente por Nicola Rosica, que imediatamente foi atingido por um tiro, cuja procedência ninguém soube explicar, acabando por morrer e em conseqüência desta luta, mais uma vez Duarte acaba sendo preso.
Em 1934 ainda, ocorre por todo o Brasil a criação da ANL – Aliança Nacional Libertadora -, sendo que na cidade de Bauru a proposta para sua organização partiu do Sindicato dos Ferroviários da NOB e em seu lançamento já contava com a participação de membros da Legião Cívica 9 de Julho, militares do 4º Batalhão de Caçadores e de vários outros setores da sociedade, entretanto, Getúlio Vargas, vendo o crescimento vertiginoso da nova organização popular, resolve determinar o seu fechamento, sob a acusação de estar sendo controlada pelos comunistas. Confiavam os dirigentes aliancistas na realização de uma greve geral de protesto, com a conseqüente deflagração de um levante popular, o que não ocorreu e poucos setores ensaiariam isoladamente uma resistência e em Bauru, a Noroeste do Brasil parou por quatorze horas e diante da violência da repressão lançada sobre os grevistas não conseguiram manter o movimento. Para variar um pouco, inúmeros ferroviários foram presos: Luis Guiomede, Antonio Pellegrina, Antonio Açucena Maia, Estevão Gomes, Paulino da S. castro, dentre tantos outros.
Em março de 1941, Duarte era novamente preso e encaminhado para o Presídio Tiradentes, sendo posteriormente transferido para o Presídio da Ilha Grande, de onde tão-somente saiu com a Anistia Política de 1945, em 18 de Abril. Condenado a sessenta e oito anos de prisão, conquistava a liberdade e com a legalização do Partido Comunista, veio a colaborar para organizar o Diretório Municipal em Bauru, que tinha sua sede na Avenida Rodrigues Alves, em um imóvel de propriedade do Dr. Silvino Spíndola, que por ironia do destino era integralista, e nas paredes pintadas de verde do imóvel sobressaia a placa vermelha, com o desenho da foice e do martelo, e com a legalidade do Partido, começavam a surgir novas lideranças operárias em nossa cidade, como Antenor Dias, Arcôncio Pereira da Silva, Elias Calixto Bittar, Enéas Ildefonso Martins, Walter Martins, Julio Xavier, dentre tantos outros.
Com a prisão na Ilha Grande, onde conviveu com grandes lideranças marxistas brasileiras e dentre elas o líder baiano Carlos Marighella e tendo saído definitivamente da Noroeste, Duarte alçou vôos maiores dentro do Partido Comunista, dedicando-se em tempo integral a sua construção. Focalizamos a atuação deste líder ferroviário e comunista até o início dos anos 50, quando partiu para outras regiões do país, e deixando par trás um partido sedimentado e forte no centro oeste paulista. Duarte chegou ao Comitê Central do Partido Comunista e quando da criação do PcdoB, em inicio dos anos 60, acompanhou João Amazonas, Pedro Pomar e outros companheiros para a formação do novo partido. Preso novamente, quando da Ditadura Militar de 1964, permaneceu em presídios de São Paulo, Fortaleza/CE e Brasília. Viveu grande parte de sua vida na clandestinidade e passou dezessete anos nas masmorras das ditaduras que ousou enfrentar, em defesa de seus ideais e da liberdade do povo brasileiro. Português de nascimento costumava alardear por onde passava em vida legal que era de Bauru e sem dúvida alguma, muito embora fosse um ser humano polemico e controvertido, podemos afirmar sem medo algum de errar que foi um dos principais militantes comunistas surgidos na cidade de Bauru e responsável direto pelas atividades do Partido Comunista nesta região por quase três décadas.
Finalizando o esboço da história de José Duarte, entendo como de bom alvitre transcrever um trecho de seu depoimento na Auditoria Militar, no ano de 1973, quando já contava com 66 anos de idade e encontrava-se mais uma vez preso:

“que após a aplicação de métodos científicos que o interrogando classifica como sendo tortura, veio o mesmo a sofrer um desmaio que durou aproximadamente cinco horas; que o interrogando quando volveu a si, verificou que no Hospital das Forças Armadas, em Brasília; que veio a tornar a si quando era-lhe efetuado, em sua pessoa, um eletrocardiograma; (...) que quer esclarecer que, se pelo menos não servir para o processo, sirva para a história, que foi o interrogando encaminhado para este hospital com o nome trocado, ou seja, em vez de José Duarte, foi lhe atribuído o nome de José dos Reis e que após a recuperação, retornou ao Quartel da Policia Militar de Brasília, isto após quinze dias de tratamento...”.

Lendo o livro “José Duarte – o maquinista da história –“, do jornalista Luís Momesso, chegamos a achar que o velho Duarte aumentava um pouco a sua luta, mas ao lermos este trecho de seu depoimento na Auditoria Militar, comprovamos de vez a altivez, a dignidade e a seriedade deste histórico militante comunista. De Bauru para o Brasil, em toda a sua história de militância partidária mostrou coerência.
De se lamentar, que ao final de sua vida, acamado e com visíveis seqüelas decorrentes de um derrame celebral, sofreu outro baque e este definitivamente fatal para sua saúde. Os neocomunistas, aqueles que estavam e estão no comando do Partido Comunista do Brasil, dentre eles o Deputado Federal Aldo Rebello, abriram um processo de expulsão contra o velho militante, acusando-o de divisionista. José Duarte, que sofreu bravamente as torturas a ele impostas pela polícia política, não resistiu a este golpe que vinha justamente de onde considerava ser a sua segunda família e veio a falecer, deixando, entretanto seu nome inserido na galeria dos heróis da classe trabalhadora.

JOÃO HERNANDES

Um dos fundadores do PCB em Bauru e um dos principais arregimentadores de novos quadros. Coube a ele, recrutar o ferroviário José Duarte para os quadros do partido, com este se transformando em uma das principais lideranças marxistas-operárias do país. Ferreiro de profissão, estava sempre disposto a luta em defesa da classe trabalhadora e ao combate a classe dominante.
Trazia na testa uma cicatriz como lembrança de um coice de cavalo que havia levado ao ferrar o animal. Ao ser questionado sobre a dor que sentiu, costumava replicar:
" no és nada... peores son las patadas de la burguesía."
Como os filhos dos militantes de esquerda na cidade, notadamente os anarquistas, encontravam dificuldades para se matricularem nas escolas locais, pelo preconceito da classe dominante em relação às atividades políticas de seus pais, propôs aos companheiros a implantação da Escola Moderna, seguindo os preceitos de Francisco Ferrer y Guardia, que havia sido fuzilado em 13 de outubro de 1909, perseguido que fora até a morte pelo clero espanhol.
Anarquista por vocação ou hereditariedade, queria o aprimoramento cultural de seus filhos e os de seus companheiros, trazendo para Bauru o então renomado jornalista e professor Alexandre Cerchiai para a instalação da Escola Moderna, que foi a primeira do interior paulista.
Posteriormente, com a criação do Partido Comunista, foi um dos mentores para sua criação em nossa cidade.
JOÃO HERNANDES demonstrava a coerência e a coragem dos velhos militantes da classe trabalhadora, engajados na construção do Partido representativo dos proletários.

Um dos fundadores do PCB em Bauru e um dos principais arregimentadores de novos quadros. Coube a ele, recrutar o ferroviário José Duarte para os quadros do partido, com este se transformando em uma das principais lideranças marxistas-operárias do país. Ferreiro de profissão, estava sempre disposto a luta em defesa da classe trabalhadora e ao combate a classe dominante.
Trazia na testa uma cicatriz como lembrança de um coice de cavalo que havia levado ao ferrar o animal. Ao ser questionado sobre a dor que sentiu, costumava replicar:

" no és nada... peores son las patadas de la burguesía."

Como os filhos dos militantes de esquerda na cidade, notadamente os anarquistas, encontravam dificuldades para se matricularem nas escolas locais, pelo preconceito da classe dominante em relação às atividades políticas de seus pais, propôs aos companheiros a implantação da Escola Moderna, seguindo os preceitos de Francisco Ferrer y Guardia, que havia sido fuzilado em 13 de outubro de 1909, perseguido que fora até a morte pelo clero espanhol.
Anarquista por vocação ou hereditariedade, queria o aprimoramento cultural de seus filhos e os de seus companheiros, trazendo para Bauru o então renomado jornalista e professor Alexandre Cerchiai para a instalação da Escola Moderna, que foi a primeira do interior paulista.
Em 26 de Agosto de 1919, com certeza emocionado e com a consciência tranqüila, proferia o seguinte discurso na fundação da Sociedade da Escola Moderna:

“Camaradas:

A escola, como está organizada, tem como escopo fundamental, como único principio, ensinar a infância as idéias políticas, religiosas, econômicas e moraes, adquiridas dos antepassados, pelos homens que regem os destinos da sociedade contemporânea, aos quais está, aliás, confiada a tarefa de ministrar as gerações presentes, o pão do espírito, os elementos indispensáveis á a instrucção, ao desenvolvimento da intelligencia. Esses homens, eivados de preconceitos, procuram, em seu livros, em seus tratados, em seus methodos pedagógicos, aformar na creança, do pequenino ser, que mais tarde será o nosso representante na lucta pela existência, uma auto-sugestão mental, um phanatismo cego, pelos ídolos da burguesia decadente.
Não concordamos com esta escola que não forma homenns preparados para a vida. Na Hespanha, surgiram educadores preocupados com a verdadeira formação do caráter do homem que contestaram a escola que busca a degradação moral, material e scientifica, levada a effeito pelos philosofos da encyclopedia, que organizaram e definiram com clareza qual a origem. O desenvolvimento, a estabilidade, a esphera de acção, relativas a philosophia, á religião, á política, á sociologia, e finalmente, á sciencia, realizando a grande obra da classificação, determinando o principio fundamental de todas as manifestações do entendimento humano!
Entre esses homens irreverentes, surgiu Francisco Ferrer y Guardia, cujo senso pratico, até certo ponto, ultrapassou as fronteiras de nossa época, que, auxilliado pela collaboração sincera de vários sábios e artistas, fundou a Escola Moderna, a escola nova, a escola livre dos preconceitos e da rutina. Com uma escola desta índole, onde a infância pudesse exercitar o livre pensar, despertou a cólera da conservadora igreja católica com o clero hespanhol tendo fuzilado o mestre e sábio, apesar de tudo, a sua obra continua, em buscca daconquista da perfeição e da felicidade da espécie humana. E a partir de agora, nossas crianças terão uma escolla digna na nossa Bahuru”.

Posteriormente, com a criação do Partido Comunista, foi um dos mentores para sua criação em nossa cidade.
JOÃO HERNANDES demonstrava a coerência e a coragem dos velhos militantes da classe trabalhadora, engajados na construção do Partido representativo dos proletários e de proporcionar uma educação de qualidade aos seus filhos.

IRMÃOS PETIT: A SAGA DE UMA COSTUREIRA.

“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”.
Fernando Pessoa

Vou tentar escrever nas páginas a seguir, um resumo da história de três militantes do Partido Comunista do Brasil – PcdoB -: Jaime, Lúcio e Maria Lúcia Petit da Silva, filhos de uma adorável e doce mulher, dona Julieta Petit da Silva, que carrega no semblante a tristeza de não saber o paradeiro real das sepulturas de seus filhos Jaime e Lúcio, que tombaram mortos em confronto militar no Araguaia.
Da filha Maria Lúcia, ainda resta o consolo de ter tido sua ossada identificada e sepultada com dignidade no Cemitério Jardim do Ipê, na cidade de Bauru. Mesmo depois de descoberto os restos mortais da filha, a mãe em conjunto com os filhos sobreviventes – Laura e Clóvis -, trilharam um caminho de incertezas e agonia até que os peritos da UNICAMP confirmassem a identidade da guerrilheira morta em combate. Foi necessário localizarem na cidade de Duartina, o cirurgião-dentista Jorge Tanaka que havia tratado dos dentes da então jovem professora, para que este comparecesse na UNICAMP e reconhecesse na arcada dentária de Maria Lucia, uma coroa por ele implantada. Tão-somente após a presença deste dentista é que os peritos da universidade campineira vieram a confirmar a identidade dos restos mortais.
Para Maria Lúcia, a mãe e irmãos providenciaram sepultura digna e conhecida, onde podem reverenciar a memória do ente querido, que teve homenagens dignas de uma verdadeira heroína em seu velório, entretanto, dos cinqüenta e nove desaparecidos da Guerrilha do Araguaia, somente ela teve os restos mortais reconhecidos e ganhou o direito de uma sepultura conhecida. Os demais continuam sepultados em locais ignorados ou mesmo com seus restos mortais no aguardo de identificação.
Portanto, continua a luta desta destemida e humilde costureira, em busca do real paradeiro dos restos mortais de seus filhos Jaime e Lúcio, para que possa sepulta-los juntamente com a filha localizada, depois de uma persistente busca.
O mostrar o que poderia ter levado três irmãos a perseguirem um objetivo comum, o da luta contra um regime tirano e assassino, que não tolerava as manifestações da oposição.Morando em Duartina, Piratininga, Agudos, Iacanga e Bauru, estes jovens não possuíam envolvimento político-partidário e alimentavam um único sonho: o de poderem adentrar a Universidade. No centro-oeste do Estado de São Paulo, onde moravam com a família não existiam escolas públicas e a família não possuía recursos para manter os filhos em faculdades particulares, razão pela qual resolveram partir para as Minas Gerais, mais especificamente Itajubá, onde tentariam adentrar a Universidade Pública.
Obtiveram êxito, passando no vestibular e adentrando a faculdade, vendo o sonho se transformar em realidade, podendo estudar e um dia ajudar a mãe a aposentar a máquina de costura, com a qual completava a duras penas o orçamento doméstico.
Dentro da Universidade, conhecem de perto o outro lado da moeda.
A censura, a existência do malfadado Decreto 477, invenção do coronel e Ministro da Educação Jarbas Passarinho, hoje articulista “conceituado” do Estadão, que buscava amordaçar a classe estudantil, impedindo que externassem suas opiniões sobre a situação política de nossa pátria. Ficam sabendo que colegas estudantes que ousaram desobedecer às determinações governamentais, foram expulsos das universidades e presos pela polícia política, e uma vez encarcerados foram impiedosamente torturados, muitos até a morte, por serem considerados perigosos “criminosos de opinião”.
Jovens criados no então pacato interior do Estado de São Paulo, acostumados com a liberdade e a viver em constante contato com os amigos e familiares, tomavam conhecimento dentro da universidade de que ali a liberdade era restrita e de tudo poderiam falar, excetuando-se os comentários sobre a situação política do país e menos ainda, sobre a critica fase que o ensino brasileiro atravessava.
Porque não?
Essa era a pergunta que ficava perene na cabeça destes jovens ávidos em adquirir conhecimentos e poder aplica-los em benefício do povo brasileiro. Afinal, estavam cansados de ouvir que os jovens eram o futuro da nação e na qualidade de membros desta juventude, sentiam-se no direito de ter acesso a todas as informações sobre a situação política, econômica e educacional de sua pátria. Não poderiam jamais se considerar o futuro da nação, se lhes era proibido conhecer o presente e o passado de seu povo.
O governo ditatorial com suas medidas restritivas de liberdade de expressão e de opinião conquistava mais dois adversários, fazendo aflorar o espírito guerreiro de dois jovens do interior de São Paulo.
Jaime e Lúcio iniciaram a busca para entender por que era proibido questionar ou opinar, dentro de uma pátria que julgavam livre. Buscaram, até encontrar o Partido Comunista do Brasil e no então proscrito partido iniciaram sua militância política em busca da liberdade do povo brasileiro. Atuando no Movimento Estudantil, levando para o conjunto de estudantes as propostas marxistas do partido que defendiam como instrumento de lutas para a liberdade de nossa pátria. Lá nas Minas Gerais, começava a ser construída uma bela página de lutas, conquistas e derrotas dos Irmãos Petit.
Jaime, no ano de 1968 foi escolhido para participar do clandestino Congresso da União Nacional dos Estudantes, na cidade de Ibiúna, interior de São Paulo. Não vamos aqui, discorrer sobre o congresso e a sua frágil organização, facilmente descoberta pela repressão da ditadura, pois disto se encarregaram de tratar outras publicações. Preso, juntamente com tantos outros participantes deste encontro, no distante ano de 1968, o jovem acabou por ser condenado à revelia, a trinta meses de prisão, pela 2ª Auditoria Militar de São Paulo.
Acostumado com a liberdade, com o canto livre dos pássaros em sua terra, não lhe passava pela mente, a idéia de ficar dois anos e meio preso, pelo hediondo crime de ter tentado participar de um congresso representativo de sua classe, a classe estudantil.
O partido oferece uma alternativa que entusiasma o jovem Jaime. Estava montando um campo de treinamento de guerrilha rural, no Araguaia, para onde estavam enviando os militantes queimados e visados pela repressão. O trabalho inicial destes militantes, seria o de organizar as bases de apoio para a guerrilha rural que eclodiria quando do aumento da insatisfação popular nos grandes centros.
Estes jovens teriam que conhecer a mata e se aproximar de seus moradores, para tê-los ao seu lado, quando do inicio do movimento guerrilheiro em nossa pátria. Jaime, de pronto aceitou a proposta do Partido e entusiasmado com a idéia, acabou por recrutar a própria esposa, Regilaine; o irmão Lúcio e sua esposa Regilene e a querida irmã Maria Lúcia, professora primária de formação e bancária de profissão.
Família que luta unida, permanece unida!, deve ter sido o pensamento deste jovem militante comunista, ao se dirigir com os irmãos e cunhada para o campo de treinamento, localizado as margens do Rio Araguaia.
A esposa e a cunhada acabaram por não resistir a difícil vida na selva.
Regilene acabou sendo retirada pelos próprios companheiros, por estar grávida e sem condições de ali permanecer. Regilaine preferiu o outro caminho: o da deserção, entregando-se as forças policiais que ali se encontravam, na tentativa de capturar os aprendizes de guerrilheiros.
Ficaram Jaime, Lúcio e Maria Lúcia.
Três guerreiros destemidos gerados no ventre da corajosa Julieta. Eram três irmãos imbuídos de um mesmo ideal: a libertação do povo brasileiro.
Não tinham entre si divergências no modo de ser ou contrastes políticos para serem aparados, pois compartilhavam com orgulho incomum do mesmo pensamento. Fazer política por pura necessidade econômica não moviam estes jovens rumo a luta, pois como marxistas que eram, defendiam com ardor a implantação de uma sociedade igualitária.
Enquanto no campo, distante dos centros urbanos e dos olhos da repressão, o PcdoB implantava seu campo de treinamento de guerrilha, buscando organizar o povo faminto e criar rede de apoio para a luta contra a tirania, nos grandes centros urbanos, organizações revolucionárias, resolviam partir para o confronto contra as forças repressivas.
Duas táticas diversas entre si, que acabaram por convergir para o mesmo lugar: o fim e o desmantelamento das organizações e de seus planos, além do prejuízo incalculável da morte de dezenas de militantes contrários ao regime militar.
Dentre eles: Jaime, Lúcio e Maria Lúcia.
Corajosos e desprendidos filhos de Julieta.
Ousados e destemidos filhos do povo brasileiro.

FRANCISCO GOMES.

"Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçada continuarão glorificando o caçador".
[Provérbio africano]

Nascido em São Manuel, Estado de São Paulo, aos 09.09.1931, filho do ferroviário Benjamim Gomes e de Adélia Moreno Alvarez, órfão de pai aos quatro anos de idade, construiu uma das mais belas páginas de coerência e de luta revolucionária em nosso país. Metalúrgico da Cobrasma e posteriormente ferroviário da Estrada de Ferro Sorocabana, destacou-se na organização da classe trabalhadora para a defesa de seus direitos.
As informações a seu respeito nos arquivos da repressão policial/política são vastas, mostrando a preocupação dos agentes ditatoriais para com sua militância política e a necessidade, em sua ótica, de mantê-lo sob vigilância.
Militante do então clandestino Partido Comunista Brasileiro, fazia parte do Comitê Ferroviário do Partido e representava esta instância partidária junto aos Comitês Executivos da organização partidária. Tesoureiro da União dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana organizou e encabeçou diversos movimentos reivindicatórios da categoria profissional, tendo sido preso em Outubro de 1963, na cidade paulista de Assis, quando da realização de Assembléia da classe ferroviária em greve, foi recambiado para São Paulo, onde permaneceu detido no DOPS.
Por ocasião do golpe militar de 1º de Abril de 1964, foi destituído arbitrariamente de suas funções de Tesoureiro da entidade sindical e novamente preso. Demitido da Estrada de Ferro Sorocabana em Setembro de 1964, por força do Ato Institucional de 09 de Abril daquele ano, por Decreto do então governador Adhemar Pereira de Barros, foi trabalhar na Cooperativa de Consumo dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana.
Em 16.05.1965, foi novamente preso e liberado em 18.06.1965, tendo sido ouvido sobre sua participação na reestruturação do Partido Comunista Brasileiro.
Em 1967, deixou o Partido Comunista para junto com Carlos Marighela, Joaquim Câmara Ferreira e outros militantes, fundarem a Ação Libertadora Nacional. Saíram do Partidão, inconformados com a linha pacifica de luta contra a ditadura adotada pelo comando partidário. Buscou contatos com velhos camaradas ferroviários, buscando a cooptação de quadros para a nova Organização Revolucionária.
Beduíno ou Turco eram seus nomes de guerra dentro da ALN, respeitado pelos companheiros e temido pela repressão. Era o responsável pela segurança do companheiro Joaquim Câmara Ferreira, o Toledo, com quem dividia o mesmo "aparelho". Em final de 1969, inicio de 1970, deslocou-se para o Pará, onde seria um dos responsáveis pelo campo de guerrilha a ser montado pela ALN. Aguardou durante tempos a chegada de novos camaradas do sul do país e daqueles que retornariam do treinamento de guerrilha realizado em Cuba. Entretanto, a Organização já se encontrava esfacelada e com dificuldades monetárias para encaminhar novos militantes para a área.
Concomitantemente, a repressão espalhava cartazes com sua foto, tratando-o como terrorista perigoso, colocando sua cabeça a prêmio. Condenado à revelia a quinze anos de prisão, no processo nº 85/70, na 2ª Auditoria da Segunda Jurisdição Militar , viu-se na necessidade de sair do país, ante o esfacelamento da organização revolucionária e o cerco promovido pela repressão em busca de sua prisão, chegando inclusive a prenderem sua esposa, filhas e irmã, na busca incessante de seu paradeiro.
Exilou-se no Chile de Salvador Allende, onde trabalhou na área rural e menos de um ano de sua presença em território chileno, o golpe do General Pinochet derruba o governo socialista, trazendo apreensão aos brasileiros ali exilados.
Novo refúgio foi escolhido e na calada da noite pulou o muro da embaixada do Panamá, em Santiago, solicitando asilo político. Centenas de outros brasileiros, uruguaios, argentinos e chilenos, tiveram a mesma idéia, superlotando a embaixada panamenha. Depois de muitas discussões políticas, o governo Pinochet concordou com a retirada dos exilados da embaixada, tendo sido os mesmos conduzidos para o Panamá, onde cada qual escolheu o seu caminho, e Chico Gomes foi para Cuba, onde permaneceu até a promulgação da Lei de Anistia em Agosto de 1979.
Em sua permanência em território cubano, Chico juntamente com outros companheiros exilados, defendia o recuo na luta armada no Brasil para uma tentativa de unificação das esquerdas. Por tal atitude, era tratado com desconfiança pelos anfitriões, que iludidos por relatos ufanistas de outros brasileiros, entendiam que o povo brasileiro tinha condições de se organizar e derrotar a ditadura.
A história deu razão para Chico e seus companheiros.
Retornou para o Brasil em 07.09.1979, juntamente com Argonauta Pacheco, que havia sido trocado pelo embaixador americano, servindo como “boi de piranha" para os demais companheiros exilados em Cuba e com a finalidade de verificar se a Anistia era verdadeira.
Radicou-se em Sorocaba, interior de São Paulo, onde veio a ser um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores.
CHICO GOMES, o Turco ou Beduíno merece justificadamente ter sua história resgatada, como defensor intransigente da classe trabalhadora e da liberdade do povo brasileiro.

FRANCISCO ANTONIO GOMES NETTO

"Para o mundo subdesenvolvido, o melhor remédio consiste em investir no povo, e não entregar suas riquezas".
(Barbosa Lima Sobrinho)

Dr. Gomes Netto, era considerado pela policia política de Bauru como uma das principais lideranças políticas da cidade, no pós-golpe de 1964, sendo certo que a policia era municiada com informações fornecidas pelo promotor público Silvio Marques Junior, seu desafeto pessoal.Interessante se frisar, que seu nome era arrolado em informações secretas enviadas para São Paulo juntamente com os nomes de lideranças operárias que jamais tinham ouvido falar em seu nome. Ainda hoje em dia, conversando com antigos militantes do Partido Comunista Brasileiro, estes não se recordam deste ilustre magistrado como militante do Partidão, como era cantado em prosa e verso pela polícia bauruense, notadamente pelo investigador de policia Carlos Rossa Netto, mais conhecido como papagaio de estimação de Silvio Marques Junior, sendo que o próprio Carlos Rossa faz menção em seu relatório de 22/01/1965, de que a maior parte das informações haviam sido fornecidas pelo “gorila” Marques Júnior.Como pode um agente policial elaborar um relatório que sabia estar comprometendo a liberdade e colocando em risco a vida de um ser humano, baseando-se tão somente nas informações prestadas por um seu desafeto pessoal, mesmo frisando hoje, que as informações fornecidas pelo desafeto e encaminhadas pela policia bauruense, em nada denegriam ou denigrem a figura humana do Dr. Gomes Netto. Alardeavam que certa vez, como Juiz de Direito da comarca de Camanducaia, em Minas Gerais, absolveu um individuo acusado de praticar um pequeno furto, pois em sua opinião, ladrões maiores roubavam o país e, no entanto o governavam, conseqüentemente mantendo-se em liberdade, não sendo nada mais justo, que um pequeno ladrão pudesse igualmente usufruir da mesma regalia.
Os “gorilas” da FAC resolveram realmente imiscuir-se na vida do Dr. Gomes Netto, desde os tempos em que fora Juiz de Direito nas alterosas, conseguindo descobrir um livro que o mesmo escrevera no ano de 1952, com o título “O crime de Araguari”, que com certeza refere-se ao famoso caso dos “Irmãos Naves”, um dos maiores erros conhecidos do Judiciário Brasileiro, todavia, dentro das conhecidas limitadas condições culturais dos membros da FAC, obviamente este livro imediatamente foi tachado de literatura subversiva, por ter quem sabe, a capa vermelha, já que a miopia intelectual dos seguidores de Marques Junior, era evidente.
Dr. Gomes Netto lecionou Direito do Trabalho, na Faculdade de Direito de Bauru, da Instituição Toledo de Ensino, sendo certo que o Serviço Nacional de Informações, por intermédio do oficio número 164/65, assinado pelo chefe do serviço no Estado de São Paulo, General Agostinho Teixeira Cortez, alertava a direção da escola, de que o professor era “comunista ativista”, e recomendava para que a escola adotasse as cautelas necessárias. Estas “cautelas necessárias” era a determinação para que o mesmo fosse demitido.
No ódio que nutria por seu desafeto, e sabedor que suas atividades escusas estavam sendo investigadas pela Polícia Federal e pelo Exército, Silvio Marques Júnior virou-se igualmente contra o então chefe da 6ª CR, Capitão Alcides Expedito de Campos, a quem acusava de ser ajudante de ordens do juiz e professor Gomes Netto.
Em Março de 1966, deixava de lecionar na Faculdade de Direito de Bauru, demitido em decorrência das pressões exercidas pela FAC e em 14 de março, o Dr. Walter de Castro, Delegado Regional de Bauru enviava telegrama sobre o acontecido para seus superiores em São Paulo, avisando que enviaria relatório pormenorizado posteriormente.
A perseguição orquestrada contra este Juiz de Direito e Professor de Direito do Trabalho, demonstra claramente como era desonesta a postura dos gorilas da FAC, posteriormente denominada de GANG, pelos próprios organismos repressivos, aos quais alimentava de informações infundadas.

EDSON SHINOHARA

“Tudo nos falta quando nos faltamos.”
Goethe

Estudante da Faculdade de Odontologia de Bauru, e membro do Centro Acadêmico, foi preso por determinação direta do sr. Silvio Marques Júnior, presidente de honra da Frente AntiComunista. Um dos poucos bauruenses a apanharem no momento da prisão, no pós-golpe, levando coronhadas de membros da FAC.
Permaneceu preso na Cadeia Pública local, demonstrando interesse em conversar com as lideranças sindicais da cidade que se encontravam igualmente presas. Sempre era ofendido moralmente pelo caçador de gorilas e seus asseclas, que constantemente adentravam ao recinto da Cadeia para ofender os presos políticos, entretanto, demonstrava seu desprezo para com seus algozes com o silêncio, mesmo sendo provocado para revidar os xingamentos.
Morto precocemente, foi um dos melhores quadros surgidos no Movimento Estudantil bauruense naquele período que antecedeu o golpe militar de 1964, colaborando de forma decisiva para o avanço das lutas populares naquele período.

ARISTEU FRANCO DE SOUZA

"Como direita continuo a considerar aquelas forças que se põem a serviço dos interesses das pessoas satisfeitas. Os outros, os que se sentem e agem do ponto de vista dos pobres, dos danados da terra, são e serão sempre à esquerda".
Emir Sader, jornalista.

Nascido em Pirassununga, Estado de São Paulo, aos 07 de Julho de 1912, filho de Francisco Franco de Souza e de dona Maria Franco de Souza. Mudou-se para Assis, onde trabalhou durante muito tempo como veterinário do Ministério da Agricultura, sendo militante ativo do Partido Comunista Brasileiro, estando sempre a frente das mobilizações populares organizadas pelos comunistas, e com isso, atraindo para si, implacável perseguição policial, que mapeava seus passos e atividades políticas desenvolvidas.
Em Maio de 1953, foi acusado pelos agentes policiais de Assis, de ter organizado um espetáculo teatral no Teatro Ambulante Politeama Irmãos Martins, com a finalidade de arrecadar fundos para a chamada imprensa popular. Em março de 1953, foi acusado pelo Delegado de Policia de Assis, senhor Andréas Aranha Schimidt, de organizar Convenção Municipal pela Emancipação Nacional, anunciando as presenças dos notórios comunistas: Eusébio Rocha, Juarez Guizard, General Leônidas Cardoso e Delamare Machado da Silva. No dia da convenção, estava presente o Sr. Francisco Franco de Souza, pai de Aristeu, que foi fichado como comunista ativo na cidade de Pirassununga. Em 12 de Dezembro de 1953, o mesmo Delegado, informa seus superiores que Aristeu e José Fleury Correia, o Tio João, estavam sendo processados naquela comarca, com fundamentação legal no Decreto Lei 431 de 18.05.1938 e Lei 1802 ( Lei de Segurança Nacional), de 05 de janeiro de 1953, em conformidade com denúncia apresentada pelo Promotor Público Geraldo Chad, que os acusava de realizarem atividades para propagação dos ideais comunistas naquela cidade. Sendo certo que o Juiz de Direito, Bruno Afonso de André, aos 25 de Junho1953, absolveu-os, principalmente pelo fato de o promotor público ter embasado sua denuncia no Decreto Lei 431, que se encontrava já revogado.
Aos seis de novembro de 1954, foi acusado de ter coordenado uma campanha com a finalidade de arrecadar cigarros para os jornalistas do Hoje em notícias, jornal legal do Partido Comunista Brasileiro. Muitos dos relatórios contra Aristeu eram assinados pelo Investigador de Polícia, Joaquim Gusmão Filho, que além deste, arrolava igualmente como comunista perigosa, a sua companheira Anália do Prado Galdino. Preso novamente quando da eclosão do Golpe Militar de 1º de Abril de 1964, foi transferido para o DOPS/SP, onde permaneceu preso por praticamente dois meses.
Aristeu jamais se acovardou ou deixou de defender os ideais em que acreditava, tornando-se um exemplo de dignidade humana, solidariedade e amigo, nunca se acovardando ante as intempéries da vida, e ao lado de sua esposa, sempre esteve ao lado dos oprimidos e explorados de Assis e região.

ARTHUR SOARES

“Para nosotros, la Patria es la América”
Simon Bolívar, 1814.

Ferroviário da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, militante da Associação Profissional dos Ferroviários da NOB, radialista e seresteiro. Sem maiores implicações com a militância política, sem pertencer ao Partido Comunista, acabou por ser levianamente denunciado no pós-golpe de 1964, permanecendo preso por quinze dias na Cadeia Pública de Bauru. Amigo, solidário, leal, continuou na cidade, sempre passeando pelo centro da cidade, com seu conhecido paletó. Ria muito, quando era lembrado da prisão e afirma que esta serviu para que lhe fornecessem um Atestado de Boa Conduta, pois reviraram sua vida de pernas para o ar, e nada encontraram que pudesse vir a compromete-lo em atividades do então proscrito Partido Comunista Brasileiro. Muito embora, denunciado indevidamente para a polícia política, merece estar na galeria dos heróis anônimos da cidade de Bauru, pelo seu altruísmo, senso de humanidade e de amizade. Não era e nunca foi comunista, mas era um grande amigo. Perseguido e preso indevidamente, por obra dos eternos inimigos da classe trabalhadora, naquele momento político encarnados na FAC – Frente Anti-Comunista.

Dr. ANSBERTO RODRIGUES PASSOS.

“O verdadeiro revolucionário é guiado por grandes sentimentos de generosidade; é impossível imaginar um revolucionário autêntico sem esta qualidade”.
Che Guevara

Os olhos dos velhos militantes ainda brilham de emoção quando o nome do Dr. Passos é lembrado, e todos que com ele conviveram recordam-se do médico que fez da medicina um sacerdócio e do marxismo uma profissão de fé.
Amigo, leal, sincero, solidário e humano, marcou presença no seio do movimento popular de nossa cidade, sendo que, desde meados da década de 30, encontramos referencias ao seu nome e sua incansável atuação solidária para com os defensores da classe trabalhadora.
Ora locomovendo-se até Guarantã para atender gratuitamente o líder ferroviário José Duarte, ora participando de entidades que aqui se criavam. Liga cívica 5 de julho, movimento contra a carestia, e todos aqueles que ocorriam em nossa cidade e que sempre contavam com a presença marcante dos comunistas, tendo participado do diretório municipal do PCB, durante seu curto período de legalidade, na década de 40. Foi diretor de secretaria da Cruzada Humanitária pela proibição de bombas atômicas, sendo que a entidade ainda contava com a participação do dr. Mario Mattozinho, como 1º secretário. Dr. Mattozinho era então vereador pelo Partido Socialista Brasileiro – PSB – em nossa cidade. Isto no ano de 1951.
Foi um dos que convocaram a Convenção pela Paz e pela Defesa da Cultura Nacional, no ano de 1952, quando o comício cuidadosamente preparado, foi violentamente reprimido pela polícia política, sendo que a convenção acabou sendo realizada de forma clandestina, na residência de Delamare Machado da Silva, na rua 7 de Setembro nº 2-36, sendo que a reunião foi efetivamente clandestina e contou com elementos de confiança, pois a polícia não descobriu e não enviou informações inverídicas para São Paulo, sendo certo que após 47 anos, um dos participantes da convenção clandestina, nos confirmou a realização da reunião, nas barbas da repressão. E lá estava firme o dr. Passos, que desde os anos 30 era considerado como perigoso comunista pela repressão bauruense.
Quem o conheceu, com certeza dará muitas risadas ao saber que o pacato, humano e solidário Dr. Passos era perigoso, na opinião da repressão.Deixando de militar no PCB em meados da década de 60, jamais deixou de oferecer sua ajuda, quer profissional, quer financeira aos antigos companheiros de ideologia política. Atendia a todos indistintamente e temos conhecimento de que muitas vezes, além de clinicar gratuitamente, ainda acabava comprando para o paciente, os remédios que receitava. Era tratado com respeito e consideração pelos militantes comunistas de nossa cidade, que o tinham como companheiro e aliado sincero, honesto e leal para as horas de dificuldades. Escreveu sua história em nossa cidade, como diretor do Posto de Saúde, do Instituto Adolpho Lutz e como militante histórico do Partido Comunista, transformando-se em uma verdadeira legenda e ponto de referência das lutas que buscavam a libertação do povo da opressão e da miséria. Muita coisa poderia ser dita sobre a figura humana e política do dr. Passos, mas temos a certeza de que estas linhas servirão para relembrá-lo, deixando claro que todas as lutas políticas travadas nesta cidade de meados dos anos 30 até final dos anos setenta, ou contaram com sua participação efetiva ou ao menos, com sua efetiva solidariedade. Embora médico, foi um dos personagens da luta operária em nossa cidade. ANSBERTO RODRIGUES PASSOS tem que ter um lugar de destaque na galeria dos "guerreiros anônimos" de nossa cidade.

DR. ALIPIO GONÇALVES DOS SANTOS

“Só temos o direito de ter esperança no futuro se formos capazes de ter confiança em nós mesmos, no presente.”
Augusto Boal, idealizador do Teatro do Oprimido, presente em dezenas de países.


Dr. Alípio era médico em Bauru e participava intensamente dos movimentos sociais que ocorriam na cidade e região. Logicamente por esta participação ao lado de trabalhadores, tinha seus passos vigiados pela polícia política, que elaborava relatórios circunstanciados sobre seus passos, sendo que para o Dr. Appio Moreira Prattes, delegado do DOPS, Dr. Alípio era um perigoso comunista que precisava ser monitorado.
Candidato a vereador em 1951, pelo Partido Trabalhista Nacional – PTN -, a nobre e ilustre autoridade policial imediatamente informou a São Paulo que referida legenda estava sendo ocupada pelos comunistas, em virtude de seu partido estar colocado na clandestinidade, e dentre os comunistas nominados como infiltrados no PTN, lá estava o do saudoso Dr. Alípio. Na realidade, era altamente preocupado com as questões sociais e por razões humanitárias conseguiu arrumar um emprego para a senhora Amélia Auradelli, companheira do camarada Alberto de Souza, como copeira do então Sanatório Manoel de Abreu.
Dr. Alípio conseguiu renome dentro da medicina, trabalhando com dignidade e alto senso de humanidade e isto incomodava a repressão que via na atividade profissional do diligente médico, sempre preocupado com a desigualdade social, o perigo iminente da profusão das causas marxistas.
Coisas da repressão.

AFONSO ARANDA

"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora a fazer um novo fim".
Chico Xavier


Espanhol e guarda-chaves da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, e um dos fundadores do PCB na cidade de Bauru, e mesmo sendo operário era ligado as artes costumando reunir-se com pessoas amigas em sessões de leituras de poemas, peças de teatro e outras do gênero.
Foi um dos pivôs do confronto entre comunistas e integralistas na rua Batista de Carvalho, no ano de 1934, quando da visita do líder nacional integralista Plínio Salgado, ocasião em que uma bala disparada pelos integralistas matou um cachorro e a outra atingiu uma perna de Aranda. Na seqüência foi morto o integralista Nicola Rosica. Da morte do integralista, a direita até hoje chora suas lágrimas. Da perna de Aranda, e do inocente cachorro, alheio a briga dos humanos, propositadamente esquecem. Como sempre, a historiografia oficial trata deste assunto com a finalidade de demonstrar a extrema “violência” comunista.
Posteriormente, Afonso Aranda desligou-se da Estrada de Ferro Noroeste, quando da implantação da ditadura de Franco em sua terra natal, indo se incorporar as tropas rebeldes, participando ativamente da Guerra Civil Espanhola, na tentativa de derrubar a ditadura franquista.
Morreu em combate, na defesa intransigente da liberdade de seu povo, entretanto seu nome é sempre lembrado pelos velhos militantes que restam vivos e pelos que admiram a cultura na cidade, outrora Sem Limites, que se lembram dos “saraus” de poesia, realizados na casa do espanhol, na Vila Falcão. É mais um militante da classe trabalhadora, que merece uma pesquisa mais completa sobre suas atividades e principalmente, sua militância em defesa da classe trabalhadora, militância esta que resultou em diversas conquistas, que hoje são esquecidas tanto pelos sindicalistas como por aqueles que ainda dizem ser de esquerda.

ADOLPHO SIMÃO RASI

"Um homem se humilha / Se castram seu sonho / Seu sonho é sua vida / E vida é trabalho / E sem o seu trabalho / Um homem não tem honra / E sem a sua honra / Se mata, se morre".
Gonzaguinha

Foi um dos precursores do Partido Comunista na cidade de Bauru, tendo sido antes da criação do Partido, anarquista convicto, e um militante político preocupado com as condições de vida do povo brasileiro, reunindo-se costumeiramente em primórdios do século passado, com outros companheiros anarquistas da cidade, igualmente preocupados com a Paz Mundial e com o desfecho da 1ª Grande Guerra Mundial.
Duas passagens servem para ilustrar sua rica e intensa militância política.
Quando o Prefeito Municipal, Sr. Manoel Bento Cruz, em confronto com a Igreja Católica, resolveu demolir a Igreja Matriz que se encontrava construída fora do alinhamento, estando a bloquear a rua principal da cidade, os funcionários públicos municipais recusaram-se a cumprir suas ordens, por entenderem que este trabalho era um pecado, e poderiam vir a ser punidos pela fúria divina.
Os funcionários municipais parados, sem realizar a demolição determinada pelo Prefeito, quando alguém teve a brilhante idéia de sugerir que os anarquistas fossem convidados a realizarem o trabalho, sendo que Rasi e seus companheiros de pronto aceitaram a tarefa, vendo nesta tarefa um belo exercício prático.
Entretanto, ao derrubarem a porta da entrada da Igreja, depararam-se com o altar e suas imagens. Antes de prosseguirem na tarefa aceita, retiraram cuidadosamente as imagens sacras do interior do templo e as depositaram na calçada defronte.

- Vocês não vão quebrar as imagens dos santos? , perguntou um curioso.
- Não. São obras de arte e nós anarquistas respeitamos toda e qualquer manifestação artística, teria respondido Rasi.

Toda e qualquer ordem para prisão dos comunistas atuantes na cidade, continham o nome do italiano. Certo dia estava a cuidar de suas parreiras de uva, na propriedade rural de sua propriedade, quando chegou a polícia.

- O senhor está preso, Sr. Adolpho!
- Por qual motivo?
- Por causa de suas idéias!
- Façam-me o favor então. Levem minhas idéias presas e deixem-me a trabalhar.

Adolpho Simão Rasi, foi um dos grandes esteios na luta pela democracia e pela liberdade em nossa Pátria, tendo sido um dos fundadores do PCB na cidade de Bauru e um de seus organizadores pelo centro oeste paulista.
Seu nome está imortalizado no prédio do SESC/Bauru.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

DISCURSO DE IVAN SEIXAS NA REINAUGURAÇÂO DO MEMORIAL DA RESISTÊNCIA.

Este Memorial destaca o papel da Resistência na defesa dos valores democráticos. Por isso foi reformado e devolvido ao povo brasileiro. Só quem tem sensibilidade política e histórica pode dar ouvidos ao reclamo das pessoas que por aqui passaram. Esta reforma resgatou o importante documento histórico que é este prédio.
Podemos bradar bem alto que nosso esforço de reconstruir a história é vitorioso, como vitoriosas são as pessoas que lutaram por Democracia e Liberdade. Outra vez vencemos. Mais uma vez as forças da escuridão, que tentaram apagar as pistas dos crimes cometidos contra o povo brasileiro, foram derrotadas. A abertura deste monumento histórico mostra isso.
É sempre bom lembrar que desde o primeiro momento, quando as luzes se apagaram, as vozes da resistência começaram a gritar contra a ditadura mais sanguinária que o país conheceu. Alguns foram gritos de indignação, outros foram gritos organizados. Nunca foram calados. Mesmo quando alguns foram transformados em gritos de torturados, ainda assim denunciavam a ditadura e lutavam por Justiça, Liberdade e Democracia.
Há quarenta anos atrás, neste mesmo dia 24 de janeiro, a ditadura foi desmascarada por um militar. Neste dia, o Capitão Carlos Lamarca denunciou a ilegalidade do regime de terror e os crimes de seus colegas de farda e se juntou à luta das Organizações revolucionárias clandestinas. Os golpistas e torturadores nunca o perdoaram por esse ato, do mesmo modo que nunca perdoaram o ex-deputado Rubens Paiva que denunciou o IPES como um antro de golpistas, que havia criado um serviço secreto particular para perseguir as pessoas fiéis à Democracia e contrárias ao golpe. Ambos foram perseguidos e assassinados pelos carrascos da ditadura em 1971.
A atitude de resgatar este velho prédio e transformá-lo num símbolo de resistência é a manifestação de quem luta pela Democracia e não quer esconder nossa história. E nem apagar as pistas de sangue deixadas por carrascos impunes até os dias de hoje.
Não há como negar que o Memorial da Resistência é mérito das lutas insistentes do Fórum dos ex-Presos e Perseguidos Políticos e das várias entidades, que rejeitaram o estranho Memorial da Liberdade e defenderam o conceito de Memorial da Resistência. Mais lógico e mais sensato.
Por justiça, fazemos questão de salientar que o atual Governo do Estado mostrou seu compromisso democrático e a determinação de revelar esse prédio como centro de torturas e assassinatos, sem esconder a verdade e sem mascarar a realidade. Nisso o secretário João Sayad e o diretor da Pinacoteca, Marcelo Araújo, tiveram papel decisivo e fundamental. E o governador José Serra garantiu que tudo acontecesse.
Para cumprir seu papel histórico e didático, no entanto, o Memorial da Resistência deve ter um destino militante. Projetos e programações a devem sensibilizar a sociedade sobre a importância da luta pela Anistia, a Justiça de Transição e os Direitos Humanos para a Democracia. Para nós do Fórum dos ex-Presos e Perseguidos Políticos, o objetivo maior é completar a transição democrática, consolidar e aprofundar a Democracia.
Devemos usar os danos causados pela ditadura como instrumentos para fortalecer nossas instituições. Que eles ajudem o Estado Brasileiro a ter vontade política e ações na defesa do direito à Memória, Verdade, Justiça e Reparação. E que sirvam de base para a construção de uma verdadeira Democracia, que garanta os direitos fundamentais e uma vida digna ao povo de nosso país.
No ano de 2008 houve a união de entidades, personalidades e autoridades na luta comum pelos Direitos Humanos em defesa da Democracia. Fizemos nossa parte ao criar uma articulação nacional das entidades dos atingidos, em defesa da transição completa para a democracia. A CBA-Brasil, Coordenação Brasileira pela Anistia, reúne entidades dos atingidos e de defesa dos direitos humanos de todo o país, com a preocupação de participar do grande debate que se trava sobre os Direitos Humanos. Queremos também fazer frente à investida da direita mais retrógrada de nosso país, que não dorme e não se cansa de procurar as trevas como cenário para seus atos. Mais que isso, apoiamos as iniciativas em defesa do povo e da democracia.
Vemos com preocupação o presidente do Supremo Tribunal Federal se transformar no porta-voz das forças do atraso e da defesa dos torturadores dos tempos da ditadura. Por outro lado, aplaudimos a ação dos Procuradores Federais Marlon Weichert e Eugênia Fávero na luta incansável pela responsabilização dos torturadores.
Do mesmo modo, apoiamos os ministros Paulo Vannuchi e Tarso Genro que iniciaram o debate sobre a punição aos torturadores. Este último deu ainda uma demonstração de grandeza e soberania nacional ao dar asilo político a um militante de esquerda ameaçado de retaliação pelos neofascistas italianos.
O ano de 2009 é rico em simbolismos para a recuperação de nossa História. Em agosto, comemoraremos os 30 anos da Lei de Anistia, que não foi ampla, geral e irrestrita como queríamos e o país necessitava, mas foi uma importante derrota do regime de terror, que teve de ceder os anéis para não perder os dedos. Temos muito o que comemorar nessa data.
No entanto, lembraremos os 45 anos do golpe de 64 contra a democracia e os quarenta anos da criação da famigerada e infame Operação Bandeirante. Lembraremos que há quarenta anos João Cândido, o Almirante negro, morria na miséria e a ditadura assassinava Carlos Marighella. E que a repressão política executou o operário Santo Dias da Silva há 30 anos. Nunca esqueceremos disso.
Nosso compromisso de não esquecer e cobrar punição para os torturadores dos tempos da ditadura tem um motivo muito claro. A impunidade desses agentes do Estado é um incentivo a prática de torturas e assassinatos pelos agentes atuais. A tortura em órgãos policiais e instituições militares, o assassinato e a violência contra pessoas pobres, principalmente jovens, são uma triste realidade da atualidade.
A sociedade brasileira, as instituições democráticas e o Estado brasileiro, precisam sinalizar com clareza que não aceitam esses crimes de lesa-humanidade, apurando a Verdade histórica, única garantia da consolidação da Democracia e de construção de um futuro melhor.
Temos como tarefa a realização, neste ano, de nosso Congresso Nacional dos Atingidos para que os perseguidos falem por suas próprias vozes. Será um encontro para mostrar todos os crimes da ditadura, os traumas, as seqüelas sociais e denunciar as práticas autoritárias que perduram até hoje.
Acreditamos que o governo estadual e o governo federal se juntarão para dar apoio e suporte a essa nossa iniciativa, pois esse assunto está acima de disputas partidárias. A ditadura atingiu a todos nós brasileiros e democratas. A transição democrática incompleta exige o esforço de todos comprometidos com a Democracia e os Direitos Humanos. Não há partidos nessa luta. Não há argumento ou desculpa para quem se coloca contra ou sabota essa luta.
Nunca é demais lembrar que acreditamos na democracia e no futuro de nosso país. E nossa aposta é na juventude. Ela, que foi muito maltratada pela ditadura, que perdeu sua liberdade de participação, organização e manifestação, ainda é maltratada hoje. O flagelo das drogas, a violência contra crianças e jovens, a despolitização da vida brasileira, o ensino precário e alienante completam o serviço iniciado pela ditadura anti-nacional e anti-povo.
O compromisso dos atuais governos e governantes com o projeto democrático deve ser o resgate da força da juventude e o incentivo do pleno direito de organização, participação e manifestação dos jovens. Tanto o governador José Serra, que teve sua vida estudantil interrompida pelo golpe de Estado, quanto o governo federal, repleto de ex-militantes contra a ditadura, tem condições e o dever de incentivar a participação e a transformação da juventude de hoje em adultos defensores da cidadania.
O Fórum faz sua parte. Em 2008, realizamos várias palestras e visitas guiadas pelas celas e corredores deste prédio, com estudantes de todos os níveis. Em todas essas ocasiões, incentivamos a reflexão sobre os fatos e a conclusão de que é possível a construção de um mundo melhor. Queremos fazer dessa experiência um sucesso e uma referência nacional, com a participação de mais adolescentes, jovens secundaristas e universitários, da capital e do interior do estado.
Convidamos as autoridades do Estado e da União a formarmos uma frente em defesa de uma juventude lúcida, consciente e pronta para o exercício da cidadania. Precisamos que as duas esferas de governo deixem claro seu apoio e participem de nosso Projeto para os jovens no Memorial da Resistência. Para que muitas outras palestras, debates e atos em defesa da vida aconteçam neste espaço ora inaugurado.
Queremos também o apoio e suporte de todos os presentes e de todas as esferas de governo para a realização de nosso Congresso Nacional dos Atingidos pela ditadura.
Por último, queremos expressar nosso agradecimento ao pessoal que se empenhou na realização e execução das obras de reforma desse espaço, criando um centro de referência sem igual no país. Nossas amigas professoras Maria Luiza Tucci Carneiro e Cristina Bruno, a museóloga Katia Filipini, a historiadora Caroline Grassi, os muitos operários dedicados ao projeto e o diretor da Pinacoteca, Marcelo Araújo, que acompanhou todos os passos da reforma de perto e pessoalmente.
Nós, lutadores da liberdade, temos um compromisso com a História, um compromisso que não se finda. Nossa preocupação com os pobres de nossa terra, com a soberania nacional e com nossa juventude nos fez enfrentar o dissabor de voltar a este espaço, onde sofremos torturas de toda ordem, para cumprirmos nossa obrigação com o país, com a história e com o futuro. Estamos todos de parabéns. Cumprimos nossa tarefa revolucionária e nosso papel solidário.
Para que nunca mais aconteçam as ditaduras e que o futuro seja melhor para nosso sofrido povo.
PELO FIM DAS TORTURAS!
DITADURA NUNCA MAIS!
VIVA A DEMOCRACIA!

DEFESA DE SILVIO MARQUES JUNIOR

A GAZETA de 09 de Março de 1964

VIBRANTE A CONCENTRAÇÃO DA FAC

PARTE DE BAURU NOVO BRADO DE ALERTA CONTRA O COMUNISMO

Bauru, 21 de Abril de 1964

EXMO. SR.
MARECHAL HUMBERTO DE ALENCAR CASTELO BRANCO
DD. PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PALÁCIO DA ALVORADA
BRASÍLIA
DISTRITO FEDERAL

Senhor Presidente:

Na oportunidade das comemorações do 1º Aniversário da Revolução de 31 de MARÇO, movimento vitorioso que impediu fosse o Brasil transformado em mais um satélite do comunismo internacional, a FRENTE ANTICOMUNISTA, mais conhecida como “FAC”, deseja cumprimentar V. Excia. e formular os melhores votos felicidades.
A “FAC”, senhor presidente, é uma organização sem coloração político partidária, religiosa ou racial e que por ocasião do movimento revolucionário contava com 23 mil homens prontos para lutar em defesa da democracia. Não era pequeno também o número de legionárias, não menos dispostas a luta em defesa do regime de liberdade, único compatível com a dignidade humana.
Hoje, embora confiantes na honradez, patriotismo e dicernimento de V. Excia., por julgarmos que ainda há serio perigo a ameaçar o Brasil, continuamos em atividades e desenvolvemos uma campanha para elevar nossos efetivos a cem mil legionários. Todos os nossos legionários, entretanto, estão prontos para colaborarem com V. Excia., em tudo quanto diga respeito ao aprimoramento, defesa e progresso do regime democrático no Brasil.
Pedimos vênia, nesta oportunidade, para a titulo de colaboração desinteressada e sincera, tendo-se em vista as dificuldades econômicas do momento, apresentar a sujestão de que seja executada uma campanha de esclarecimento popular não só para mostrar ao povo a superioridade do regime democratico sobre o regime comunista, mas também para demonstrar que os sacrifícios que o Governo honrado de V. Excia., hoje exige dos brasileiros serão compensados em um futuro próximo.
Nessa campanha que sugerimos, podemos colaborar, o que ficará na dependência de futuros entendimentos, no caso de vermos acolhido nosso ponto de vista.
Reiterando nossos votos de felicidades, pedindo ao bom DEUS que ilumine e ampare V. Excia., assim como a todos os que sinceramente colaboram com o governo de V. Excia, apresentamos nossas

Saudações Democráticas

Silvio Marques Junior
Presidente Nacional.



Processo nº 5247/66

SENHOR PROCURADOR:


Em obediência ao r. despacho de V. Excia., que houve por bem determinar que eu fosse ouvido e, antes de arquivar-se o processo, oferecesse detalhada explanação sobre os fatos que tratam os autos, passo a exposição.
Em primeiro lugar, farei uma rápida explanação do que vem a ser a “FAC”, tantas vezes referida nos depoimentos inclusos.
Em 1962, quando na Faculdade de Direito de Bauru, onde leciono, assisti os comunistas tomarem contam do então Centro Acadêmico “9 de Julho”, usando para isso, de seus métodos prediletos: a falsidade, a ameaça e a desonestidade. Verifiquei então que tinha o dever de como brasileiro e cristão, mais uma vez, fazer algo em defesa do Brasil e do regime democratico.
Resolvi, assim, fundar a “FAC”, FRENTE ANTICOMUNISTA, que teve seu berço neste estabelecimento de ensino superior e se destinava, de início, a lutar contra os comunistas ali existentes. A luta foi iniciada através de uma campanha em que escrevia eu diariamente pelos jornais e realizava conferencias.
Em 24 de Agôsto de 1963, porém, fazia a primeira reunião pública com um grupo inicial de colaboradores. Essa reunião foi levada a efeito no Colégio Guedes de Azevedo, de Bauru. Fundada estava, então a primeira Legião da FAC, e ficou decidido que na medida do possível iria eu atender os inúmeros convites que me chegavam e iria instalando outras legiões da FAC, uma em cada município.
Não tínhamos como não temos outra aspiração senão a de defender o Brasil, assim como não tínhamos e não temos nenhuma coloração política, religiosa ou racial.
Nossas campanhas eram inicialmente unicamente contra os comunistas, mas posteriormente foram dirigidas contra os corruptos, uma vez que achamos que a corrupção é como um adubo onde viceja o comunismo.
Para melhor atingirmos nossos objetivos, uma vez que a ameaça comunista era cada vez mais séria e já vislumbrávamos a aproximação do momento decisivo, quando a democracia deveria ser defendida de armas na mão, aderimos ao grupo de homens honestos e idealistas que planejavam um movimento de salvação. Passou, a “FAC”, assim, a fazer parte dos grupos que unidos (militares e civis) sob uma só chefia ou comando, preparavam a Revolução de 31 de Março de 1964.
Desde o início a “FAC” e eu próprio, como seu fundador e presidente nacional, fomos atacados rijamente não só pelos comunistas, mas também pelos corruptos e entre os comunistas que nos atacavam estavam os chamados “encapuçados”, os denominados “católicos-progressistas” , “católicos-nacionalistas”, os “nacionalistas”, os “intelectuais”, etc.
Em reportagem publicada n’ “A GAZETA” de São Paulo, em dezembro de 1963, denunciamos a ação dos comunistas, entre os quais alguns elementos do próprio clero, não escondendo nossa firme e inabalável disposição de defender o Brasil, mais uma vez, de armas na mão se preciso fosse.
Por ocasião da Revolução, as varias Legiões da “FAC” já contavam com aproximadamente 23 mil homens e estavam sob o meu comando, obedecendo eu as ordens do Professor Coronel REINALDO SALDANHA DA GAMA, comandante das forças civis revolucionárias existentes no Estado.
As ordens do Coronel Saldanha da Gama era para cooperarmos com a Polícia Civil e com as forças militares em geral, o que foi feito.Os legionários, sem medir sacrifícios, deram novamente, nessa oportunidade, provas comoventes de coragem e civismo.
Algumas diligências foram realizadas para a procura e possível detenção dos comunistas, visando-se assim, impedir qualquer tentativa de reação ou de movimento anti-revolucionário.
Entre as diligências realizadas estão as levadas a efeito em Arealva, município próximo a Bauru e onde havia noticias de que alguns comunistas ativos e perigosos, entre os quais o Bel. Joaquim Mendonça Sobrinho, Edson Bastos Gasparini, José Ivan Gibin de Matos e o Bel. Análio Gilberto Smith, se encontravam.
Os informes esclareciam que esses comunistas estavam escondidos pelo então sub-delegado em exercício naquela cidade, o influente membro do PSP, Adelino Mendonça, progenitor de Joaquim Mendonça.
Por determinação do então delegado regional de polícia de Bauru, Bel. Anor Scatimburgo e sob a chefia do Tenente Ventrice foram realizadas duas diligencias a essa cidade, o que iremos relatar mais adiante.
Na cidade de Promissão, onde era Juiz de Direito o Dr. FRANCISCO ANTONIO GOMES NETO, os legionários da “FAC” igualmente agiram, cooperando com o Dr. Benedito Mendes Filho, na época delegado de polícia daquela localidade, sendo detidas algumas pessoas e exercendo vigilância em outras, inclusive no Dr. Gomes Neto.
A ação democrática e legitima dos legionários acarretou sobre todos os seus elementos e sobre o presidente da “FAC” o ódio do juiz comunista.
Iremos agora informar quem é o denunciante, o atual juiz de direito de Dracena, Dr. FRANCISCO ANTONIO GOMES NETO.
Que S. Excia. O Dr. GOMES NETO é comunista ativista, não há nenhuma duvida, pois até o “S.N.I.” ( Serviço Nacional de Informações), através do oficio 164/65, assinado pelo ex-chefe da agência de São Paulo, Exmo. Sr. General Agostinho Teixeira Cortez, se deu ao trabalho de fazer essa comunicação a direção da Faculdade de Direito de Bauru, alertando-a para as cautelas necessárias.
Ainda hoje S. Excia. Reside em Bauru, a rua Joaquim da Silva Martha, nº 11-44, embora tenha exercido a judicatura na comarca de Pederneiras e agora esteja em Dracena.
Gomes Neto antes de vir para o Estado de São Paulo foi juiz de direito em Camanducaia, Estado de Minas Gerais, seu Estado natal. Vejamos o que fez ali.
Na cidade e comarca de Camanducaia, Gomes Neto se candidatou ao cargo de prefeito municipal, procedendo ao registro de sua candidatura e desenvolvendo a campanha política sem, entretanto, se afastar do cargo de juiz de direito, onde permaneceu até o final de sua campanha eleitoral. Embora gastando muito, Gomes Neto não conseguiu iludir ou intimidar o eleitorado, sendo fragorosamente derrotado.
Logo depois,. Frustrado em seus desígnios imediatos, segundo dizem, foi Gomes Neto chamado a Belo Horizonte e aconselhado ( para evitar processo) pelo Tribunal de Justiça a se demitir do cargo, para o qual demonstrara sua incompatibilidade. Veio a seguir para São Paulo onde ingressou na magistratura Paulista. Não nos foi possível apurar a procedência da considerável importância em dinheiro gasta na inglória campanha eleitoral.
Gomes Neto gosta de escrever. Várias obras já publicou, umas editadas pela “FULGOR”, outras pela “KONFINO” e uma pela “SARAIVA”.
Nesta ultima, entitulada “ Leis de Organização Judiciária” alinhava grave acusação contra o E. Tribunal de Justiça do Estado.
Entre seus trabalhos, entretanto, merece mensão especial o entitulado : DA LUTA PELA AUTO DETERMINAÇÂO”, da Editora Fulgor e prefaciado pelo duplamente colega do autor, Dr. OSNY DUARTE PEREIRA, comunista atingido pelo Ato Institucional nº 1, por pratica de atividades subversivas. Em fls 11, 3º parágrafo desse livro encontramos:

“Somos companheiros da mesma luta e pois, duplamente colegas.”

São eles próprios que o confessam.

Em fls 15, Gomes Neto confessa que o livro nada mais é do que a coletânea de vários trabalhos por ele publicados. Vejamos o que diz em alguns deles, para que se tenha nitidamente um retrato de meu acusador.
Em fls. 66 e seguintes, tratando do caso de espionagem a favor da União Soviética, pelo casal Rosemberg, diz que a punição aplicada depois do processo foi um assassinato. Em fls. 101 fala do então rompimento de nossas relações diplomáticas com a União Soviética, afirmando que tal foi “obra de um governo de mentecaptos e de múmias, de homens de queixo comprido e de inteligência curta”. Em fls. 102 fala ainda que o Brasil ficou privado do intercambio cultural com dois dos maiores países do mundo: a União Soviética e a China Comunista... Em fls 111, falando do líder comunista cubano, Fidel Castro, compara-o a Bolívar, dizendo que o barbudo traidor “serve de novo exemplo as nações latino-americanas”. Em fls. 112 e 113 externa a esperança de ver o regime cubano implantado em toda a América latina.
Muitas outras cousas poderiam ser mencionadas. Achamos, entretanto,que tendo trazido a palavra de meu próprio acusador, palavra essa que ousou divulgar em jornais e no livro antes referido, palavra essa que servia a subversão em marcha, podemos ter como exuberantemente provado ser ele um inimigo do Brasil e da liberdade, como, aliás, já o afirmara a direção da Faculdade de Direito de Bauru, o Gen. Agostinho Teixeira Cortez.
Pedimos vênia, entretanto, para citar alguns outros elementos para mostrar como é perigoso e falso esse comunista.
Em sindicância feita pela polícia de Bauru ficou positivado que Gomes Neto mantinha estreitas e intimas relações com estudantes comunistas ou “companheiros de viagem”, entre os quais o atual advogado em São Bernardo, Dr. Wilson Montagna, Roque Zerbine, Edson Bastos Gasparini, José Ivan Gibin de Matos, Afro César Medeiros, Eduardo Miguel Zogheib, Dr. Joaquim Mendonça Sobrinho, Dr. Oswaldo Pena e mesmo com o então desembargador Edgard de Moura Bitencourt que perdeu seus direitos civis e políticos pelo Ato nº 1.
Em uma sindicância realizada pela Polícia de Penapolis, em 15 de Abril de 1964, Azis Salim Sayeg, depondo, informa que em um congresso que reuniu comunistas daquela cidade da noroeste compareceu o então juiz de direito de Promissão, que não era outro senão Gomes Neto.
S. Excia., por ser quem é, não tem medido esforços para prejudicar todos os que lutam ou lutaram contra a democracia.
Em novembro de 1965 fez uma interpelação judicial descabida e inepta contra o Bel. Benedito Mendes Filho, ex-delegado de Promissão, visando intimida-lo. O D.F.S.P., a Aeronáutica e o Exercito foram informados, sendo que o D.F.S.P e o Exercito se fizeram representar no dia da audiência, impedindo que Gomes Neto concretizasse seus nefandos planos.
Ultimamente, depois de uma série de artigos veladamente ofensivos com que pretende atingir-me, fez S. Excia., a representação que dá origem ao presente esclarecimento.
Para não nos alongarmos mais, em relação ao que consta do presente processo, cumpre ainda dizer que realmente, por duas vezes, fui até Arealva, tomando parte de uma caravana policial chefiada pelo Tenente Ventrice. A Delegacia Regional de Polícia local é quem determinava as diligencias e estabelecia quem iria chefiando.Os legionários da “FAC”, conforme ordens superiores, cooperando com a polícia, muitas vezes, como nessas duas diligencias, faziam parte da caravana.
Muitos dos depoimentos colhidos e juntado aos autos por certidão contem mentiras perfeitamente explicáveis. Sabendo-se que quem presidia a audiência era Gomes Neto, fácil será entender a situação de constrangimento daqueles que ali iam depor. Aliás, verifica-se pelo exame dos depoimentos que a preocupação não era esclarecer o crime imputado aos “amigos” de Gomes Neto, mas sim o de fazer constar (sem qualquer repergunta do promotor) cousas que, no “pensamento” de S. Excia., pudesse dar origem a uma situação prejudicial ao presidente da “FAC”, para aquele que colaborou modestamente para que os ideais dos êmulos de Fidel aqui não vingassem.
Adelino Mendonça, que embora não tenhamos meios documentais de prova, foi um dos fundadores do P.C. em Arealva, é pai do comunista-ativista Bel. Joaquim Mendonça Sobrinho que foi advogado do “líder camponês” Jofre Correa Neto, condenado pela Justiça de Pirajuí por ter promovido com o auxílio de Ivan de Mattos, a invasão de uma fazenda, etc. Adelino, assim, procura defender os “interesses” escusos do amigo e camarada e se vingar, da ação anticomunista por nós exercida, mentindo. Nunca fiz qualquer refeição em sua casa.
Sebastião Garcia era chefe do destacamento policial de Arealva e, segundo sabemos mas não podemos provar, devia grandes favores a Adelino, poderoso chefe político que estava sempre na chefia de polícia de Arealva.
O escrivão de polícia era Paulo de Tal, genro de Adelino, razão pela qual as atividades dos comunistas naquela cidade ficavam em “família”.
Podemos afirmar que embora a residência de Adelino tenha sido revistada, pois ali ficou escondido o comunista Análio Gilberto Smith ( hoje advogado em São Paulo), tudo o mais são inverdades próprias daqueles que procuram enlamear os defensores da democracia, ignorando que jamais conseguirão nos afastar do cumprimento do dever.
O objetivo de Gomes Neto e seus “camaradas” é de aborrecer e desanimar, desencorajar ou intimidar os legionários da “FAC” para que no futuro tenham caminho mais livre para a subversão.
Confiamos, entretanto, que enquanto tivermos na chefia da Instituição do Ministério Publico de São Paulo e pudermos contar com promotores dignos, cultos e honrados, como o signatário do parecer de fls. , nada conseguirão por esse caminho.
Pedindo escusas por haver me alongado na exposição dos fatos, peço a V. Excia., que receba as mesmas como a expressão da verdade.


São Paulo, 12 de Janeiro de 1967.


Silvio Marques Júnior
Promotor Público.

UMA VÍTIMA DO ARBÍTRIO.

Quando, nos anos em que existia um sindicalismo forte e atuante, lembro-me de sua atuação em defesa de sua classe, lutando, reivindicando, em favor de seus companheiros da extinta Sorocabana. Lembro-me das greves reivindicatórias da época e de sua presença à frente dos movimentos sempre altivos e independentes. No movimento golpista de 1964, em uma autentica prova de medo da liderança operária, prenderam-no juntamente com dezenas de operários e estudantes.
Após sua prisão, um novo choque, com sua demissão e a de mais quarenta e um companheiros dos quadros da ferrovia. Lembro-me de sua revolta contra o governador da época, que em um mesmo ato, chamou de volta ao serviço ferroviários aposentados e demitiu-os.
Você, meu velho pai, perdeu trinta anos de serviços prestados a ferrovia e ao estado, com muito amor. Somente lhe restou uma herança, uma asma agravada posteriormente com o surgimento de outras complicações, decorrentes principalmente das noites frias que passou na prisão ( ou faculdade, como o Sr. mesmo preferia dizer).
Não chegavam as preocupações com as noticias de falecimentos de companheiros, que junto com você haviam sido demitidos, com medo de que as viúvas pudessem estar em má situação financeira. Não chegavam os aborrecimentos contra as arbitrariedades e a luta pela sobrevivência. Ainda teve que vir Janeiro de 1969 e a nova injustiça cometida, com mais uma prisão. Uma revolta maior surgiu em seu interior. Revolta contra prisões, perseguições, mutilações, demissões.
Seu sentido de solidariedade nunca arrefeceu. Mesmo sabendo que as causas que levaram a sua prisão foram errôneas . Sabia que
se basearam nos antecedentes de um homônimo seu, mas nunca protestou ou brigou sozinho.
Sempre dizia que queria ser reintegrado à ferrovia, juntamente com todos os companheiros e nunca sozinho. Da mesma forma que sempre dizia, de que seus netos é quem iriam vencer a demanda contra o Estado, se o regime arbitrário persistisse.
Entusiasmava-se nos últimos tempos com relação as noticias relativas a ANISTIA, anistia esta que não teve tempo de saborear, curtir em seu jeito típico.
Mas, meu velho, os regimes ditatoriais são sempre assim, só fingem anistiar os mortos. Mas no alto de sua tranqüilidade eu imagino que está no mínimo rindo de seus algozes, enfim os algozes do povo. Como você mesmo dizia:
“Herói não é aquele que vence uma batalha, mas aquele que atirado ao pó da derrota, consegue ter ânimos para continuar lutando!”
E para mim o senhor foi um herói, pois embora perseguido, demitido, encontrou ânimos para continuar lutando.
Meu velho, somente esta última promessa:
No dia em que o povo brasileiro for anistiado, nós festejaremos a agonia de seus algozes.

Publicada em 19/09/78
no “ Diário de Bauru”.
autoria: Antonio Pedroso Júnior.

Nome do Jornal: Voz da Egreja, A

Prontuário: 2355.
Conselho Editorial: Liga Anticlerical Marquez de Pombal.
Perfil Político: anticlerical.
Periodicidade: mensal, com distribuição gratuita.
Processo Gráfico: tipográfico.
Dimensão: Histórico: "A Voz da Egreja" surgiu na cidade interiorana de Bauru (SP), em maio de 1933. Intitulava-se como um órgão de divulgação das atividades da "Liga Anticlerical Marquez de Pombal”, sediada naquela cidade. A primeira edição adiantava a intenção do jornal de manter-se desligado do partidarismo político e propunha o combate pela liberdade de pensamento e de consciência, que, segundo o editorial de capa - “À guisa de apresentação”-, naquele momento, estavam "amordaçadas" pela Igreja Católica e seus “homens de saia preta”. Exemplo recente disso, afirmavam, era a promulgação do decreto presidencial que estabelecia o ensino religioso em todas as escolas do país (1931), tal medida evidenciava o acordo entre Getúlio Vargas e a Igreja Católica, demonstrando, também, o interesse desta última em reassumir seu papel na política nacional. Diante deste contexto, o jornal propunha-se a combater o clericalismo, isto é, a ingerência da Igreja Católica na política varguista. Proclamando-se como nascido da luta e para a luta, "A Voz da Egreja" pretendia dar prosseguimento ao seu programa, frente a todas as intempéries, pelo apoio e boa vontade de todos os livre-pensadores que quisessem “extirpar do organismo brasileiro, esse cancro gangrenoso que se chama clero”. Para ele, a atitude anticlericalista do jornal refletiria a postura de defesa do povo contra uma religião que pretendia fazer-se novamente oficial, escravizando as mentes e restabelecendo os tribunais da Inquisição. Segundo o jornal, o Vaticano era como um governo estrangeiro, mandava padres para o Brasil, seus agentes no país, unicamente para se aproveitar da ignorância do povo e extorquir riquezas para serem enviadas ao estrangeiro, fato que caracterizaria a Igreja Católica como uma organização imperialista a serviço das idéias do “inferno” e do “purgatório” para aplicar as maiores trapaças nas pessoas. Esta é a justificativa do combate a ser impingido ao “formidável sindicato de exploradores e de espiões” formado por padres. O jornal conclama seus leitores a cerrarem fileiras e se utilizarem de todos os meios lícitos para expulsar os padres do Brasil seguindo o exemplo das nações civilizadas. Aqui, em uma clara alusão ao protestantismo majoritário nos Estados Unidos da América, o jornal alega que com a presença dos “eunucos do Papa” no Brasil, o país nada havia lucrado, mantendo-se estagnado. O jornal propunha, ainda, que após a expulsão da Igreja Católica do Brasil, fossem nacionalizados os seus bens, além de investigados todos os governantes brasileiros que de alguma maneira tivessem colaborado com aquela instituição religiosa. O jornal esperava dos leitores o acolhimento de suas proposições e avisava que, se a campanha tivesse sucesso, a tiragem de "A Voz da Egreja" aumentaria de 3.000 para 10.000 exemplares. O fato de o jornal ter publicado na terceira página do número inaugural um informe do Partido Socialista Brasileiro também não deve ser desprezado. Neste texto, o PSB conclama o povo de Bauru a lutar pelos direitos das classes trabalhadoras durante o processo eleitoral de 1933. Afirmava que era chegado o momento para aqueles que realmente produziam e realizavam no país os “milagres do progresso e a vertigem da civilização”. Estes teriam seus direitos representados em uma organização partidária que defendesse intransigentemente as reivindicações sociais. Com palavras de ordem, o comunicado do PSB de Bauru termina com o slogan: “Avante, Companheiros: ‘Por São Paulo forte no Brasil Unido!’”.
Número de Páginas: 4.
Local/Edição: Bauru (SP).
Prontuariado: Carlos Gewe
Razão da Apreensão: O jornal anticlericalista "A Voz da Egreja" era impresso nas oficinas de "A Tribuna Operária", cujo diretor-gerente era o tipógrafo alemão Carlos Gewe, considerado como um dos membros mais atuantes do Partido Comunista na região de Bauru (SP). O exemplar foi apreendido, segundo a polícia, em razão de um descuido de seus editores, que não legalizaram a publicação junto às autoridades. Há, no entanto, dois outros motivos que poderiam ter levado ao confisco do jornal: consta do prontuário de Carlos Gewe uma carta de Ary Nascimento Cordeiro, secretário da Liga Católica “Jesus, Maria, José”, na qual o autor queixa-se às autoridades de que o jornal anticlericalista feria a dignidade dos católicos de Bauru, pedindo a atenção dos poderes competentes.

JORNAL TRIBUNA OPERÁRIA

Nome do Jornal: Tribuna Operária
Prontuário: 2355.
Conselho Editorial: Carlos Gewe (diretor)
Perfil Político: Socialista; Anticlerical.
Periodicidade: Quinzenal.
Processo Gráfico: Tipografia.
Dimensão: Histórico: A "Tribuna Operária", jornal da cidade de Bauru (SP), declarava-se defensor do proletariado brasileiro e de pequenos agricultores. Ao publicar artigos em defesa dos direitos dos trabalhadores, traçava comentários críticos sobre a legislação trabalhista àquele momento proposta pelo governo Getúlio Vargas. Defendia o socialismo, sustentando como bandeira de luta “acabar com a exploração do trabalho para o lucro dos patrões”. O jornal tinha como lema a trilogia: liberdade, igualdade e fraternidade, e “Avante! Avante! Oh! Brasileiros. O Socialismo em pé!” Era comum a reprodução de textos cedidos por outros periódicos, como no caso deste exemplar confiscado em março de 1933. O foco central da matéria publicada pelo Jornal Baptista, ligado à igreja homônima, discute a moralidade pregada pelos católicos a partir do caso de um padre do interior de São Paulo, que havia engravidado uma de suas empregadas. Este, apesar de ter violado o voto do celibato clerical, continuava ministrando normalmente os sacramentos. O jornal, que contava com a colaboração de José Rodrigues Teixeira e do “Conselheiro Ambrósio”, editava um suplemento semanal com ilustrações. Assinam artigos nesta mesma edição, também a Liga Anticlerical de Pelotas e a Liga Operária de Araçatuba. O exemplar apreendido apresenta um único anúncio de patrocinador: o mata-formigas da marca "Tatú”, sob o slogan,“a melhor marca de formicida”. Com destaque na primeira página, a embalagem do produto apresenta o desenho de uma caveira, em alusão ao seu conteúdo “venenoso”.
Número de Páginas: 4.
Local/Edição: Bauru (SP)/ 26 de março de 1933.Prontuariado: Carlos GeweRemissão: 2355
Razão da Apreensão: Constam do prontuário de Carlos Gewe, diretor-gerente da "Tribuna Operária", quatro exemplares do referido jornal, além de outras publicações produzidas na mesma oficina de impressão, tais como os jornais "Argus", "A Luta" e "A Voz da Egreja". Considerado pela polícia como o membro mais atuante do Partido Comunista na região de Bauru, o alemão Carlos Gewe acumulava estigmas; além de ser estrangeiro, havia sido denunciado primeiramente pelo secretário da Liga Católica “Jesus, Maria, José”, Ary Nascimento Cordeiro, que irritado com a publicação do jornal anticlericalista "A Voz da Egreja", denunciou a ligação da oficina do "Tribuna Operária" com publicações comunistas.