“ A coerência, a ética e a moral são natas no ser humano,
não podendo serem confundidas com a hipocrisia e a falsidade, que nada mais são
que deformação do caráter do ser humano”.
Filho de Antonio Basílio Bueno
e de Elza Tavares, nascido em 23 de Abril de 1909, em Botucatu, Estado de São
Paulo, era Chefe de Trem e militante do Partido Comunista Brasileiro –PCB -,
tendo sido integrante do Diretório Municipal de Assis – Sp., no ano de 1947,
quando da efêmera legalização da legenda. Dos demitidos da Sorocabana,
indiscutivelmente era, um dos mais
monitorado pela polícia política, tendo uma ficha no antigo DOPS com 364
páginas. Sócio fundador do Sindicato dos Ferroviários em 1934 esteve a partir
desta data, presente em todos os movimentos reivindicatórios da categoria.
A primeira anotação em seu
prontuário informa que em 9 de dezembro de 1946, em sessão plenária do Comitê
Municipal do PCB, em Assis, Estado de São Paulo, foi empossado como secretario sindical dos
ferroviários e que era elemento
comunista e agitador da Sorocabana, constando de uma relação de comunistas
perigosos e que participara de comícios comunistas em Echaporã, Ibirarema,
Palmital, Sorocaba, Assis e Bauru.
Em 1948, o Delegado Regional de
Policia de Assis, senhor Francisco Franco do Amaral, encaminhava oficio para
seus superiores em São Paulo, afirmando que depois de exaustivas investigações,
havia prendido comunistas que aliciavam os ferroviários, para fazerem greve por
melhores salários e dentre os presos, nosso protagonista e que neste mesmo ano,
foi um dos demitidos da ferrovia, em decorrência de participação em movimento
grevista, tendo conseguido retornar anos depois ao trabalho, por pressão da classe
ferroviária, continuando de forma sistemática e coerente seu trabalho, buscando
unificar a categoria para defesa de seus direitos.
Neste mesmo ano de 1948, já
residindo em Santos, Massilon foi eleito, em Assembleia Ferroviária realizada
em Botucatu, como presidente da Comissão Central de Reivindicações dos Ferroviários
e em 11 de dezembro deste ano, foi realizada reunião com os ferroviários na
cidade de Santos, organizada pela Comissão Central, organizada por nosso
protagonista e pelo maquinista Otavio de Oliveira e que contou com a presença
do deputado Porfirio da Paz. Em 13 de dezembro deste ano, antes de reunião que
seria realizada em Sorocaba, Massilon, Benedito Elpidio Marcondes, Benedito
Machado, Manoel Ortiz, Adelino Rodrigues e outros ferroviários envolvidos no
movimento reivindicatório foram presos e conduzidos para o DOPS/Sp., em
diligencia comandada pela Polícia de Sorocaba, cujo delegado, Francisco Franco
do Amaral, encaminhou ofício para São Paulo, informando da operação:
“ ... tomando conhecimento que
estava marcado para ontem, dia 13, às 20 horas, uma reunião de ferroviários da
Sorocabana que seria realizada na atual sede do Partido Social Progressista –
P.S.P -, a rua Álvaro Soares, 54, iniciamos diligencias com a intenção de
apurar o verdadeiro caráter desta reunião, acabando por constatar que era
promovida por elementos comunistas, não somente desta cidade como de outras,
sendo o organizador da mesma, Massilon Bueno, residente em Santos e conhecido
agitador comunista...
... diante das provas colhidas,
contra a pretendida reunião, foram detidos os elementos responsáveis por sua
organização, o que veio a comprovar as suspeitas levantadas contra os mesmos,
pela farta documentação encontrada com os responsáveis, conforme figura no
inquérito instaurado...”
No dia 19, deste mês, o jornal
NOTÍCIAS DE HOJE, publicava:
“... continua a ser posto em
pratica o plano elaborado em comum acordo pela polícia e a direção da Estrada
de Ferro Sorocabana com a finalidade de impedirem a grande assembleia de hoje,
em que os ferroviários debaterão o problema do Abono de Natal. Permanecem presos
os ferroviários membros da Comissão Central e o comerciante Pedro Wasserman de
Botucatu. Ao primeiro pedido de informações formulado pelo Juiz da 4ª Vara
Criminal, respondeu a policia, faltando com a verdade, que não havia
ferroviários presos. Ao segundo pedido de informações, provocado por um novo
habeas corpus, impetrado em favor dos presos, não deu o DOPS comandado pelo
delegado Affonso Celso , nenhuma resposta. Enquanto isso, Massilon Bueno,
presidente da Comissão, Benedito Elpidio Marcondes e outros trabalhadores ,
permanecem afastados do convívio dos seus. A pedido da Estrada, certamente, a
policia pretende manter os ferroviários presos até depois do Natal, quando,
segundo pensa, os trabalhadores não terão mais razão para lutar pelo abono de
natal...
... contudo os ferroviários não
se intimidam e a assembleia realizar-se-á. Virão delegações de diversas cidades
do interior e os ferroviários sabem que não é crime lutar pelo abono de natal.
Santos, Sorocaba, Bauru, Assis, Ourinhos e outras cidades enviaram seus
representantes para cumprir com a tarefa traçada na grande reunião de Botucatu.
Com certeza, os trabalhadores estarão presentes em grande número, hoje, no
Salão Royal, na Barra Funda...”
Suas andanças constantes por
toda a linha da Sorocabana, o fizeram ser indiciado em Inquérito Policial por
parte do DOPS, onde foi ouvido em 15 de Dezembro de 1948, período em que este
departamento informava a justiça, que não estava preso:
“... o declarante pertenceu ao
Partido Comunista Brasileiro, na sua fase legal, em Assis, exercendo às funções
de secretário político. Desenvolveu a campanha pró-Adhemar de Barros e, como
resultado, a legenda P.S.P.-P.C.B., venceu nas urnas com ampla maioria. Posto o
P.C.B. na ilegalidade, o declarante transferiu-se para Santos, procurando
afastar-se das competições politicas de qualquer natureza, atendo-se somente as
lutas sindicais dos ferroviários da Sorocabana...
Enquanto estava preso com
outros companheiros de luta, a policia continuava a investigar, sendo que em 14
de dezembro, o delegado do DOPS, Eduardo Lousada Rocha que estava em
diligências na cidade de Sorocaba, enviava Radiotelegrama para a Delegacia de
Polícia de Itapetininga, determinando a prisão de Francisco Luvisoto, que
estaria envolvido nos preparativos para a greve. Determinava que fossem
providenciadas busca pessoal e domiciliar, oitiva do preso em declarações e
remessa do mesmo para o DOPS de São Paulo.
Libertado, a luta continuou. E
logo em 19 de Janeiro de 1949, estava com seus companheiros da Comissão Central,
apresentando a direção da Estrada, a pauta de reivindicações dos ferroviários e
dentre elas, o abono de natal. Interessante, registrar teor do ofício
encaminhado pela Comissão ao senhor diretor da Estrada:
“... atendendo ao já combinado
entre os demais representantes, queremos entregar hoje, às 15:00 horas,
memorial contendo as reivindicações mais sentidas pela classe...
... solicita, portanto, a V.S.
que mande abrir as portas, democraticamente, do salão desta diretoria, para que
possam entrar os ferroviários que patrocinam a causa...”
No dia seguinte, a direção da
Estrada encaminhou oficio ao Coronel Nelson de Aquino, Secretário de Estado dos
Negócios da Segurança Pública, onde relata o encontro e solicita enérgicas
punições aos membros da Comissão Central, liderada por nosso protagonista,
adiantando que o mesmo esteve na diretoria, acompanhado por mais de cinquenta
ferroviários no dia anterior.
Em 21 de janeiro de 1949, o
delegado de policia de Sorocaba solicita ao Delegado de Ordem Politica e Social
de São Paulo, Eduardo Lousada Rocha, a prisão dos comunistas Carminio
Caramante, Jose Ribeiro, Renê Boschetti, Flavio Moraes e Oswaldo Rio Branco que
estariam articulando movimento grevista da Sorocabana. Informa que depois de
retirarem seis mil boletins
confeccionados na gráfica do Jornal A Comarca em Porto Feliz, seguiram em
direção a Botucatu, onde poderão ser encontrados.
Em 13 de julho de 1949, novo
relato informando que boletins estão sendo distribuídos aos ferroviários, com
teor nitidamente comunista, assinados pela Comissão Central, da qual fazem
parte, Massilon, João Tardivo, Antonio Ribeiro Silva e Benedito Francisco
Vieira. Este boletim vem sendo distribuído por Luiz Pacheco Galvão.
Em dezembro de 1949, relatório
do DOPS, apresenta as moções aprovadas pelo pleno do Comitê Municipal de São
Paulo, mostrando de forma clara que a policia politica, possuía infiltrados
dentro da organização partidária. Eis os principais tópicos:
“...reunidos para balancear as
atividades do partido na capital, neste último período, constatamos que ainda
não fomos capazes de com a necessária urgência, colocar em pratica as
resoluções do Comitê Estadual e do Comitê Nacional. Constatamos, também, que a
nossa maior debilidade é ainda a de não termos sido capazes de desencadear
lutas de envergadura, como exige nossa linha politica...
...constatamos que a causa
disso está no oportunismo da velha linha politica, ainda enraizada em todos os
escalões do partido, manifestando-se das mais variadas formas...
...reafirmamos nossa confiança
absoluta nas duas instancias superiores e sentimo-nos orgulhosos de seus
exemplos em realizarem autocríticas, que nos servem de estimulo para o
aprofundamento da nossa, incentivando-nos a nos colocarmos a altura de nossa
linha politica...”
...levar a todo partido, a
nossa autocritica pela subestimação com que tem encarado o problema dos presos
políticos, dentre eles, o camarada Pedro de Oliveira...
Agentes do DOPS, em 4 de
janeiro de 1950, faziam relatório a respeito de reunião realizada na rua do
Carmo, 54, na cidade de São Paulo:
“... a reunião foi realizada,
sem nenhuma divulgação previa, com todos os seus elementos determinados com a
finalidade de evitar acesso a estranhos, isso é, realizaram uma reunião
clandestina. Objetivavam tomar o comando dos funcionários públicos federais,
estaduais e municipais, bem como os das autarquias, transformando a assembleia
permanente de funcionários públicos, que ultimamente vinha agitando os
funcionários em torno de reivindicações, em uma espécie de MUSP, MUT, etc... A
esta reunião compareceram umas 60, 70 pessoas, na sua quase totalidade membros
do PC, que sem maiores preâmbulos elegeram a sua diretoria provisória que
dentro de quinze dias deverá providenciar a eleição de sua diretoria
definitiva. Tal diretoria, ora eleita, é a seguinte: Presidente: professor
Hadock Lobo; Vice-Presidente: Massilon Bueno; 1º secretário: Sebastião Costa;
2º secretário: Jathero de Faria Cardoso; 1º tesoureiro: Laercio Marques Leite;
2º tesoureiro: Guiomar Alvares; Assistente Social: Ênio Sandoval Peixoto,
Carmino Caribo e João Guilherme; Propaganda: Paulo R. Silva; Esporte: Waldemar
Zumbano; Departamento Feminino: Lídia Toscano de Brito. Dentre os assuntos
tratados, referentes a funcionários públicos e ferroviários, deliberou-se dar
solidariedade a CSAL – Conferencia Sindical da América Latina – que se
realizará em Montevidéu...”
No dia seguinte, em 5 de
Janeiro, o jornal NOTÍCIAS DE HOJE, noticiava a realização do Congresso da
CSAL, para o final de janeiro, anunciando a criação de uma comissão com a
finalidade de organizar a delegação paulista:
“...sob o patrocínio da CSAL,
será realizada em Montevidéu, a conferencia sindical dos trabalhadores da
América do Sul, convocada de acordo com
a resolução do II Congresso Sindical Mundial, efetuado em Milão, com a
participação dos trabalhadores paulistas. Nesse conclave, serão discutidos os
seguintes pontos do máximo interesse para os trabalhadores: 1- situação da
massa trabalhadora e suas lutas; 2- unidade e organização da classe operária;
3- a luta pela paz e independência nacional dos povos. A comissão pró
conferencia sindical dos trabalhadores da América do Sul lança um vigoroso apelo aos trabalhadores manuais e
intelectuais da cidade e do campo de São Paulo e a todas as suas organizações
para que participem ativamente do conclave, elegendo delegados, angariando os
fundos necessários para a viagem dos mesmos e divulgando por todos a sua
realização. A comissão era formada por Roque Trevisan, João Taibo Cadorniga,
Armando Ferreira dos Santos, Massilon Bueno, Celestino dos Santos, Yolanda
Pincigher, Faustina Bonimani Jose Joaquim Santana, Sebastião Costa, Mario
Barbosa, Moacir Ramos, Rafael Monteaperto, Orly Andrezzo, Abelcio Bitencourt
Dias, Severino Vicente da Silva, Geraldo dos Santos, Arlindo Alves Lucena e
Salvadora Lopes.
Em 14 de janeiro de 1950, uma
reunião com os ferroviários em Botucatu, amplamente convocada por boletins e
pichações, acabou sendo proibida de ser realizada por não contar com
autorização da policia, entretanto, os vereadores João Batista Domene, do PTN;
José da Silva Coelho, da UDN; Progresso Garcia, da UDN; Alberto Monteiro da
UDN; Francisco Ramires e Nestor Nunes de Oliveira, ambos do PSP, reuniram-se
com as autoridades policiais e requereram a realização da reunião que foi
autorizada, desde que se ativesse a assuntos de interesse da classe
ferroviária, e em especial, da reinvindicação contra o veto a artigo da lei 209
que estendia o aumento concedido aos funcionários estaduais para os
funcionários autárquicos. Vamos ao relatório policial sobre esta reunião:
“... assim, a reunião foi
efetuada debaixo da maior ordem, com a
presença de cerca de cem pessoas, na maioria, ferroviários, funcionando como
presidente da sessão João Batista Domene e secretário, o ferroviário Armando
Audi...
...diversos oradores filiados a
diversos partidos políticos fizeram uso da palavra, todos em tom moderado e sem
criticas acerbas as autoridades, até que Massilon Bueno, até então desconhecido
desta regional e dos inspetores desta especializada, começou a discursar,
esclarecendo-se então a finalidade da reunião. O senhor Massilon discutiu a
situação precária dos ferroviários e funcionários públicos, concitando-os a se
unirem em defesa da classe, a fim de pleitearem dentro da ordem e pelos
caminhos legais, reivindicações essenciais para a classe...
... no final dos trabalhos, o
senhor Massilon sugeriu que fosse escolhido um representante de Botucatu para
participar do Congresso Geral dos Trabalhadores que seria realizado em
Montevidéu e ainda a formação de um caixa, para as despesas...
... quanto aos vereadores que
intercederam pela realização da reunião, os três pertencentes a UDN procuram
apenas vantagens politicas; o senhor João Batista Domene pertencente ao PTN, é
simpatizante do extinto P.C. e os vereadores Francisco Ramires e Nestor Nunes
de Oliveira, pertencentes ao PSP, são elementos comunistas bastante
conhecidos...
... sugerimos desde logo, a
interferência desta especializada, no sentido de ser conseguida a remoção desta
cidade, do ferroviário Hermes Valente, trata-se, ao nosso ver, de elemento
realmente perigoso e por suas maneiras rudes, suas atitudes sempre encontram
maior ressonância entre os ferroviários...”
De Botucatu, as lideranças ferroviárias
seguiram para Itapetininga, no dia 21, onde realizaram reunião no saguão da
Estação Ferroviária, onde em discurso emocionado, Massilon agradeceu a
solidariedade recebida dos ferroviários da Central do Brasil, antes porém,
retornaram a São Paulo, onde no dia 15, realizou-se Assembleia para eleição da
diretoria definitiva da Associação Unitária dos Funcionários
Públicos em São Paulo, mantendo-se a diretoria provisória eleita no início do
ano.
Neste meio tempo,
informações arquivadas no DOPS, com relatório de 19 de janeiro, davam conta que
Massilon, Celestino e Benedito Elpidio Marcondes, estavam aproveitando as
reuniões realizadas com a classe ferroviária, por todo o interior, para
reorganizarem o Partido Comunista na ferrovia.
Em 24 de janeiro de 1950,
relatório reservado informa que em Assembleia dos Ferroviários, realizada no
Clube Dramático e Cultural Royal, em São Paulo, com a finalidade de se discutir
o veto do governo ao artigo 53, da Lei 209, que estendia o aumento concedido
aos funcionários estaduais para os funcionários de autarquia, Massilon teria
feito uso da palavra:
“... em outras palavras disse
que o veto do senhor governador foi um ato de estupidez e com frases violentas
procurou demonstrar a força de que dispõe os ferroviários, quando unidos,
ilustrando esta afirmação com outros casos de revés, que foram revertidos com
luta e persistência..”
Em informe de 18 de março de
1950, a policia de Botucatu informa que com a libertação dos ferroviários,
considerados como “cabeças de greve”, estes já estão articulando novo movimento
paredista, em protesto contra o veto ao artigo 53, da lei 209. O movimento vem
sendo liderado por Benedito Elpidio Marcondes, Luiz Galvão de França e Massilon
Bueno, estranhando a policia, a ausência de Celestino dos Santos nestes
preparativos.
Em 14 de agosto de 1950, assembleia
realizada na sede da Associação Unitária dos Funcionários Públicos em São
Paulo, com a presença dos deputados Manoel da Nobrega e Silvio Gonçalves de
Lima Ferreira, e evidente, assunto para relatório do DOPS:
“... após assinar o livro de presenças, com
nome suposto, simulando ser funcionário da Sorocabana, adentrei ao recinto,
onde se iniciavam os trabalhos...
...as primeiras palavras do Deputado Manoel
da Nobrega foram as de que não era comunista, mas sim um democrata, disposto a
lutar e defender as justas reivindicações de qualquer classe dos trabalhadores,
notadamente a dos ferroviários, recomendando que a classe deveria unir-se mais
e organizar-se melhor, para desta forma cuidar melhor de seus direitos...
...
em seguida, falou o já conhecido agitador comunista, Massilon Bueno que confirmou
a necessidade da unanime união dos ferroviários, já dito pelo deputado Manoel
da Nobrega, para que todos numa única voz, possam gritar e exigir seus
direitos. Elencou muitos casos de injustiças praticadas pelos dirigentes da
Sorocabana, enfatizando que foi afastado de suas atividades, porque trabalhou
pelo recebimento do abono de natal e continuou, em caráter de denuncia
afirmando que além de ser demitido, a uma e meia da madrugada, quando já estava
dormindo em seu lar, foi preso e remetido para o DOPS de São Paulo, onde
permaneci preso por sessenta dias. Esse, senhores, foi o premio que ganhei por
tudo o que tenho feito pela Sorocabana! Meu pai, trabalhou durante trinta anos
para esta companhia e eu já trabalho há 24 anos e até o que tinha de mais
precioso dei a ela. Era meu filho, que tirando do ginásio, porque não era mais
possível sustenta-lo estudando, o coloquei para trabalhar na Sorocabana e um
certo dia, este meu filho foi colhido por uma locomotiva e morreu. Foi esse, senhores,
o premio que recebi...
... em seguida, falou o representante dos
ferroviários de Botucatu, pessoa já idosa e que não consegui identificar que
afirmou em seu discurso da necessidade de em futuras reuniões, ser exigida
identificação de todos quantos delas tomassem parte, com a finalidade de evitar
que elementos estranhos a classe nelas se intrometessem e também com a
finalidade de se evitar infiltrações de representantes da infame e carniceira
policia...”
Ainda em 1950, relatório do Serviço Secreto
do DOPS, informava que havia sido eleita nova diretoria da Associação Unitária
dos Serviços Públicos do Estado de São Paulo, em assembleia presidida pelo
notório comunista Pedro Trevisan que substituiu o presidente cessante,
engenheiro Jathero Faria Cardoso que não pode comparecer. Foi eleito presidente
da entidade o medico da Secretaria da Justiça, João Bellin Burza e como
vice-presidente, Massilon.
Em 19 de setembro, deste ano, o delegado do
DOPS, Hugo Ribeiro da Silva, requeria a
decretação de prisão preventiva para: João Bellin Burza, Massilon Bueno, José
João Mazzucato e João Benini, como “cabeças de greve” da Sorocabana, medida
negada pelo juiz da 4ª Vara Criminal de São Paulo.
Em 25 de setembro, a regional do DOPS de
Sorocaba informa que nosso protagonista, juntamente com Carminio Caramante e
João Bellin Burza, tem sido vistos constantemente na cidade e constatou-se que
estão em contatos com trabalhadores de Votorantim e depois destes contatos,
estão surgindo boletins naquela cidade, conclamando os operários têxteis a
greve. Estes visitantes comunistas e agitadores tem se reunido, de forma
sistemática com Sebastião Mineiro, Salvadora Lopes Peres, Ricardina Velasco,
dentre outros, e com certeza os boletins estão sendo preparados e distribuídos
por estes. Foi observado igualmente que nos dias mais agitados pela onda da
greve, sempre se encontrava presente uma perua do P.T.N., com propaganda do
candidato a deputado estadual Diógenes de Carvalho Neves, que tem sido visto em
contato constante com os agitadores comunistas.
Logo em 9 de Janeiro de 1951, o delegado de
polícia do DOPS/Santos, enviava o seguinte informe para São Paulo, onde dizia
ter localizado o perigoso agitador comunista. Vamos a ele:
“ após quatro dias de investigações,
cumpre-me informar o seguinte, sobre o paradeiro de Massilon Bueno, da
Associação Unitária dos Funcionários Públicos e Autárquicos do Estado, contra
quem existe um mandado de prisão na Delegacia de Vigilância e Capturas.
Referido individuo está residindo em Santos, em casa de madeira de propriedade
da Estrada de Ferro Sorocabana, casa nº 10 ( na altura, mais ou menos, da praça
Washington, bairro José Menino). As informações obtidas foram a de que
atualmente é chefe de uma turma de trabalhadores, na faixa do cais, pertencente
a Companhia Docas, constando estar presentemente desligado do PCB. Sua prisão
só poderá ser realizada de madrugada, mediante cerco de sua casa, pois os
fundos da mesma dão para um terreno baldio, propicio, por isso mesmo, a fuga do
referido militante comunista”.
Ou a eficiência da policia politica de
Santos deixava a desejar, ou Massilon não “dava sopa para o azar”, pois embora
tivesse sido localizado seu paradeiro em janeiro, somente em 20 de maio daquele
ano foi preso, tendo sido apresentado no dia seguinte ao DOPS de São Paulo, tendo
sido encaminhado, com oficio, a Delegacia de Vigilância e Captura, pelo
delegado Clodoaldo de Abreu e escrivão Milton de Toledo.
Em 1951, estava programado para
a cidade de Bauru a realização de um Congresso pela Paz Mundial e Cultura, e os
ferroviários do CONSELHO DE PAZ DOS FERROVIÁRIOS DO ESTADO DE SÃO PAULO,
enviaram uma delegação e dentre eles Massilon, com uma mensagem aos
participantes:
“ Companheiros Ferroviários:
Temos no momento, duas tarefas
de honra a cumprir: 1ª) Enviar o nosso delegado, Massilon Bueno, ao México e
2º), fazer do Congresso de Bauru, uma manifestação que não deixe duvidas aos
provocadores de guerra sobre a nossa decisão de defender a paz, mas para que
realizemos vitoriosamente o nosso dever é preciso que cada um se compenetre do
real perigo de guerra e da necessidade de ser impedida nova carnificina. Por
isso, lançamos o nosso apelo a fim que todos colaborem, com a finalidade de
cobrirmos a quantia necessária para a viagem de nosso delegado, pois os
ferroviários paulistas precisam estar representados no Congresso do México e
através da boca de nosso representante, gritar aos fabricantes de bombas
atômicas que não empunharemos armas para massacrar povos irmãos, em beneficio
dos trustes internacionais. Companheiros, detenhamos o punho do opressor.
Cubramos a cota para que Massilon Bueno compareça ao México. Tudo pelo
Congresso do México! Tudo pelo Congresso de Bauru!
Na realidade, esta manifestação
de Bauru, chamada de Congresso, acabou sendo reprimida pela polícia e acabou
não se realizando em praça público, como era desejado pelos organizadores.
Diversos dos presentes foram detidos, e o General Leônidas Cardoso, acabou se
dirigindo a Policia local, intercedendo pela libertação dos mesmos. O Congresso
acabou se realizando na residência do militante politico e lenheiro da Estrada
de Ferro Noroeste do Brasil, Delamare Machado da Silva.
Segundo as anotações policiais,
muitas vezes realizadas de forma reservada pelos investigadores da polícia
politica, dão conta que em 15/10/1953, teria participado de uma reunião da
União Geral dos Trabalhadores de São Paulo, onde teriam sido planejadas
diversas ações a serem desenvolvidas pelos comunistas em nosso estado, e
também, fazia parte de uma listagem dos comunistas atuantes na cidade de Assis-Sp.
O monitoramento era constante, trazendo informações de sua participação em
eleições da Cooperativa de Consumo dos Ferroviários da Sorocabana, sempre
constando nestas informações a sua militância comunista.
Em março de 1956, como já vimos
na história de Luiz Basqueira, os diretores da Cooperativa de Consumo dos
Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana: Luís Laprista, Aldo Zacharias e
Virgílio Marques Penteado, demonstrando
cabalmente que eram desprovidos de ética, moral e companheirismo, encaminharam
ofício ao DOPS, mais precisamente ao delegado Antonio Ribeiro de Andrade,
informando que iriam ocorrer eleições para renovação da diretoria da entidade
e, aproveitando o ensejo, denunciam a chapa oposicionista, encabeçada por
Guarino Fernandes dos Santos e que tinha
nosso protagonista, como membro do Conselho Fiscal:
“... esta chapa, senhor
delegado, é composta em quase toda a sua totalidade por elementos pertencentes
ao Partido Comunista Brasileiro, conforme poderá se constatar nos arquivos
existentes neste departamento...
E depois de várias cantilenas
anticomunistas, alegando que os comunistas eram perigosos e andavam armados,
solicitavam reforço para o dia das eleições e, aliás, para o dia programado, 26
de março, suspenderam o pleito,
ocasionando tumulto na sede da Cooperativa, sendo as eleições realizadas em 20
de maio de 1956, com a vitória da chapa de Guarino e Massilon. As eleições
foram presididas pelo Dr. Arthur Ramos Leal, representante do Ministério da
Agricultura e claro, mereceu relatório do DOPS que dizia que os comunistas
compareceram em peso nas eleições.
Se em 1957, em relatório
circunstanciado é mencionado como um dos responsáveis pela convocação de greve,
em 1960, eis que, surge como um dos apoiadores do General nacionalista Henrique
Lott para a presidência da República e Jango Goulart para a vice-presidência,
não custando recordar que o voto era desvinculado e o eleitor escolhia
separadamente o presidente e o vice.
Ou a policia politica de
Botucatu era mais atuante ou a UNIÃO tinha a cidade como uma de suas
prioridades, afinal, é numeroso o número de informes do DOPS desta cidade,
dando conta da realização de assembleias ferroviárias na cidade, sendo que em
16 de agosto de 1961, foi realizada uma com a presença de 150 ferroviários, presidida
por Mario Franco de Godoi e com a presença de Guarino, Massilon e do vereador
Francisco Ramirez, militante comunista na cidade. A pauta era composta por
reinvindicações a serem apresentadas a direção da Estrada.
Em 1962, era novamente acusado
de estar insuflando movimento grevista e que o presidente da UNIÃO, Guarino
Fernandes dos Santos, havia solicitado que Massilon fosse avisado em Santos,
dos rumos do movimento grevista, sendo que este não vinha medindo esforços para
a paralização ser total na baixada santista, sendo que posteriormente a esta
greve, a ferrovia, dirigida pelo engenheiro Chafic Jacob, promoveu a
transferência de diversos líderes grevistas, dentre eles, Massilon que foi
transferido para a cidade de Piracicaba. Para não fugir de seu estilo, o líder
ferroviário convocou uma Assembleia com a finalidade de discutir com a
categoria, a sua remoção. A Assembleia
definiu que o mesmo não deveria aceitar a remoção e esta decisão, foi
comunicada pelo próprio a direção da Estrada:
“...enviei carta ao diretor da
E.F. Sorocabana comunicando que por decisão de Assembleia da classe
ferroviária, foi aprovada a devolução da carta de remoção para Piracicaba ao
chefe de Estação de Santos. Os ferroviários consideraram a remoção como um
instrumento de perseguição, fruto das ameaças do senhor Chafic Jacob. Afirmo na
carta que não aceitamos responsabilidades pelas ocorrências provenientes da
situação criada pela exploração impune daqueles que vivem de salários: A Força Pública,
Jornalistas, radialistas e até Juízes do Ministério do Trabalho, lançando mão
da arma pacifica que é a greve, disseram não a alta do custo de vida e por esta
mesma atitude, somos vitimas de vingança pessoal por parte de pessoas que não
apreciam nossas atitudes em defesa da classe ferroviária. Eu, Massilon Bueno,
não aceito esta remoção, nas condições em que foi feita, porque a dignidade de
um homem consciente exige que se imponha respeito a nossos direitos. De Santos
não me afastarei, obedecendo a deliberação desta Assembleia. Demitindo-me pela
segunda vez, pelo mesmo motivo de defender a classe, estarão cometendo uma
injustiça maior...
Continua Massilon, em sua carta
ao Diretor da EFS:
... Junto a esta missiva um
Atestado Médico de saúde de minha esposa, provando que seu estado não permite o
afastamento de Santos, devido alterações em sua pressão arterial alterada pelo
distúrbio emocional, causado na ocasião em que perdemos um filho de dezesseis
anos, morto no limpa-trilhos de uma locomotiva, lutando por uma Sorocabana
maior e melhor...
... deixo claro que esta
remoção é uma imposição fascista, ditatorial, antidemocrática que somente
poderia ser praticada por um paranoico, que ocupando cargo de responsabilidade,
tornou-se um carrasco dos ferroviários da Sorocabana...”.
Em 18 de fevereiro de 1962, a
Delegacia de Polícia de Santos, envia telegrama para São Paulo, com a
informação de que Massilon estaria agitando a classe ferroviária, preparando
movimento grevista em busca de 45% de aumento salarial e em fevereiro do mesmo
ano, em relatório dirigido ao delegado Hélio Pereira Pantaleão, o agente do
DOPS informava que no dia 14 de fevereiro, havia sido realizada assembleia da
UNIÃO em São Vicente, presidida por Guarino Fernandes dos Santos e que na
ocasião, Massilon discursara de forma inflamada:
“... deu conta aos presentes do
movimento grevista instaurado em 25 de janeiro pp., lendo em seguida um
memorial, na qual solicitava da Sorocabana o afastamento do engenheiro Chafic
Jacob, denunciando a perseguição por parte deste engenheiro, aos integrantes de
piquetes de greve, tendo já havido a transferência de Gilvan Freire Barros, da
divisão de Santos para o ramal de Dourados e de Raimundo Pereira da Silva,
também de Santos para Presidente Prudente, além de sua própria para Piracicaba.
Nesta altura, vários apartes foram solicitados, com os aparteantes insistindo
em ameaças de morte ao engenheiro...”.
Nova reunião realizada em 1º de
fevereiro de 1962, em Botucatu sob a presidência de Mario Franco de Godoi,
contando com a presença de Massilon e Guarino, com Massilon discursando sobre o
direito de greve, afirmando:
“... estão nos processando,
deixem que nos processem, porque sabemos responde-lo e não será uma mera
portaria ministerial que irá revogar lei aprovada e amparada pela constituição,
que nos garante o direito de greve...”.
Em 9 de setembro de 1962,
relatório reservado informava que a UNIÃO havia realizado assembleia em sua
sede, no bairro de Catiapõa, em São Vicente, com a presença de Guarino
Fernandes dos Santos, Francisco Gomes e Massilon, discutindo a pauta de
reinvindicações que seria apresentada ao governo do Estado e dentre elas, o
pagamento do 13º salário. Embora previsto desde a década de 40, na CLT, o 13º
salário não era pago e se tornava presença constante na pauta de
reivindicações.
Neste mesmo ano de 1962,
Massilon foi candidato a Deputado Federal em dobradinha com Guarino Fernandes
dos Santos, que foi candidato a Deputado Estadual e embora tenham tido boa
votação, não conseguiram se eleger. Transcrevemos a seguir, o manifesto de
Massilon, aos ferroviários, em busca de voto:
“ Massilon Bueno é o candidato
dos ferroviários. Toda a sua vida foi dedicada aos problemas e as
reivindicações dos trabalhadores em Estradas de Ferro. Desde 1925, Massilon
trabalha na Estrada de Ferro Sorocabana, onde começou como ajudante de artífice
truqueiro. Foi fundador do Sindicato dos Ferroviários da Sorocaba em 1934 e
começou as atividades da Cooperativa de Consumo. Posteriormente, lutou pela
Organização da União dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana.
Participou de uma serie de palestras pela Paz Mundial, no Brasil e no Exterior,
tendo sido delegado, ainda, em Congressos de Trabalhadores no México, Havana e
Moscou. Com base num longo passado de lutas, foi que os trabalhadores da
baixada santista, lançaram o nome de Massilon Bueno para deputado federal,
salientando que os ferroviários não devem votar nos falsos representantes
ferroviários, que só se apresentam em épocas de eleições. O comitê de Massilon
funciona no sistema de boa vontade. Eles conclamam: Monte imediatamente,
operário, um comitê em seu lar, para derrubar esta fortaleza que usa todos os
meios para manter o nosso povo na mais negra miséria. O único compromisso deste
comitê é o de escrever cinco cartas, para cinco pessoas honestas, de sua
confiança e que devem ser entregues em mãos, com o compromisso destas pessoas
fazerem o mesmo, pedindo o voto dos trabalhadores de sua categoria, em uma pessoa que tenha um
passado capaz de garantir um futuro de lutas e que prefiram passar fome, a
trair a classe e que tenham uma vida inteira
na vanguarda da defesa dos justos e
legítimos direitos daqueles que labutam incessantemente nas estradas de ferro.
Para Deputado Estadual, Massilon está com GUARINO FERNANDES DOS SANTOS,
presidente da UNIÃO e defensor intransigente da classe ferroviária. VOTE
MASSILON e GUARINO, para o bem da classe ferroviária.”
Em 4 de setembro de 1962, a
Delegacia de Polícia de Botucatu, informava que este reunido com os
ferroviários daquela cidade, em companhia de Guarino Fernandes dos Santos e
Francisco Gomes, em campanha eleitoral dele, para Deputado Federal e de Guarino
para Estadual.
Em 27 de outubro de 1963,
esteve na Vila Ferroviária de São Vicente, onde realizou rápida reunião na
Associação respectiva, concitando os presentes a se reunirem novamente dia 10 de
novembro, para possível nova deflagração de greve da Sorocabana, caso até
aquela data não sejam atendidas suas reivindicações, como o pagamento de 13º
salário, retroativo a 1962.
Em março de 1964, mais
precisamente na primeira quinzena, uma Assembleia das Confederações
representativas dos trabalhadores brasileiros realizou-se na cidade de São
Paulo, com a finalidade de iniciarem os preparativos para a realização de um
grande ato no dia 1º de Maio, ocasião em que os trabalhadores dariam uma
demonstração de aglutinação de massas, favoráveis ao presidente João Goulart.
Nesta mesma Assembleia ficou deliberado
que uma comissão de dirigentes sindicais seguiria para Bauru, com a
finalidade de verificar “in loco” a situação de Jofre Correa Neto, líder
camponês encarcerado naquela localidade por ter invadido uma fazenda
improdutiva de propriedade do mau patrão, JJ Abdala. Teriam surgido informações
de que Jofre teria desaparecido da cadeia, juntamente com o carcereiro, com
suspeitas de que o líder camponês teria sido envenenado. Mesmo com a
improcedência da informação sobre a presumida morte de Jofre, resolveu-se
posteriormente, enviar telegramas ao Ministro da Justiça e ao Presidente da
República, no sentido de que intercedessem por Jofre, antes que o mesmo efetivamente
desapareça.
Dos apontamentos no DOPS, era
constante a movimentação de Massilon, sedo que em 26 de setembro de 1963, o
delegado Agnelo Audi, de Botucatu, informava que em companhia de Mario Franco
de Godoi e Celestino dos Santos, João Batista Domene e Francisco Costa,
realizaram reunião com os ferroviários para comunicarem que se a ferrovia não
atendesse suas reivindicações até o dia 30, do mesmo mês, os ferroviários
entrariam em greve dia 3 de outubro.
Assim a vida deste líder era
monitorada diuturnamente pela repressão política, davam conta novamente da sua
presença em Botucatu –Sp., participando de Assembleia preparatória para o
movimento grevista de 12 de novembro de 1963, que durou dezoito dias. O
delegado de Polícia de Botucatu enviou o telegrama abaixo para São Paulo:
“... comunico v.s., assembleia
realizada sábado ultimo dia 8 vigente, às 20:00 horas, sede União Ferroviários
da Sorocabana, no Palacete Lunardi, Vila dos Lavradores, congregando elementos
da citada agremiação. Na presidência figurou ferroviário Mario Franco de Godoi
que distinguiu um único orador, Massilon Bueno que invocou principalmente
aumento dos funcionários públicos federais que considerou justo e reclamou
idêntica medida por parte do governo estadual. Assinalou situação calamitosa
dos inativos que estão com atrasos consideráveis no recebimento de diferenças
de aumento de vencimentos. As 22:00 horas encerraram sessão, que contou com
cerca de 100 pessoas, transcorrendo sob aspecto de ambiente calmo”.
Em 19 de dezembro de 1963, os
ferroviários reuniam-se em Assembleia no Sindicato da Santos-Jundiaí, na rua
Santa Ifigênia, São Paulo, e Massilon declarava:
“ ...que uma comissão daqueles
trabalhadores esteve na Guanabara, a fim de manter contato com as autoridades e
saber das mesmas, em que pé se encontra a prometida federalização da Sorocabana,
visto que o prazo de 30 dias já está se esgotando e o governador de São Paulo
nada resolveu em favor dos ferroviários. A resposta das autoridades federais é
que estão estudando o caso; portanto, continua a mesma promessa e nada fazem de
concreto. Por outro lado, as autoridades do Estado, também, nada querem, apesar
dos vários ofícios já enviados as mesmas, solicitando uma solução para a
questão...
... que o governador de São
Paulo, ao invés de solucionar o impasse, vem complicando ainda mais, cerca de
dois mil ferroviários já foram dispensados e noventa e seis estão sendo
processados pelo DOPS, por participarem da greve. Diante destes fatos,
decidimos convocar a Assembleia para hoje, quando a classe será colocado ao par
da verdadeira situação. Que a ordem do dia é mobilizar a classe ferroviária,
face estar se esgotando o prazo de trinta dias, sem nenhuma solução
satisfatória para o caso. Que, na Assembleia de hoje, sairá a palavra de ordem
para as Assembleias a serem realizadas ao longo da ferrovia ( 18 delegacias), a
partir de amanhã, dia 20 até domingo, dia 22, mantendo assim, a classe em
estado de alerta, pois existe a possibilidade de um novo movimento grevista...
...que, porem, desta vez a
coisa será bem diferente, visto que, se for necessário deflagrar nova greve, os
ferroviários da Sorocabana contarão com o apoio da CGT, PUA, P.A.C.,Forum
Sindical de Debates e de mais dezesseis ferrovias do país, conforme acordo já
firmado na Guanabara...
...disse ainda que, no último
dia 18, uma comissão de ferroviários se avistou com o senhor presidente João
Goulart, quando de sua visita a COSIPA, tendo, na oportunidade reiterado ao
senhor presidente, a necessidade da federalização da E. F. Sorocabana, fazendo
ainda, sentir ao senhor presidente, que o prazo de trinta dias está se
esgotando. Em resposta, o senhor Jango Goulart, mais uma vez prometeu resolver
a questão. Portanto, vamos aguardar o final do prazo, mas com a classe
mobilizada.”
No final de 1963, dia 26 de
dezembro, nova reunião em Botucatu, com Massilon incentivando os ferroviários a
enviarem telegramas ao senhor João Goulart, cobrando a federalização da
Sorocabana.
Às vésperas do Golpe Militar,
em fevereiro de 1964, e novamente na
cidade de Botucatu, discursou criticando de forma áspera o governador Adhemar
de Barros.
Em decorrência da greve de 18
dias, juntamente com outros líderes ferroviários, foi suspenso
administrativamente por trinta dias, punição esta, renovada por mais trinta
dias, suspensões estas preparatórias para sua segunda demissão dos quadros da
ferrovia. Mesmo suspenso, subscreve um manifesto lançado pela UNIÃO, no qual,
segundo a polícia, “atacam
exageradamente os governadores Adhemar
de Barros, Carlos Lacerda e Magalhães Pinto, taxando-os de gorilas e golpistas,
incitando ainda os ferroviários a adentrarem em greve de protesto, contra os
mesmos” e logo depois, subscreve novo manifesto apoiando deflagração de greve
geral no Brasil, comandada pela CGT.
Indiscutivelmente, Massilon
sempre esteve na vanguarda nas lutas da classe ferroviária, dotado de humanismo
e solidariedade, e prova cabal disto, foi a organização de protestos pela
prisão do companheiro de diretoria da UNIÃO, Francisco Gomes, na cidade de
Assis e posteriormente, recambiado para o DOPS/Sp, sendo certo que não foi necessária
a greve, graças a liberdade do sindicalista.
Em 8 de Janeiro de 1964,
encaminhou ofício ao Presidente do Fórum Sindical de Debates, na cidade de
Santos, solicitando colaboração financeira das entidades sindicais da baixada
santista, para poder viabilizar o envio de uma delegação ao VII Congresso
Nacional dos Ferroviários, que seria realizado em Recife, no final daquele mês,
explicando que em decorrência da greve de dezoito dias realizada no final de
1963, em busca de melhores salários e condições de trabalho, os ferroviários da
Sorocabana e suas entidades representativas vinham sofrendo represálias por
parte do governador Adhemar de Barros
que dentre outras medidas, havia demitido 140 ferroviários contratados,
suspendido por trinta dias, noventa e seis ferroviários, aumentado a penalidade
para sessenta dias, com ameaças de chegar a noventa, além de, a partir do mês
de novembro de 1963, ter suspendido o desconto em folha das mensalidades das
associações de classe, e deste mês em diante, a UNIÃO estava em dificuldades de
atender suas necessidades financeiras, buscando desta forma, de forma tirana e
arbitraria, liquidar com as organizações de classe da Estrada de Ferro
Sorocabana. Além disso, o não pagamento dos dezoito dias de greve, ocasionou um
desequilíbrio financeiro nos vinte e dois mil ferroviários que participaram do
maio movimento reivindicatório da história da ferrovia. Ante esta exposição,
Massilon, finaliza dizendo que as dificuldades financeiras enfrentadas pela
UNIÃO e pelos ferroviários, estavam impedindo a ida de ferroviários da
Sorocabana, ao VII Congresso Nacional, e solicita a colaboração de outras
entidades sindicais. O apelo foi atendido e uma delegação da Sorocabana esteve
presente ao Congresso.
Foi preso em 1964, demitido da
ferrovia e posteriormente, em 10/05/1966, foi absolvido pelo juízo da 12ª Vara
Criminal, da acusação de instigador da greve de 18 dias. Mesmo demitido e
enfrentando problemas de saúde, continuou atuando politicamente e sempre que
possível, estava ao lado das lutas da classe ferroviária. Em março de 1966, o
Juiz Wilson José de Mello, da 12ª Vara Criminal de São Paulo, absolveu todos os
denunciados por instigação da greve de 12 à 30 de novembro de 1963. Foram
absolvidos: Francisco Gomes, Guarino Fernandes dos Santos, Celestino dos
Santos, Massilon Bueno, José Batista, Jacinto Dias Portes, Norberto Ferreira e
Antonio Augusto Mendes Junior.
Homem forjado na luta, ético e
coerente, deixa saudades perenes em todos que com ele conviveram, que se
recordam da capacidade de sua oratória, conseguindo comover a todos que o
ouviam. A seguir, alguns dos relatos policiais, sobre suas atividades
políticas. Indiscutivelmente, ao lado de Carminio Caramante, Brasil Mirim,
Francisco Ramirez, Celestino dos Santos, Francisco Gomes, Luiz Bascheira,
Guarino Fernandes dos Santos, constituiu-se em uma das maiores lideranças dos
ferroviários, no século passado.
Este texto faz parte do livro “Ferroviários,
na LUTA”, de Antonio Pedroso Junior.