segunda-feira, 6 de outubro de 2014

NORBERTO FERREIRA

Natural de Assis, Estado de São Paulo, onde nasceu em 4 de maio de 1929, filho  de Joao Agostinho Ferreira e de dona Paula Maria de Jesus.
Mestre de Obras da Sorocabana, filiado a UNIÃO e um de seus dirigentes em Assis, Estado de São Paulo, onde tinha forte liderança no meio ferroviário, tendo sido eleito vereador por diversos mandatos naquela cidade, tendo sido inclusive o presidente da Câmara Municipal. Caboclo simples, sem trato refinado com as palavras, conseguia impor de forma natural sua liderança, o que o transformava em um dos alvos preferidos da repressão politica, que desde aquela época, não se conformava em ver um trabalhador fazendo politica. Dispensado em 1964, montou uma pequena empresa de pintura residencial e não lhe faltavam serviços, inclusive fora da cidade. Ao contrario da maior parte dos caboclos, não era desconfiado, ao contrario, acreditava em demasia no próximo e com isso, andou acumulando alguns prejuízos, em decorrência do não recebimento de serviços prestados, entretanto, se virava fazendo empréstimos bancários e não deixando seu pequeno grupo de funcionários, sem o pagamento devido. Este tipo de conduta fazia com que Norberto gozasse de alto conceito em sua comunidade, e mesmo punido pela Estrada de Ferro Sorocabana, como não teve os direitos políticos cassados, continuou exercendo o mandato de vereador, sendo reeleito por diversas vezes, muito embora, por diversas vezes tivesse o promotor público da comarca, solicitado a impugnação de sua candidatura, em virtude te ter sido punido pelo Ato Institucional de 1964. Depois de alguma celeuma, a candidatura era liberada e Norberto, eleito. Foi vereador de 1964, eleito em 1963 até 1988, perfazendo 24 anos de mandato, tendo na primeira eleição disputado pelo Partido Trabalhista Nacional – PTN – e todas as demais, pelo MDB e seu sucedâneo, o PMDB, sendo coerente com seu pensamento politico
Era monitorado constantemente pelos agentes do DOPS e seus apontamentos nos arquivos daquele departamento, confundem-se, no que diz a atuação na UNIÃO com os anotados nas fichas de Massilon Bueno, Francisco Gomes e Guarino Fernandes dos Santos, presenças constantes nas assembleias e manifestações realizadas na cidade de Assis que era considerado importante ponto de concentração ferroviária, sempre merecendo atenção especial, por parte dos dirigentes da UNIÃO. Em 1964, foi preso e conduzido para São Paulo, permanecendo mais de quarenta dias encarcerado, sendo libertado em final de maio, posteriormente em outubro de 1964, foi demitido da Sorocabana, com base no Ato Institucional de 9 de Abril daquele ano.
Em decorrência da greve dos dezoito dias, ocorrida em outubro de 1963, juntamente com outros quarenta e três ferroviários de Assis, foi indiciado em inquérito e processado, acusado de infringir o artigo 13, da Lei 1802/53 e mais os artigos 51 e 201 do Código Penal Brasileiro. O processo é o de número 95/64, e foi ouvido em 16 de junho de 1964, sendo acompanhado de seu defensor, doutor Walmir Antunes Ribeiro. Seu depoimento, prestado ao Juiz de Direito, doutor Anis Buchala, certamente não colaborou muito para elucidar as denúncias, formuladas pelo Ministério Público. Veja:
“...é verdadeira a acusação contra si feita, em parte. O interrogando é pintor no deposito da EFS e aderiu ao movimento grevista que eclodiu no dia 12 de novembro de 963. Sua adesão ao movimento, deve-se a melhoria dos salários que estava sendo reivindicado pelos ferroviários. O interrogando não participou de qualquer grupo de piquete. O interrogado participou de uma reunião na sede da UNIÃO, onde compareceu um repórter fazendo entrevistas com os ferroviários. Realmente o interrogando foi entrevistado pelo referido repórter, respondendo as perguntas que lhe foram dirigidas. Ele pessoalmente  não fez nenhuma ameaça aos seus companheiros, procurando evitar que os mesmos retornassem ao serviço. Na reunião mencionada, na qual participou o interrogando, não houve qualquer sugestão para tomada de medida mais violenta, para atingir os fins objetivados pelos grevistas. O interrogando participou de uma greve anterior em 1962. Entretanto, este movimento grevista teve duração mínima, sendo logo resolvido o impasse, Nunca foi processado anteriormente...”
Em 1979, foi beneficiado pela lei 6683, que anistiou dentre outros, os funcionários públicos, atingidos por atos discricionários, entretanto, o governador de São Paulo, era o senhor Paulo Salim Maluf, que simplesmente não aplicou a lei, em nosso estado. Em 1983, com a posse do governador Franco Montoro, foi empossado como presidente da FEPASA, sucedânea da Sorocabana, o engenheiro Cyro Antonio de Laurenza Filho, que reintegrou aos quadros da ferrovia, cumprindo sentença judicial, os irmãos Ademar e Antonio Figueiredo, tendo ainda levado para sua assessoria, Guarino Fernandes dos Santos e Reginaldo Valadão. A FEPASA até que enfim, cumpriu a lei de Anistia, reintegrando ou aposentando os demitidos de 64. No caso especifico de Norberto, foi reintegrado e continuou trabalhando como Mestre de Obras. Sua alegria pela volta ao trabalho na ferrovia era contagiante
Ainda em 1979, no dia 22 de Novembro, a Câmara Municipal de São Paulo, por iniciativa do vereador Eurípedes Salles, aprovou moção de congratulações a Norberto, por sua postura contra a reformulação partidária.

Faleceu em 5 de julho de 2013, aos 84 anos de idade, mantendo uma vida ativa, participando dos eventos da comunidade assisense e fazendo-se sempre presente na Câmara Municipal de Assis, discutindo politica.

domingo, 5 de outubro de 2014

MANOEL AMORIM

Ferroviário da Estrada de Ferro Sorocabana, trabalhando e residente em Presidente Prudente –Sp.,  era outro dos ferroviários com destacada atuação sindical, acusado de ser militante comunista, fato que o levou  ser demitido dos quadros da ferrovia, em 7 de outubro  1964, em decreto do governador Adhemar de Barros, com embasamento no Ato Institucional de 9 de Abril daquele ano. Por participar da UNIÃO DOS FERROVIÁRIOS DA ESTRADA DE FERRO SOROCABANA, tendo inclusive sido Delegado Regional em Prudente, e também das entidades que a antecederam na defesa dos interesses da classe ferroviária, era constantemente monitorado pelo Departamento de Ordem Política e Social – DOPS -.
Em 5 de fevereiro de 1948, o Delegado Regional de Polícia de Prudente, encaminhou uma listagem de elementos reconhecidamente comunistas na região e dentre eles constava Amorim, que a época exercia as funções de 2º guarda-chaves na ferrovia e em março deste mesmo ano, é novamente citado como comunista perigoso. Em 1953, era anotado em sua ficha, como um dos contribuintes do jornal comunista, Notícias de Hoje.
Registrada sua presença no II Congresso Estadual dos Ferroviários Paulistas, como um dos representantes da Sorocaba, congresso este realizado em Campinas, entre 13 e 16 de junho de 1963,
Em 29 de julho de 1963, era relacionado como agitador comunista e como Delegado Regional da UNIÃO em Prudente, estando igualmente relacionados os senhores: Geraldo Spindola, José Henrique,  Demostenes Basso e José Salas Molina, todos segundo Bispo Diocesano daquela cidade, Dom José de Aquino Pereira, envolvidos com o PCB. E,  em  5 de abril de 1964 e novamente era relacionado, dizendo que estava preso e iria ser recambiado para São Paulo, com a menção de que era agitador comunista e altamente perigoso. Depois do Golpe Militar, continuou atuando politicamente e constantemente era anotada sua presença, em reuniões do MDB.

AMORIM teve constante e destacada atuação, sempre coerente, em defesa da classe ferroviária e dos interesses populares, e é mais um daqueles demitidos em 1964, de quem não conseguimos maiores informações e esperamos que com a divulgação deste texto, consigamos localizar seus familiares e desta forma, recolocarmos seu nome na história dos defensores da liberdade e da democracia.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

LAURO DOS SANTOS MALVÃO

Natural de Parati, Rio de Janeiro, onde nasceu aos 26 de abril de 1916, filho de Nice Maria de Souza. Em 1940, adentrou aos quadros da Sorocabana, onde permaneceu até 19 de setembro de 1964, quando foi demitido com base no Ato Institucional de 9 de abril do mesmo ano. Trabalhava na chamada linha permanente, na conservação da linha férrea, exercendo as funções de truqueiro. Atuava na UNIÃO, sempre na defesa dos interesses da classe ferroviária, participando de assembleias e greves da ferrovia, sempre em companhia de lideranças da baixada santista, como Massilon Bueno e Celestino dos Santos. Sua constante participação, principalmente nos piquetes grevistas, ocasionaram perseguições, prisões até culminarem com a demissão. Posteriormente, em 1966, foi indiciado em Inquérito Policial, como suspeito de estar organizando sabotagem no gasoduto de Santos, sendo posteriormente absolvido.
Em 1970, voltou a ser indiciado em Inquérito Policial, acusado de ser um dos responsáveis pela distribuição do jornal A VOZ OPERÁRIA, órgão de divulgação do Partido Comunista Brasileiro, em decorrência de informações prestadas por Oscar Rodrigues Paz para a policia. Indiciado com diversos outros companheiros ferroviários, dentre eles, Celestino dos Santos e Francisco Gomes, acabando por  igualmente ser absolvido.
Residia em Pedro de Toledo, no Vale do Ribeira, e mesmo afastado da ferrovia, aposentado em 1983, em decorrência da Lei de Anistia de 1979, continuava a lutar por seus direitos e de seus companheiros, sofrendo ainda no final da vida, represálias por parte de funcionários da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, que insistiam em suspender sua aposentadoria, por entenderem ser a mesma ilegal, em uma espécie de perenização da perseguição. Conseguiu a indenização por ser ex-preso politico no estado de São Paulo e o reestabelecimento de sua aposentadoria, por intermédio do autor deste texto.
Lauro, dentro de sua simplicidade, e principalmente pelo seu companheirismo, deve ser sempre lembrado como defensor intransigente da classe trabalhadora.

HAROLDO LINO CORREA

Chefe de Trem, da Sorocabana, lotado em São Vicente , punido por participar da UNIÃO, preso em 1964, demitido dos quadros funcionais da ferrovia no mesmo ano, monitorado pela polícia politica, e sofrendo perseguições por parte da diretoria da Estrada. Libertado em início de maio de 64, depois de permanecer encarcerado por aproximadamente trinta dias, logo no mês de julho foi transferido para Presidente Prudente, para em setembro ser demitido, com fundamentação legal no Ato Institucional de Abril, deste ano. Foi contratado para trabalhar na Cooperativa de Consumo dos Ferroviários em São Vicente, e constantemente informes do DOPS eram realizados para avisar aos superiores que Haroldo e outros subversivos, estariam trabalhando naquele local. Acusado em 1966, de juntamente com os companheiros ferroviário Gilvan Freire Barros e Walter Fernandes, estar organizando sabotagem no gasoduto de Santos, acabou indiciado em inquérito policial, sendo posteriormente absolvido. As anotações constantes em sua ficha, são relacionadas a participação em assembleias e greves de ferroviários, ocasiões em que ao lado de Gilvan e Walter era o responsável pela organização dos piquetes, com a finalidade de se evitar as atividades dos “fura-greve”. Uma anotação em seu prontuário, datada de  1º de Abril de 1968, chama a atenção por trazer um elemento novo. Registrado que juntamente com os inseparáveis Walter e Gilvan, estiveram juntos com Massilon Bueno  e Chico Ferroviário, apoiando a chapa Unidade, encabeçada por José Scott, que concorreu e venceu as eleições para renovação da diretoria da Cooperativa. O detalhe é que o agente policial em seu relatório afirma que Chico Ferroviário era o pseudônimo de Guarino Fernandes dos Santos,
Mudou-se, posteriormente com a esposa Walcira e as filhas, Cristina, Marlene e Lia para a cidade de Iguape, Estado de São Paulo, onde exerceu diversas atividades em busca da sobrevivência, e em uma delas, mostrava sua veia artística, pintando verdadeiras obras de arte, nas paredes de estabelecimentos comerciais da cidade. A Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo suspendeu seu pagamento sob a acusação de estar irregular e adentrou com ação judicial com a finalidade de cobrar os valores, pretensamente pagos de forma irregular. O resultado desta ação foi trágico, pois nervoso com  a situação, Haroldo enfartou e faleceu.

Construiu uma história de lutas e principalmente de paixão pelas causas populares.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

JOÃO BATISTA SPANIER

Natural de Tatuí, Estado de São Paulo, nascido aos 23 de junho de 1919, filho de Pedro da Silva Spanier e de Carolina Arruda Campos. Ferroviário da Sorocabana, membro atuante da UNIÃO e militante do Partido Comunista Brasileiro – PCB -. Diversas anotações são encontradas em seu prontuário do antigo DOPS, sendo que aos 8 de setembro de 1962, foi comunicado que convocara concentração ferroviária, de Santos a Juquiá e de Mairinque a Santos, com objetivo de conquistarem melhorias salariais, antes do mês de outubro, juntamente com Guarino Fernandes dos Santos e outros agitadores. Encontrada ainda a anotação de que em meados de 1963, fora signatário de manifesto aos ferroviários, conclamando os a greve geral. Em maio de 1964, foi indiciado em Inquérito Policial na cidade de Assis, Estado de São Paulo, sendo certo que este procedimento foi arquivado pelo Juiz de Direito daquela comarca, em 18 de maio de 1965.Também em 1964, teve sua aposentadoria da Estrada de Ferro Sorocabana cassada por decreto do governador Adhemar de Barros,
Novamente indiciado em Inquérito  Policial, em 15 de julho de 1970, com a finalidade de serem apuradas suas atividades subversivas, como integrante da Ação Libertadora Nacional – ALN -.Spanier foi preso pela Operação Bandeirantes, em abril de 1970 e não suportando as torturas, acabou por falar aquilo que sabia a respeito da ALN, sendo certo que em 5 de maio de 1970, prestou depoimento a equipe “C” do DOPS, comandada pelo delegado Walter Luciano Marini. Spanier não suportou a pressão policial e acabou confessando sua participação na Ação Libertadora Nacional – ALN – e, informando com detalhes sua participação, a de outros companheiros e algumas ações realizadas.
“... declarou que utilizava os codinomes de Português, Júlio e Torpedo, sendo responsável, juntamente com Francisco Gomes, o Beduíno, pelo esquema de segurança de Joaquim Câmara Ferreira, o Toledo. Que como tinha uma casa mobiliada, preparada para moradia de seu filho e familiares, Toledo mudou-se para ela, e mesmo antes disso, havia cedido este imóvel para reuniões da organização. Afirmou ainda que era o motorista de Toledo, com seu próprio carro o transportava para diversos pontos, onde o mesmo mantinha contato com outros elementos da organização. Que Francisco Gomes, mudou-se com a esposa e filhas, para uma casa alugada pela organização, sendo certo que Toledo e o declarante, passaram a residir nesta casa, com Toledo fazendo-se passar por tio da esposa de Gomes.
Que anteriormente, era ferroviário da Estrado de Ferro Sorocabana e teve sua aposentadoria cassada pelo governador Adhemar de Barros, quando da revolução de 64, sendo que atuava na União dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana e que por muitos anos, foi militante do Partido Comunista Brasileiro. Que em 1968, depois de alguns anos se dedicando a agricultura, em um sitio de sua propriedade em Palmital, Estado de São Paulo, aceitou o convite da diretoria da Cooperativa de Consumo dos Ferroviários da Sorocabana e veio a exercer as funções de Chefe de Escritório desta entidade na Barra Funda.
Que Francisco Gomes, o Beduíno e Raphael Martinelli, o David, reuniram-se com o declarante, e expuseram que estavam na organização fundada por Carlos Marighela, chegando a leva-lo no local onde seria efetuado o assalto ao trem pagador da Santos-Jundiaí, isso, cerca de oito dias antes do ocorrido. No dia do assalto, estava em Assis e não comunicou as autoridades o seu planejamento, por estar aderindo a nova organização.
Participou de duas reuniões na casa de André Bueno Acosta, tratando da organização da ALN, com Francisco Gomes e Raphael Martinelli, sendo certo que Toledo e Jonas, participaram somente da segunda, na qual se tratou de um assalto a KRUPP em Jundiaí. Martinelli ficou de realizar o levantamento do local, entretanto, o declarante e Gomes, estiveram igualmente no local, com a finalidade de verificarem a viabilidade do assalto. Que em novembro de 1969, no escritório da Cooperativa, estando presentes Otavio Ângelo, o Tião, Gomes, Martinelli e Guiomar da Silva Lopes, a Maria, estando presentes mais dois elementos do estado do Paraná, foram tratados assuntos gerais, tendo ficado decidido que Tião ficaria como responsável pelo ensinamento da fabricação de bombas. Que no momento de sua prisão, encontrava-se com Francisco Gomes, que não foi abordado pelos policiais. Que foi Alencar que transportou em seu carro alguns fuzis FAL, que tinham sido furtados do exercito pelo Capitão Carlos Lamarca...”.
Interessante deixar registrado que quando de sua demissão em 1964 e indiciamento em Inquérito Policial na cidade de Assis, acusado de militância comunista, tentou em sua defesa provar que não tinha envolvimento com o partido, reunindo cartas de pastores evangélicos que testemunharam que era membro integrante da Igreja Assembleia de Deus e em processos disponíveis no Brasil Nunca Mais Digit@l. consta as acusações contra Spanier, no ano de 1970. Um texto publicado no site ultimato.com.br, fala das pessoas evangélicas punidas ou perseguidas pelo Golpe Militar. Spanier é citado:
“...João Batista Spanier foi demitido da Sorocabana “a bem do serviço público” pelo Ato Institucional de abril de 1964. Atuava como ferroviário em abril de 1964 e foi acusado de ser comunista. Em sua defesa reuniu cartas de pastores que afirmaram sua filiação à Assembleia de Deus. Foi demitido junto à outros 41 funcionários.

Em 1970 Spanier foi acusado de “praticar atos de sabotagem ou terrorismo”. A argumentação de sua defesa foi de que “a denúncia orientou-se pelo interrogatório do réu no inquérito policial militar, que, como é óbvio, traz a suspeita que tem se evidenciado peças de coação – física e moral no trabalho que a polícia política tem que realizar na investigação preliminar à instauração dos processos”. Pelos processos disponíveis no Brasil Nunca Mais Digit@al, a acusação era no sentido de que Spanier atuava como motorista para a ALN em São Paulo, tendo sido preso com vários membros da organização.”
JOÃO BATISTA SPANIER, mesmo entregando seus companheiros para a repressão em 1970, não suportando as torturas sofridas,  não pode ser esquecido como lutador incansável pelos direitos da classe ferroviária.















ANTONIO R. FIGUEIREDO

Filho de Abílio R. Figueiredo e de Thereza Covos, natural de Sorocaba, Estado de São Paulo, onde nasceu aos 15 de fevereiro de 1931, era professor da Escola da Sorocabana e membro atuante da UNIÃO. Católico praticante, não tinha militância politica dentro dos quadros do Partido Comunista Brasileiro – PCB -, entretanto para os agentes policiais, sindicalista era sinônimo de comunista e ponto final. De suas afirmativas, não cabiam explicações e muito menos, recursos, considerando que seus relatórios invariavelmente eram realizados de forma sigilosa e secretamente, arquivados. Toninho como era chamado, foi secretario da UNIÃO, um dos redatores do Estatuto dos Ferroviários, aprovado em 1º de junho de 1958 e era presente constante nas atividades da UNIÃO, razão pela qual as anotações a seu respeito nos arquivos do DOPS são numerosas, sempre ao lado de seu irmão Ademar e dos líderes sindicais: Guarino Fernandes dos Santos, Massilon Bueno, Luiz Bascheira, Francisco Gomes, e considerando que a maior parte destas anotações já constam das histórias dos protagonistas deste trabalho, selecionamos aquelas informações que ainda não constam.
Em 29 de abril de 1957, em Assembleia realizada no Cine Líder de Sorocaba, presidida por Guarino Fernandes dos Santos e secretariada pelo nosso protagonista, tendo sido discutidos diversos assuntos de interesse da classe, especialmente a reestruturação de diversas categorias de ferroviárias e as propostas apresentadas, aprovadas por unanimidade. Neste mesmo dia, ferroviários liderados por Ciro Ferreira, apresentaram pedido de expulsão dos quadros da UNIÃO, dos dirigentes: Antonio R. Figueiredo e Luiz Bascheira, por estes terem participado da campanha eleitoral de Prestes Maia, para prefeito da capital paulista, sem expressa autorização da classe ferroviária. Depois de discutirem o assunto, deliberou-se que o mesmo fosse incluído na pauta da próxima Assembleia Geral da União. Assim foi feito e a proposta, não foi aprovada.
Em 14 de maio de 1957, era informado que dois ferroviários, ligados a UNIÃO, seguiriam brevemente para a URSS e muito provavelmente, estes seriam Fabio Coimbra Navarro e Antonio R. Figueiredo.
Neste mesmo ano, em dois de outubro, informe assinado pelo Delegado de Polícia de Sorocaba, Walter Dorin Lilla, repassava para seus superiores, o relatório realizado pelo agente policial: Henrique Mebius, que transcrevemos em parte:
“... a União Nacionalista de Sorocaba, realizou diversos festejos nos dia 26,28 e 29 de setembro passado, nas dependências do Parque Quinzinho de Barros, constando de leilões, bailes ao ar livre, serviço de bar e outras modalidades de esportes...
...foi difundida no local, intensa propaganda em torno da Imprensa Popular, pela UNIÃO NACIONALISTA DE SOROCABA e no encerramento contou com a presença dos vereadores, Dr. Nilton Vieira de Sousa e Amadeu Ferreira, além dos militantes do Partido Comunista Brasileiro: Antonio Cordeiro, Carminio Caramante, Silvio dos Reis Assis, José Matrigani, Antonio Figueiredo, Santa Lopes, Salvadora Lopes, sendo que foi distribuído fartamente, um boletim de apoio a imprensa popular...”
Reproduzimos a seguir, a parte final deste manifesto:
“... BRASILEIRO! NA UNIÃO NACIONALISTA DE SOROCABA HÁ UM LUGAR PARA VOCÊ! VENHA COOPERAR CONOSCO. A PÁTRIA ESPERA QUE CADA UM CUMPRA O SEU DEVER!
...certos que o nosso programa será recebido com entusiasmo e confiança em todos os lares sorocabanos, endereçamos a cada cidadão o nosso caloroso apelo: COM O NACIONALISMO! PELA COMPLETA LIBERTAÇÃO DO BRASIL!”
Em 26 de novembro de 1960 foi indicado pela UNIÃO, para participar da Comissão de Revisão da Reestruturação dos Quadros de Pessoal da Estrada de Ferro Sorocabana, em portaria assinada pelo então diretor da Estrada, Hermínio Amorim Junior.
Em 29 de  setembro de 1964, foi demitido dos quadros funcionais da Sorocabana e incluído no Almanaque das Forças Armadas, fartamente distribuído para empresas publicas e privadas, tornando-se impossível adentrar ao mercado formal de trabalho, e com as economias que possuía montou um pequeno comércio e ingressou no curso de direito, vindo a formar-se, exercendo a advocacia, especializando-se na área trabalhista.
Em 14 de maio de 1957, era informado que dois ferroviários, ligados a UNIÃO, seguiriam brevemente para a URSS e muito provavelmente, estes seriam Fabio Coimbra Navarro e Antonio R. Figueiredo.
Em 13 de junho de 1970, foi preso em sua residência e conduzido para a Operação Bandeirantes – OBAN -, na rua Tutóia em São Paulo, onde permaneceu por trinta dias, investigado sobre as denuncias constantes no depoimento do ferroviário, Oscar Rodrigues da Paz, militante do PCB e demitido da Sorocabana em 1964. Preso em Santos, não resistiu as torturas e além de contar aquilo que sabia, resolveu fantasiar em seu depoimento, afirmando entre outras coisas inverídicas que em companhia de Francisco Gomes, nosso protagonista, Celestino dos Santos, Raphael Martinelli, reuniu-se em um sitio na região de São Roque, onde foi discutida a adesão dos participantes na Ação Libertadora Nacional – ALN -, organização armada liderada por Carlos Marighela. Interessante registrar que Francisco Gomes, um  dos fundadores da ALN, recorda-se desta reunião existiu e dela não participaram os citados por Oscar, pois este igualmente não participou. Depois de praticamente trinta dias na OBAN, foi libertado e o Chefe da 2ª secção da 2ª DI, forneceu-lhe a seguinte declaração:
“...Declaro para os devidos fins que ANTONIO R FIGUEIREDO, esteve a disposição desta Unidade de Infantaria, no período de 13 de junho a 6 de julho de 1970, afim de prestar esclarecimentos...”.
Formado em direito, resolveu acionar em causa própria o governo do Estado de São Paulo e a Estrada de Ferro Sorocabana, no tocante a sua demissão e em 20 de maio de 1980, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, acompanhava o voto do relator, desembargador Toledo Nacarato, tendo presidido o julgamento o desembargador Viseu Junior e Jose Cardinale, como revisor, da oitava turma do Segundo Tribunal de Alçada, sendo que  relator manteve a sentença do Juiz de Direito, dr. Francisco Murilo Pinto, prolatada em 11 de maio de 1979. Eis a parte final desta sentença:
“...no caso, como se viu, o acusado não teve assegurado amplo direito de defesa, não lhe sendo dado oportunidade de produzir as suas provas ou acompanhar de perto, aquelas que o incriminariam.  Já se decidiu que é manifestadamente ilegal o ato de demissão de funcionário publico, com fundamento no artigo 7º, paragrafo primeiro do Ato Institucional de 1964, se não lhe foi assegurado o direito de defesa ( Revista dos Tribunais, 367/65 e 429/216. Assim, é de ser decretada a nulidade da sindicância instaurada contra o autor, anulando-se, em consequência, o ato de demissão, acolhendo-se “in totun”, o pedido inicial.
Pelo exposto e considerando o mais que dos autos consta, JULGO PROCEDENTE a ação para anular a sindicância sumaria a que foi o autor submetido e da qual resultou sua demissão, anulando, consequentemente, o ato que o demitiu, determinando seja ele reintegrado ao cargo que ocupava, com direito a ressarcimento dos prejuízos, aos vencimentos desde a data do afastamento até a reintegração, com as vantagens, acréscimos e majorações que tenham se verificado, contando-se este tempo como de efetivo exercício, tudo consoante pedido na inicial e a ser apurado em execução.
Recorro de ofício.
....”.
Justiça foi realizada, decorridos dezesseis anos da punição, entretanto, outra pedra estava no meio do caminho. Governava o Estado de São Paulo, o senhor Paulo Salim Maluf, verdadeiro filhote da ditadura, incrustado na politica brasileira até os dias atuais e este, simplesmente não cumpriu a sentença, da mesma forma que não cumpriu a lei número 6683/79, a conhecida Lei de Anistia. Tanto a sentença beneficiando Toninho Figueiredo como a lei que determinava a reintegração dos 42 demitidos da Sorocabana, foram cumpridas. Coube ao governador eleito em 1982, pelo MDB, André Franco Montoro, aplicar a lei e cumprir a sentença.
Dos quarenta e dois demitidos, somente Guarino Fernandes dos Santos, enquadrado como Assessor Sindical da Diretoria da FEPASA, Reginaldo Valadão, como Assessor da Presidência e Norberto Ferreira, como Mestre de Obras, foram reintegrados, sendo os demais aposentados.
No cumprimento da sentença judicial, Antonio R. Figueiredo foi reintegrado, exercendo as funções de Superintendente do Departamento Jurídico, na gestão do presidente Cyro Antonio de Laurenza Filho.
Em janeiro de 1980, volta a figurar nos informes do DOPS, como um dos organizadores da “ Semana das Liberdades Democráticas”, realizada no Gabinete de Leitura de Sorocaba e talvez em decorrência do palestrante ser o escritor e então deputado estadual, Fernando Moraes, o agente mudou o nome do evento para SEMANA DE CUBA e desta vez, juntou uma serie de fotografias, onde aparecem figuras ligadas a oposição, dentre eles Antonio R. Figueiredo, Trajano Sardenberg , Eglê Maria Vanucchi Leme, José de Oliveira Leme, não deixando o diligente agente de mencionar a presença do motorista do Passat, placa MB 2806.
Em  26 de março 1980, em relatório reservado do DOPS de Sorocaba, era informado que nosso protagonista e o advogado João Kakimori, estavam manipulando a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba, presidida por Sidney Soares e usavam para esta manipulação, os metalúrgicos Juscelino Araújo Silva, Antonio Rodrigues e Manoel Soares, sendo que esta manipulação ocorria, pois os advogados seguiam orientação do deputado estadual, Almir Pazzianotto. Uma das propostas defendidas e aprovadas pelo Sindicato, era a desvinculação total da Federação da categoria, unindo-se aos sindicatos do ABC e da capital paulista.
Falecido em Sorocaba, podemos afirmar que nosso protagonista era polemico,  desde o sobrenome. Afinal, o R. de seu sobrenome era assim mesmo, o que fazia muita gente confundir este R., como Rocha, Rodrigues, de forma inadequada. Era sindicalista, defensor da classe ferroviária, e critico ferrenho dos comunistas e sua atuação. Posteriormente, em  30 de julho de 1979  , foi declarado anistiado politico brasileiro, em sessão da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, tendo sido relatora a conselheira Sueli Aparecida Belato, que em nome do Estado brasileiro, solicitou desculpas a Toninho, representado por seu procurador, pelas perseguições contra sua pessoa. Desta sessão de julgamento, participaram ainda os conselheiros: Narciso Fernandes Barbosa, como presidente e Juvelino José Strozake, na condição de membro.

Antonio Figueiredo foi representado pelo autor deste livro, em seu processo de anistia. 

terça-feira, 23 de setembro de 2014

JOSÉ LEITE

Natural de Paraguaçu Paulista, Estado de São Paulo, onde nasceu em  4 de outubro de 1928, filho de Sebastião Leite e de dona Iracema Rodrigues Prates, era conferente da Sorocabana, Delegado Regional da União dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana e vereador à Câmara Municipal de Presidente Prudente. Em virtude de sua atuação no meio sindical, era rotulado pelos órgãos da policia politica como comunista e agitador, tendo seus passos constantemente monitorados pelo DOPS, que enviava informes constantes a seu respeito para a capital do Estado.
Ingressou nos quadros da ferrovia em 04 de setembro de 1945, ocupando o cargo de praticante, vindo a ser promovido para as funções de auxiliar, agente e conferente, atuando de forma constante nas lutas reivindicatórias da classe ferroviária, sendo que residindo em Presidente Prudente, elegeu-se vereador nas eleições de 1959, pelo Partido Trabalhista Nacional –PTN e em  29 de dezembro de 1961, o delegado Guilherme Vieci, enviava comunicado para São Paulo, informando que Ataliba Pires de Campo tinha sido eleito presidente da Câmara Municipal para o ano de 1962, tendo José Leite como seu vice.
Em 29 de  julho de 1963, o Bispo da Diocese de Presidente Prudente, Dom José de Aquino Pereira, encaminhou correspondência ao senhor Raphael de Luccas, da direção da Sorocabana, nos seguintes termos:
“... aqui vão as informações solicitadas, embora com um pouco de atraso, bem involuntário, e também com algumas falhas, principalmente no que se refere a endereços.
... como o trabalho foi discreto, não quis estar interrogando ninguém, justamente para não levantar suspeitas ou mesmo, curiosidade. Vai à relação, sem assinatura e sem papel oficial meu justamente por seu caráter reservado. Espero contribuir um pouco para completar suas listas e, se isto fosse possível, gostaria de receber confidencialmente outros nomes que aqui existam e que eu não conheça. Queira apresentar meus cumprimentos aos seus dois colegas de trabalho. Quero agradecer-lhe também o interesse tomado pelo donativo da pedra britada. Já recebi comunicado que foi concedido. Estou agora esperando a concessão do veiculo para o pároco de Teodoro Sampaio. Junto a minha, transcrevo a lista por ele enviada...”
Comunistas e agitadores:
José Salas Molina, sitiante; Manuel Amorim, ferroviário; José Leite, ferroviário e vereador; professor David Serra; Alexandre, José e Inácio Fernandes, comerciantes e parentes; Antonio de Almeida, corretor e fazendeiro; Abílio Augusto Cepede, fazendeiro, ardoroso defensor da causa comunista, tem filho estudando na Rússia; Geraldo Marques Fernandes, médico, procura até imitar Fidel Castro na barba, hospedou em sua casa, durante meses, o agitador rural, Jofre Correa Neto; Júlio de Abreu, médico.
A relação está incompleta, entretanto, demonstra de forma cabal, a colaboração dos conservadores da igreja católica nos preparativos do golpe militar, atuando em suas comunidades, com a finalidade de levantar informações e subsidiar os órgãos repressivos. O que causa estranheza nas informações prestadas pelo Bispo são as contrapartidas oferecidas pela direção da Sorocabana por estas informações. As trinta moedas recebidas por Judas Iscariotis para entregar Jesus, parecem ter se multiplicado na diocese de Presidente Prudente na época, transformando-se em pedra britada e até um automóvel para uso de um padre. Se isto ocorresse hoje em dia, com toda certeza seria motivo de denúncias da pratica de corrupção na autarquia, entretanto, vivíamos o período de um dos governos de Adhemar de Barros, um dos governadores que apoiaram os militares no dia 1º de Abril de 1964 e a pratica da corrupção em seus governos, era visível a olho nu. Estranho, era até a Igreja se render a famosa “caixinha do Adhemar”, em busca de benesses para seus membros.
Em  9 de outubro de 1963, o Delegado Regional de Policia de Assis, Joaquim Gusmão Filho, informava aos seus superiores que às 18:00 horas, havia se encerrado assembleia com a presença de aproximadamente 300 ferroviários, nas dependências do Cine São Paulo, na qual se tratou da deflagração da greve, às 0:00 horas do próximo dia 12. Informava ainda que Norberto Ferreira presidiu o evento e da mesa participaram: José Paes, 2º secretario da União; Antonio Augusto Mendes; Vicente de Paula e Silva, representante de Rancharia; Alberto Gabeloni, representante de Presidente Prudente; Vitorino Antunes de Moraes, da via permanente; Antonio Cardoso de Moraes, representante dos chefes de trem, Francisco Gomes, representante da UNIÃO de São Paulo e José Leite, ferroviário e vereador em Prudente. O assunto principal foi o não cumprimento de acordo para pagamento de atrasados  a partir de 1º de março, com a categoria deliberando não aceitar que o pagamento fosse a partir de 1º de julho.
Em 10 de outubro, o delegado de policia informava por Radiotelegrama, a relação dos vereadores eleitos em Prudente, nas eleições daquele ano e dentre eles, José Leite.
Em 13 de Abril de 1964, o delegado de Presidente Prudente, Custódio Sampaio enviava radiotelegrama para São Paulo, informando que Leite era agitador grevista, pertencendo a UNIÃO e a Frente de Mobilização Nacional, merecendo registro o fato de nesta data Leite já estar preso em São Paulo.
Em 11 de maio de 1964, o Delegado Regional de Policia de Presidente Prudente, Custodio Pinto Sampaio, informava que os vereadores Jose Leite e Rafael de Lala Sobrinho estavam sendo sindicados pela Câmara Municipal que investigava suas possíveis atividades subversivas. Leite era acusado de pertencer a UNIÃO e a Frente de Mobilização Nacional, sendo que os trabalhos da comissão sindicante ainda não haviam sido encerrados e que naquele momento, o mesmo não estava desenvolvendo atividades subversivas.
Em 26 de maio de 1964, em sessão da Câmara Municipal de Presidente Prudente, utilizando-se da tribuna, denunciou o tratamento que havia recebido no presídio no período de vinte e três  em que esteve preso, por ocasião da eclosão do Golpe Militar de 1º de Abril de 1964, denunciando ainda que foi preso por denúncia, a policia,  por parte do vereador Ivan Nogueira de Almeida, acabando por se referir a mãe do denunciante, o que acabou gerando tumulto naquele legislativo, e segundo radio telegrama enviado pela policia prudentina para São Paulo, o tumulto enveredou para pancadaria com envolvimento de Leite, Ivan e mais os vereadores: Joaquim Zeferino Nascimento, Ubaldo Gomes Correa e Thomé Atala, com o plenário se transformando em um pandemônio, segundo o agente policial.
Logo depois, em 3 de junho, a Comissão Sindicante da Câmara Municipal, apresentava seu relatório final. Vamos a ele:
“... em cumprimento a deliberação desta douta Câmara Municipal, a Comissão Especial, composta pelos vereadores infra-assinados, para o fim de apurar quanta haja em relação aos vereadores Rafael de Lala, Demosthenes Basso e José  Leite, sobre atividades subversivas que eventualmente desenvolveriam, vem apresentar seu relatório pela forma seguinte, para submete-lo a apreciação do ilustre plenário: 1- O objetivo da Comissão Especial foi, precipuamente, o de apresentar elementos a edilidade prudentina, a-fim-de que pudesse a mesma integrar-se dentro do espirito da revolução de 31 de março, efetuando o expurgo em seu meio dos vereadores porventura implicados nos movimentos subversivos que justificaram a epopeia revolucionária de 1964.- 2 – Nesse sentido, pôs-se em campo a Comissão, procurando por todos os meios em seu alcance, quer coligindo dados na policia local, quer fazendo um retrospecto das atuações dos edis em causa, quer tomando informações  junto a pessoas de todas as camadas sociais e classes profissionais, tendo chegado as conclusões abaixo contidas.- 3- Preocupou-se ela em não se deixar levar pelas paixões dominantes em épocas de grandes mutações sociais e politicas e sobretudo, sem não se influenciar por insinuações e sugestões sem fundamento e causa, trazendo exclusivamente os dados objetivos, comprováveis a qualquer tempo e por qualquer pessoa, a-fim-de que a Câmara Municipal não viesse a laborar em erro, cometendo injustiça contra seus pares.- 4- Face a inconveniência e a inanidade de uma apreciação conjunta em relação aos nomes propostos, entendeu a Comissão que deverá analisar separadamente as circunstancias relacionadas com cada um dos senhores edis relacionados, por ser evidente a desvinculação entre os mesmos e por diversas serem suas atuações politicas, quer seja no plenário da Câmara, quer seja fora dele.- 5- Assim, desdobradas as apreciações, relata a comissão, o conjunto de circunstancias, ligado a cada um dos vereadores propostos: II – VEREADOR JOSÉ LEITE- Encontrava-se em suas funções de ferroviário, por ocasião do movimento revolucionário de 31 de março, tendo permanecido na cidade e em seu posto, após ele. Cerca de cinco dias depois do início do movimento, por ordem radiográfica policial, foi detido para averiguações, tendo sido liberado no mesmo dia, após prestar declarações verbais que foram reduzidas a termos, perante Dr. Delegado Regional de Policia. Decorridos alguns dias, foi detido e encaminhado ao DOPS, a ordem de cuja instituição, permaneceu na capital por vinte e três dias, tendo sido liberado após prestar depoimento. Segundo consta, nada foi apurado contra referido edil, quanto a suas implicações com grupos de agitação politica organizados. Como é sabido, o edil em causa é ferroviário, cuja classe tem estado em constantes conflitos com os órgãos dirigentes, em razão de aumentos de vencimentos e reinvindicações de vantagens funcionais. Tem ele assim, participado ativamente, como líder classista, de todos estes movimentos. A Comissão chegou a conclusão que deva ser mantido o seu mandato, eis que nenhuma prova cabal foi apurada contra o mesmo edil, nem mesmo pelos órgãos especializados da Policia Estadual.
O relatório é assinado pelo relator, vereador José Jorge Tannus; pelo presidente da Comissão, vereador Moacyr Miranda; pelo vereador Aurelino Alves Coutinho, membro e Ippo Watanabe, membro suplente.
Em 7 de outubro de 1964, por decreto do governador Adhemar de Barros, foi demitido da ferrovia, com embasamento no artigo 7º, alínea “g” do Ato Institucional de 9 de Abril, deste mesmo ano. Logo no dia seguinte, Adelmo Santos Reis Vanalli, diretor da Rádio Presidente Prudente, escreveu uma carta a uma pessoa identificada simplesmente como Menezes, solicitando apoio a Leite. Vamos a ela:
“... o José Leite é nosso amigo comum e agora foi atingido por uma decisão eminentemente politica, cujo interesse, você bem conhece: alijá-lo da luta de oposição que até aqui tem sustentado valentemente.
A titulo de enquadrá-lo no Ato Institucional, acaba de ser exonerado da EFS.
Dai a razão pela qual não titubeamos em dar-lhe nosso voto de confiança, na certeza de que privamos da amizade de um espirito lutador e itimorato. Esperando que v. possa ampará-lo neste difícil transe, aceite um abraço amigo...”
Em 4 de setembro de 1965, Leite encaminhava requerimento ao Diretor da Estrada de Ferro Sorocabana:
“...considerando que em outubro de 1964, fui demitido da  E.F. Sorocabana com base no artigo 7º do Ato Institucional, venho mui respeitosamente expor a V. Excia., o seguinte:
Que fui detido pelo D.O.P.S., por interferência direta de adversários políticos, ligados ao Governador do Estado, onde estive preso durante o período de 5 de abril a 3 de maio de 1964, de onde fui posto em liberdade sem prestar depoimento algum, ouvindo a simples afirmativa do senhor delegado, que ali nada constava contra mim e que a própria E. F. Sorocabana, por intermédio de seu diretor, dava a mesma informação.
Que fui demitido da E.F. Sorocabana, também por simples perseguição politica do mesmo grupo, e que tal perseguição não era desconhecida de V. Excia.
Diante destes fatos consumados, tomo a liberdade de requerer de V. Excia., com base no próprio Estatuto dos Ferroviários, o pagamento dos dias em que estive detido, bem como o pagamento de parte das férias e o 13º mês, correspondente ao período de janeiro a outubro de 1964.
Sem mais, contando com a atenção costumeira de V. Excia., firmo-me com estima e alta consideração...”
Em 11 de novembro de 1965, foi publicada a lei 9081/65 que garantia uma pensão para as esposas dos funcionários públicos demitidos, pensão esta com o valor correspondente a 50% do salário base, sem considerar os benefícios que estaria recebendo, se na ativa estivesse permanecido. Esta pensão era conhecida como “viúva para efeitos de contabilidade” ou como “viúva com marido vivo”, e para poder recebê-la o punido pelo Ato Institucional tinha que conseguir junto a uma autoridade ou a um cartório, declaração onde constasse que o mesmo não exercia nenhuma atividade laboral, junto a órgãos públicos. Como diziam os punidos, quando se encontravam: para a esposa receber uma pequena pensão, tinham que conseguir um atestado de vadiagem.
Coisas da ditadura.
Em 8 de março de 1967, o então delegado de polícia de Presidente Prudente, Renato Ribeiro Soares, encaminhava listagem  dos comunistas e agitadores da região, e claro, Leite estava nesta relação:
“...pertencia anteriormente ao P.T.N., pertencendo atualmente ao MDB. Suspeito de possuir ideais comunistas, tendo já sido exonerado do quadro de funcionalismo da Estrada de Ferro Sorocabana, por haver praticado atos de caráter subversivo...”.
Posteriormente o delegado Renato Ribeiro Dias foi acusado em Ribeirão Preto de ter torturado diversos militantes da Frente de Libertação Nacional – FLN -, e dentre os torturados estava Madre Maurina Borges da Silveira, que acabou sendo libertada por ocasião do sequestro do cônsul japonês em São Paulo, ocasião em que a Vanguarda Popular Revolucionária – VPR – solicitou a liberdade de cinco presos políticos, para libertar o cônsul, dentre eles a Madre Maurina.
Reeleito vereador em 1968, no relatório encaminhado para São Paulo é citada sua prisão e demissão da Sorocabana, em 1964, sendo acrescentado que teve intensa participação, em trabalho constante de agitação, quando da presença do líder camponês Jofre Correa Neto na região. Jofre se notabilizou pela organização de trabalhadores rurais em busca da reforma agrária e na região de Prudente, contou com o apoio de Leite.
Em 13 de fevereiro de 1975, por intermédio de oficio reservado, o Delegado Seccional de Polícia de Presidente Prudente, Detio Frattini comunicava aos seus superiores:
“... pelo presente, oficio a V. Sa., que faleceu em acidente automobilístico nesta cidade, Jose Leite, residente nesta cidade, ex-vereador e ex-ferroviário, afastado da FEPASA, participou de reuniões e greves, sendo preso na revolução passada, tendo sido atuante no PC – Partido Comunista...”
Em 16 de julho de 2009, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, em sessão com a presença dos conselheiros: Juvelino José Strozake, Rodrigo Gonçalves dos Santos e a relatora Vanda Davi Fernandes de Oliveira, deram provimento ao requerimento de anistia, formulado pela senhora Deolinda Gato Leite, viúva do ex-perseguido politico:
“... concedendo a declaração de anistiado politico “post mortem” ao senhor José Leite, nos termos do artigo 1º, inciso I da lei número 10559 de 13 de dezembro de 2002, e o pedido de desculpas do estado Brasileiro”.
Neste processo, dona Deolinda foi representada pelo autor deste livro.

José Leite, além da viúva Deolinda, deixou os filhos: José Carlos, Maria Lucia, Gerson Ricardo e Maria Antonia e escreveu uma bela história de vida, representada na defesa intransigente da classe ferroviária, enquanto líder sindical e na defesa dos interesses populares, enquanto vereador.

WALTER FERNANDES

Natural de Santos, Estado de São Paulo, onde nasceu em 4 de outubro de 1931, filho de Dimas Fernandes e Benedita Cardeal. Era ferroviário da Sorocabana e participava da Delegacia Regional da UNIÃO em São Vicente, tendo participação nas lutas reivindicatórias da categoria, se tornado elemento de destaque nos movimentos grevistas ocorridos naquela ferrovia. Em virtude de sua participação nas lutas sindicais, quando da eclosão do Golpe Militar de 1º de Abril de 1964 foi preso e indiciado em Inquérito Policial, por infração a Lei de Segurança Nacional, sendo certo que este inquérito foi arquivado por falta de provas. Posteriormente, em 25 de setembro deste mesmo ano, foi demitido dos quadros funcionais da ferrovia, por decreto do governador Adhemar Pereira de Barros, com fundamentação no artigo 7º, paragrafo 1º, alínea “g” doo Ato Institucional de 9 de Abril, deste ano.
Dispensado da ferrovia, foi contratado para trabalhar na Cooperativa de Consumo dos Ferroviários da Sorocabana, assim como muitos outros demitidos, e começou a ser monitorado mais de perto pela repressão politica, que informava de forma constante que a Cooperativa era “ um verdadeiro antro de subversivos” que haviam sido punidos pelo Golpe de 1º de Abril. Em informe datado de 01 de junho de 1968, era comunicado que os subversivos da Cooperativa apoiaram a chapa nº 3, que foi a vencedora nas eleições para renovação do Conselho Administrativo da entidade e logo em seguida, em 14 de junho de 1968, foi novamente indiciado em Inquérito Policial,  por infração a Lei de Segurança Nacional, acusado de juntamente com outros subversivos estar planejando um atentado contra o gasoduto da baixada santista. Por absoluta falta de provas, acabou absolvido.
Era constantemente citado de ter participado de reuniões dos ferroviários que discutiam as reivindicações da classe. Era conhecido pelo apelido de Macuco e sempre buscou organizar o punidos pelo Golpe Militar de 64, na baixada santista, no sentido de lutarem por seus direitos de forma unitária, não desistindo em nenhum momento do sonho de um dia retornar aos quadros da ferrovia. Esta possibilidade existiu com a aprovação da Lei de Anistia – 6683/79 -, entretanto o governador era Paulo Maluf que não aplicou a legislação federal no Estado de São Paulo, protelando o direito destes trabalhadores. Somente no governo de Franco Montoro, a partir de 1983, a lei foi aplicada com a maioria dos punidos retornando ao serviço e imediatamente sendo aposentados.

Walter Fernandes, o Macuco, merece sempre ser lembrado por sua atuação intransigente na defesa da classe ferroviária e na busca constante dos direitos solapados dos punidos pela “redentora”.

sábado, 20 de setembro de 2014

RUBENS ALEIXO

Natural de São Paulo, do mesmo estado, onde nasceu em 13 de fevereiro de 1927, filho de Candido Aleixo e Maria Luiz Aleixo, era desenhista, militante do Partido Comunista Brasileiro e integrante da UNIÃO. Tinha seus passos monitorados pela repressão, em virtude da suspeita de militar no Partido Comunista Brasileiro e no sindicalismo, dentro da UNIÃO. O monitoramento oficial de suas atividades políticas inicia-se em 28 de janeiro de 1962, com a informação de que esteve presente em Assembleia dos Ferroviários, realizada no Auditório do Fórum Sindical de Debates de Santos, ocasião em que foi decidida a prorrogação da greve da  Sorocabana por mais 72 horas, sendo que neste mês de janeiro, surge a informação que o presidente da UNIÃO, Guarino Fernandes dos Santos, solicitou que Aleixo e outros líderes sindicais da baixada santista, fossem avisados sobre o andamento do movimento grevista. Interessante deixar registrado, que em relatório de 17 de fevereiro de 1962, registrando a realização de uma assembleia realizada na baixada santista e presidida por Guarino Fernandes dos Santos, Aleixo era apresentado como representante dos ferroviários de Botucatu, e nada achamos, sobre uma sua possível transferência, hipótese que não pode ser desconsiderada, pois outros líderes grevistas já haviam sido removidos de sede. Nesta assembleia, Aleixo elogiou as esposas  dos ferroviários que não titubeavam em arriscar-se, colocando-se nas linhas férreas, com a finalidade de impedirem a passagem dos comboios, conduzido pelos traidores da classe.
Posteriormente, em 19 de novembro de 1963, um comunicado da Secretaria de Estado dos Negócios de Transportes – Estrada de Ferro Sorocabana, publicaram edital no jornal FOLHA DA MANHÃ, referente as providencias preliminares tomadas por parte da administração daquela ferrovia, com relação aos servidores implicados no movimento grevista eclodido a zero hora do dia 12 de novembro, do mesmo ano, afastando diversos servidores do serviço, pelo período de 30 dias, dentre eles, Aleixo, sendo certo que esta suspensão acabou sendo prorrogada por mais 30 dias.
O jornal O DIÁRIO de Santos, em sua edição de 22 de novembro de 1963, traz a notícia que os trabalhadores em greve da Estrada de Ferro Sorocabana, estavam recebendo a solidariedade de outras categorias profissionais, que a qualquer momento poderiam paralisar suas atividades em solidariedade aos ferroviários. Uma das decisões adotadas pelos sindicatos da baixada foi a de encerrar as contas existentes no Banco do Estado de São Paulo em protesto contra o governo do Estado de São Paulo que determinou o bloqueio da conta da Cooperativa de Consumo dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocaba, medida esta adotada com a finalidade de se encerrar o movimento grevista que perdurou 18 dias. Em Assembleia realizada no Sindicato dos estivadores, Rubens Aleixo denunciou, na condição de Delegado Regional da UNIÃO e de diretor da Cooperativa, o bloqueio da conta e a instauração de processo administrativo contra 22 dos dirigentes da greve, entre eles, ele próprio e o senhor Celestino dos Santos, apesar deste já estar aposentado. Segundo o jornal O DIÁRIO, vários oradores fizeram uso da palavra, no sentido de prestarem ampla solidariedade aos grevistas, destacando-se entre eles: Oswaldo Lourenço, Domingos Garcia, Geraldo Silvino de Oliveira e Alberto Pires Barbosa.
Em início de abril de 1964, a direção da Estrada de Ferro, solicitou ao DOPS a prisão de inúmeros ferroviários, que ao ver dos diretores eram agitadores e comunistas, que poderiam tentar se contrapor ao movimento golpista de 1º de Abril, sendo que preso, indiciado em inquérito, acabou colocado em liberdade em junho do mesmo ano, e em 19 de setembro, acabou sendo demitido do quadro funcional da ferrovia por decreto do governador Adhemar Pereira de Barros, com fundamentação no Ato Institucional de 9 de Abril, daquele ano.
Em 04 de janeiro de 1980, relatório circunstanciado do DOPS de Sorocaba, informava que os comunistas João F. de Oliveira, Miguel G. Trujillo, Brasil Mirim, Antonio Martini, Rubens Aleixo, faziam parte de uma chapa de oposição que disputava o comando da Sociedade de Cooperação dos Aposentados e Pensionistas da Sorocabana – SCAPS -, sendo que o jornal Diário de Sorocaba destacava que pela primeira vez na história da entidade, ocorreria disputa. A chapa de oposição, acabou vencendo o pleito por esmagadora maioria, obtendo 541 votos contra 299 da chapa oficial. Esta é a última anotação constante do prontuário de Aleixo, no extinto DOPS. Posteriormente, Aleixo mudou-se para Garanhuns em Pernambuco, onde faleceu. Reproduzimos a seguir o texto de Audálio Filho, escrito em sua homenagem:

Ronaldo, não poderia deixar de registrar nossa consternação com a morte do Sr. Rubens Aleixo, líder dos ferroviários e ex-vereador de São Vicente- SP, uma pessoa que tive o prazer de conviver quando trabalhamos juntos na Câmara Municipal no início dos anos 90, depois na luta pelas políticas públicas, especialmente na causa dos idosos.

Sempre alimentado pelas suas informações e sugestões, tive a honra de ser o autor do Projeto de Lei que criou o Conselho Municipal dos Direitos dos Idosos, até como uma homenagem a ele.

Infelizmente pessoas como Sr. Rubens servem aos interesses das máquinas partidárias, mas são esquecidos quando das vitórias. Com muita justiça, fizemos questão de tê-lo como componente do Diretório do PSB, quando o presidimos, junto com Dr. Alcindo Menezes.

A perda de um homem íntegro, verdadeiro, idealista, sempre abate a sociedade, em um tempo em que estes valores tornam-se raros, e vemos como as exceções reduzem-se a cada dia.

Que Deus o receba no céu dos justos.

Audálio Machado Filho.

Igualmente, o prefeito à época de Itaquitinga, senhor Geovani de Oliveira, comentava a morte deste guerreiro. Vejamos:


Lamentamos profundamente o falecimento do Sr. Rubens Aleixo, por muitos anos Assessor Especial da Câmara de Vereadores de Garanhuns, integrante do PSB de longas datas. Muitas vezes, na década de 90, eu me dirigia à Câmara e o encontrava nas dependências da Casa Legislativa onde ele costumava me dar conselhos e me incentivar para as causas políticas.
Tinha por Sr. Rubens o maior apreço, consideração e respeito. Perdemos um grande Amigo, um homem que viveu seu tempo a serviço das causas populares.
Quanto ao Tio da Transtil, Um homem que marcou nossas gerações com o exemplo de homem simples, vitorioso, determinado e que sempre conservou as amizades. Uma pessoa sempre alegre e que fará muita falta a Garanhuns. Nossos profundos sentimentos a toda família.

Geovani Oliveira - Prefeito de Itaquitinga
Zona da Mata Norte de Pernambuco


RUBENS ALEIXO é mais um daqueles, hoje anônimos, que colaboraram de forma decisiva para a construção de uma Pátria livre, democrática e justa, sofrendo perseguições pessoais, sendo privado da liberdade por defender o ideal que considerava justo.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

MASSILON BUENO

“ A coerência,  a ética e a moral são natas no ser humano, não podendo serem confundidas com a hipocrisia e a falsidade, que nada mais são que deformação do caráter do ser humano”.

Filho de Antonio Basílio Bueno e de Elza Tavares, nascido em 23 de Abril de 1909, em Botucatu, Estado de São Paulo, era Chefe de Trem e militante do Partido Comunista Brasileiro –PCB -, tendo sido integrante do Diretório Municipal de Assis – Sp., no ano de 1947, quando da efêmera legalização da legenda. Dos demitidos da Sorocabana, indiscutivelmente era, um  dos mais monitorado pela polícia política, tendo uma ficha no antigo DOPS com 364 páginas. Sócio fundador do Sindicato dos Ferroviários em 1934 esteve a partir desta data, presente em todos os movimentos reivindicatórios da categoria.
A primeira anotação em seu prontuário informa que em 9 de dezembro de 1946, em sessão plenária do Comitê Municipal do PCB, em Assis, Estado de São Paulo,  foi empossado como secretario sindical dos ferroviários  e que era elemento comunista e agitador da Sorocabana, constando de uma relação de comunistas perigosos e que participara de comícios comunistas em Echaporã, Ibirarema, Palmital, Sorocaba, Assis e Bauru.
Em 1948, o Delegado Regional de Policia de Assis, senhor Francisco Franco do Amaral, encaminhava oficio para seus superiores em São Paulo, afirmando que depois de exaustivas investigações, havia prendido comunistas que aliciavam os ferroviários, para fazerem greve por melhores salários e dentre os presos, nosso protagonista e que neste mesmo ano, foi um dos demitidos da ferrovia, em decorrência de participação em movimento grevista, tendo conseguido retornar anos depois ao trabalho, por pressão da classe ferroviária, continuando de forma sistemática e coerente seu trabalho, buscando unificar a categoria para defesa de seus direitos.
Neste mesmo ano de 1948, já residindo em Santos, Massilon foi eleito, em Assembleia Ferroviária realizada em Botucatu, como presidente da Comissão Central de Reivindicações dos Ferroviários e em 11 de dezembro deste ano, foi realizada reunião com os ferroviários na cidade de Santos, organizada pela Comissão Central, organizada por nosso protagonista e pelo maquinista Otavio de Oliveira e que contou com a presença do deputado Porfirio da Paz. Em 13 de dezembro deste ano, antes de reunião que seria realizada em Sorocaba, Massilon, Benedito Elpidio Marcondes, Benedito Machado, Manoel Ortiz, Adelino Rodrigues e outros ferroviários envolvidos no movimento reivindicatório foram presos e conduzidos para o DOPS/Sp., em diligencia comandada pela Polícia de Sorocaba, cujo delegado, Francisco Franco do Amaral, encaminhou ofício para São Paulo, informando da operação:
“ ... tomando conhecimento que estava marcado para ontem, dia 13, às 20 horas, uma reunião de ferroviários da Sorocabana que seria realizada na atual sede do Partido Social Progressista – P.S.P -, a rua Álvaro Soares, 54, iniciamos diligencias com a intenção de apurar o verdadeiro caráter desta reunião, acabando por constatar que era promovida por elementos comunistas, não somente desta cidade como de outras, sendo o organizador da mesma, Massilon Bueno, residente em Santos e conhecido agitador comunista...
... diante das provas colhidas, contra a pretendida reunião, foram detidos os elementos responsáveis por sua organização, o que veio a comprovar as suspeitas levantadas contra os mesmos, pela farta documentação encontrada com os responsáveis, conforme figura no inquérito instaurado...”
No dia 19, deste mês, o jornal NOTÍCIAS DE HOJE, publicava:
“... continua a ser posto em pratica o plano elaborado em comum acordo pela polícia e a direção da Estrada de Ferro Sorocabana com a finalidade de impedirem a grande assembleia de hoje, em que os ferroviários debaterão o problema do Abono de Natal. Permanecem presos os ferroviários membros da Comissão Central e o comerciante Pedro Wasserman de Botucatu. Ao primeiro pedido de informações formulado pelo Juiz da 4ª Vara Criminal, respondeu a policia, faltando com a verdade, que não havia ferroviários presos. Ao segundo pedido de informações, provocado por um novo habeas corpus, impetrado em favor dos presos, não deu o DOPS comandado pelo delegado Affonso Celso , nenhuma resposta. Enquanto isso, Massilon Bueno, presidente da Comissão, Benedito Elpidio Marcondes e outros trabalhadores , permanecem afastados do convívio dos seus. A pedido da Estrada, certamente, a policia pretende manter os ferroviários presos até depois do Natal, quando, segundo pensa, os trabalhadores não terão mais razão para lutar pelo abono de natal...
... contudo os ferroviários não se intimidam e a assembleia realizar-se-á. Virão delegações de diversas cidades do interior e os ferroviários sabem que não é crime lutar pelo abono de natal. Santos, Sorocaba, Bauru, Assis, Ourinhos e outras cidades enviaram seus representantes para cumprir com a tarefa traçada na grande reunião de Botucatu. Com certeza, os trabalhadores estarão presentes em grande número, hoje, no Salão Royal, na Barra Funda...”
Suas andanças constantes por toda a linha da Sorocabana, o fizeram ser indiciado em Inquérito Policial por parte do DOPS, onde foi ouvido em 15 de Dezembro de 1948, período em que este departamento informava a justiça, que não estava preso:
“... o declarante pertenceu ao Partido Comunista Brasileiro, na sua fase legal, em Assis, exercendo às funções de secretário político. Desenvolveu a campanha pró-Adhemar de Barros e, como resultado, a legenda P.S.P.-P.C.B., venceu nas urnas com ampla maioria. Posto o P.C.B. na ilegalidade, o declarante transferiu-se para Santos, procurando afastar-se das competições politicas de qualquer natureza, atendo-se somente as lutas sindicais dos ferroviários da Sorocabana...
Enquanto estava preso com outros companheiros de luta, a policia continuava a investigar, sendo que em 14 de dezembro, o delegado do DOPS, Eduardo Lousada Rocha que estava em diligências na cidade de Sorocaba, enviava Radiotelegrama para a Delegacia de Polícia de Itapetininga, determinando a prisão de Francisco Luvisoto, que estaria envolvido nos preparativos para a greve. Determinava que fossem providenciadas busca pessoal e domiciliar, oitiva do preso em declarações e remessa do mesmo para o DOPS de São Paulo.
Libertado, a luta continuou. E logo em 19 de Janeiro de 1949, estava com seus companheiros da Comissão Central, apresentando a direção da Estrada, a pauta de reivindicações dos ferroviários e dentre elas, o abono de natal. Interessante, registrar teor do ofício encaminhado pela Comissão ao senhor diretor da Estrada:
“... atendendo ao já combinado entre os demais representantes, queremos entregar hoje, às 15:00 horas, memorial contendo as reivindicações mais sentidas pela classe...
... solicita, portanto, a V.S. que mande abrir as portas, democraticamente, do salão desta diretoria, para que possam entrar os ferroviários que patrocinam a causa...”
No dia seguinte, a direção da Estrada encaminhou oficio ao Coronel Nelson de Aquino, Secretário de Estado dos Negócios da Segurança Pública, onde relata o encontro e solicita enérgicas punições aos membros da Comissão Central, liderada por nosso protagonista, adiantando que o mesmo esteve na diretoria, acompanhado por mais de cinquenta ferroviários no dia anterior.
Em 21 de janeiro de 1949, o delegado de policia de Sorocaba solicita ao Delegado de Ordem Politica e Social de São Paulo, Eduardo Lousada Rocha, a prisão dos comunistas Carminio Caramante, Jose Ribeiro, Renê Boschetti, Flavio Moraes e Oswaldo Rio Branco que estariam articulando movimento grevista da Sorocabana. Informa que depois de retirarem  seis mil boletins confeccionados na gráfica do Jornal A Comarca em Porto Feliz, seguiram em direção a Botucatu, onde poderão ser encontrados.
Em 13 de julho de 1949, novo relato informando que boletins estão sendo distribuídos aos ferroviários, com teor nitidamente comunista, assinados pela Comissão Central, da qual fazem parte, Massilon, João Tardivo, Antonio Ribeiro Silva e Benedito Francisco Vieira. Este boletim vem sendo distribuído por Luiz Pacheco Galvão.
Em dezembro de 1949, relatório do DOPS, apresenta as moções aprovadas pelo pleno do Comitê Municipal de São Paulo, mostrando de forma clara que a policia politica, possuía infiltrados dentro da organização partidária. Eis os principais tópicos:
“...reunidos para balancear as atividades do partido na capital, neste último período, constatamos que ainda não fomos capazes de com a necessária urgência, colocar em pratica as resoluções do Comitê Estadual e do Comitê Nacional. Constatamos, também, que a nossa maior debilidade é ainda a de não termos sido capazes de desencadear lutas de envergadura, como exige nossa linha politica...
...constatamos que a causa disso está no oportunismo da velha linha politica, ainda enraizada em todos os escalões do partido, manifestando-se das mais variadas formas...
...reafirmamos nossa confiança absoluta nas duas instancias superiores e sentimo-nos orgulhosos de seus exemplos em realizarem autocríticas, que nos servem de estimulo para o aprofundamento da nossa, incentivando-nos a nos colocarmos a altura de nossa linha politica...”
...levar a todo partido, a nossa autocritica pela subestimação com que tem encarado o problema dos presos políticos, dentre eles, o camarada Pedro de Oliveira...                                                                                                                                                        
Agentes do DOPS, em 4 de janeiro de 1950, faziam relatório a respeito de reunião realizada na rua do Carmo, 54, na cidade de São Paulo:
“... a reunião foi realizada, sem nenhuma divulgação previa, com todos os seus elementos determinados com a finalidade de evitar acesso a estranhos, isso é, realizaram uma reunião clandestina. Objetivavam tomar o comando dos funcionários públicos federais, estaduais e municipais, bem como os das autarquias, transformando a assembleia permanente de funcionários públicos, que ultimamente vinha agitando os funcionários em torno de reivindicações, em uma espécie de MUSP, MUT, etc... A esta reunião compareceram umas 60, 70 pessoas, na sua quase totalidade membros do PC, que sem maiores preâmbulos elegeram a sua diretoria provisória que dentro de quinze dias deverá providenciar a eleição de sua diretoria definitiva. Tal diretoria, ora eleita, é a seguinte: Presidente: professor Hadock Lobo; Vice-Presidente: Massilon Bueno; 1º secretário: Sebastião Costa; 2º secretário: Jathero de Faria Cardoso; 1º tesoureiro: Laercio Marques Leite; 2º tesoureiro: Guiomar Alvares; Assistente Social: Ênio Sandoval Peixoto, Carmino Caribo e João Guilherme; Propaganda: Paulo R. Silva; Esporte: Waldemar Zumbano; Departamento Feminino: Lídia Toscano de Brito. Dentre os assuntos tratados, referentes a funcionários públicos e ferroviários, deliberou-se dar solidariedade a CSAL – Conferencia Sindical da América Latina – que se realizará em Montevidéu...”
No dia seguinte, em 5 de Janeiro, o jornal NOTÍCIAS DE HOJE, noticiava a realização do Congresso da CSAL, para o final de janeiro, anunciando a criação de uma comissão com a finalidade de organizar a delegação paulista:
“...sob o patrocínio da CSAL, será realizada em Montevidéu, a conferencia sindical dos trabalhadores da América do Sul, convocada de acordo  com a resolução do II Congresso Sindical Mundial, efetuado em Milão, com a participação dos trabalhadores paulistas. Nesse conclave, serão discutidos os seguintes pontos do máximo interesse para os trabalhadores: 1- situação da massa trabalhadora e suas lutas; 2- unidade e organização da classe operária; 3- a luta pela paz e independência nacional dos povos. A comissão pró conferencia sindical dos trabalhadores da América do Sul lança um  vigoroso apelo aos trabalhadores manuais e intelectuais da cidade e do campo de São Paulo e a todas as suas organizações para que participem ativamente do conclave, elegendo delegados, angariando os fundos necessários para a viagem dos mesmos e divulgando por todos a sua realização. A comissão era formada por Roque Trevisan, João Taibo Cadorniga, Armando Ferreira dos Santos, Massilon Bueno, Celestino dos Santos, Yolanda Pincigher, Faustina Bonimani Jose Joaquim Santana, Sebastião Costa, Mario Barbosa, Moacir Ramos, Rafael Monteaperto, Orly Andrezzo, Abelcio Bitencourt Dias, Severino Vicente da Silva, Geraldo dos Santos, Arlindo Alves Lucena e Salvadora Lopes.
Em 14 de janeiro de 1950, uma reunião com os ferroviários em Botucatu, amplamente convocada por boletins e pichações, acabou sendo proibida de ser realizada por não contar com autorização da policia, entretanto, os vereadores João Batista Domene, do PTN; José da Silva Coelho, da UDN; Progresso Garcia, da UDN; Alberto Monteiro da UDN; Francisco Ramires e Nestor Nunes de Oliveira, ambos do PSP, reuniram-se com as autoridades policiais e requereram a realização da reunião que foi autorizada, desde que se ativesse a assuntos de interesse da classe ferroviária, e em especial, da reinvindicação contra o veto a artigo da lei 209 que estendia o aumento concedido aos funcionários estaduais para os funcionários autárquicos. Vamos ao relatório policial sobre esta reunião:
“... assim, a reunião foi efetuada debaixo da maior ordem, com  a presença de cerca de cem pessoas, na maioria, ferroviários, funcionando como presidente da sessão João Batista Domene e secretário, o ferroviário Armando Audi...
...diversos oradores filiados a diversos partidos políticos fizeram uso da palavra, todos em tom moderado e sem criticas acerbas as autoridades, até que Massilon Bueno, até então desconhecido desta regional e dos inspetores desta especializada, começou a discursar, esclarecendo-se então a finalidade da reunião. O senhor Massilon discutiu a situação precária dos ferroviários e funcionários públicos, concitando-os a se unirem em defesa da classe, a fim de pleitearem dentro da ordem e pelos caminhos legais, reivindicações essenciais para a classe...
... no final dos trabalhos, o senhor Massilon sugeriu que fosse escolhido um representante de Botucatu para participar do Congresso Geral dos Trabalhadores que seria realizado em Montevidéu e ainda a formação de um caixa, para as despesas...
... quanto aos vereadores que intercederam pela realização da reunião, os três pertencentes a UDN procuram apenas vantagens politicas; o senhor João Batista Domene pertencente ao PTN, é simpatizante do extinto P.C. e os vereadores Francisco Ramires e Nestor Nunes de Oliveira, pertencentes ao PSP, são elementos comunistas bastante conhecidos...
... sugerimos desde logo, a interferência desta especializada, no sentido de ser conseguida a remoção desta cidade, do ferroviário Hermes Valente, trata-se, ao nosso ver, de elemento realmente perigoso e por suas maneiras rudes, suas atitudes sempre encontram maior ressonância entre os ferroviários...”
De Botucatu, as lideranças ferroviárias seguiram para Itapetininga, no dia 21, onde realizaram reunião no saguão da Estação Ferroviária, onde em discurso emocionado, Massilon agradeceu a solidariedade recebida dos ferroviários da Central do Brasil, antes porém, retornaram a São Paulo, onde no dia 15, realizou-se Assembleia para eleição da diretoria definitiva da Associação Unitária dos Funcionários Públicos em São Paulo, mantendo-se a diretoria provisória eleita no início do ano.
Neste meio tempo, informações arquivadas no DOPS, com relatório de 19 de janeiro, davam conta que Massilon, Celestino e Benedito Elpidio Marcondes, estavam aproveitando as reuniões realizadas com a classe ferroviária, por todo o interior, para reorganizarem o Partido Comunista na ferrovia.
Em 24 de janeiro de 1950, relatório reservado informa que em Assembleia dos Ferroviários, realizada no Clube Dramático e Cultural Royal, em São Paulo, com a finalidade de se discutir o veto do governo ao artigo 53, da Lei 209, que estendia o aumento concedido aos funcionários estaduais para os funcionários de autarquia, Massilon teria feito uso da palavra:
“... em outras palavras disse que o veto do senhor governador foi um ato de estupidez e com frases violentas procurou demonstrar a força de que dispõe os ferroviários, quando unidos, ilustrando esta afirmação com outros casos de revés, que foram revertidos com luta e persistência..”
Em informe de 18 de março de 1950, a policia de Botucatu informa que com a libertação dos ferroviários, considerados como “cabeças de greve”, estes já estão articulando novo movimento paredista, em protesto contra o veto ao artigo 53, da lei 209. O movimento vem sendo liderado por Benedito Elpidio Marcondes, Luiz Galvão de França e Massilon Bueno, estranhando a policia, a ausência de Celestino dos Santos nestes preparativos.
Em 14 de agosto de 1950, assembleia realizada na sede da Associação Unitária dos Funcionários Públicos em São Paulo, com a presença dos deputados Manoel da Nobrega e Silvio Gonçalves de Lima Ferreira, e evidente, assunto para relatório do DOPS:

“... após assinar o livro de presenças, com nome suposto, simulando ser funcionário da Sorocabana, adentrei ao recinto, onde se iniciavam os trabalhos...

...as primeiras palavras do Deputado Manoel da Nobrega foram as de que não era comunista, mas sim um democrata, disposto a lutar e defender as justas reivindicações de qualquer classe dos trabalhadores, notadamente a dos ferroviários, recomendando que a classe deveria unir-se mais e organizar-se melhor, para desta forma cuidar melhor de seus direitos...

 ... em seguida, falou o já conhecido agitador comunista, Massilon Bueno que confirmou a necessidade da unanime união dos ferroviários, já dito pelo deputado Manoel da Nobrega, para que todos numa única voz, possam gritar e exigir seus direitos. Elencou muitos casos de injustiças praticadas pelos dirigentes da Sorocabana, enfatizando que foi afastado de suas atividades, porque trabalhou pelo recebimento do abono de natal e continuou, em caráter de denuncia afirmando que além de ser demitido, a uma e meia da madrugada, quando já estava dormindo em seu lar, foi preso e remetido para o DOPS de São Paulo, onde permaneci preso por sessenta dias. Esse, senhores, foi o premio que ganhei por tudo o que tenho feito pela Sorocabana! Meu pai, trabalhou durante trinta anos para esta companhia e eu já trabalho há 24 anos e até o que tinha de mais precioso dei a ela. Era meu filho, que tirando do ginásio, porque não era mais possível sustenta-lo estudando, o coloquei para trabalhar na Sorocabana e um certo dia, este meu filho foi colhido por uma locomotiva e morreu. Foi esse, senhores, o premio que recebi...

... em seguida, falou o representante dos ferroviários de Botucatu, pessoa já idosa e que não consegui identificar que afirmou em seu discurso da necessidade de em futuras reuniões, ser exigida identificação de todos quantos delas tomassem parte, com a finalidade de evitar que elementos estranhos a classe nelas se intrometessem e também com a finalidade de se evitar infiltrações de representantes da infame e carniceira policia...”

Ainda em 1950, relatório do Serviço Secreto do DOPS, informava que havia sido eleita nova diretoria da Associação Unitária dos Serviços Públicos do Estado de São Paulo, em assembleia presidida pelo notório comunista Pedro Trevisan que substituiu o presidente cessante, engenheiro Jathero Faria Cardoso que não pode comparecer. Foi eleito presidente da entidade o medico da Secretaria da Justiça, João Bellin Burza e como vice-presidente, Massilon.
Em 19 de setembro, deste ano, o delegado do DOPS,  Hugo Ribeiro da Silva, requeria a decretação de prisão preventiva para: João Bellin Burza, Massilon Bueno, José João Mazzucato e João Benini, como “cabeças de greve” da Sorocabana, medida negada pelo juiz da 4ª Vara Criminal de São Paulo.
Em 25 de setembro, a regional do DOPS de Sorocaba informa que nosso protagonista, juntamente com Carminio Caramante e João Bellin Burza, tem sido vistos constantemente na cidade e constatou-se que estão em contatos com trabalhadores de Votorantim e depois destes contatos, estão surgindo boletins naquela cidade, conclamando os operários têxteis a greve. Estes visitantes comunistas e agitadores tem se reunido, de forma sistemática com Sebastião Mineiro, Salvadora Lopes Peres, Ricardina Velasco, dentre outros, e com certeza os boletins estão sendo preparados e distribuídos por estes. Foi observado igualmente que nos dias mais agitados pela onda da greve, sempre se encontrava presente uma perua do P.T.N., com propaganda do candidato a deputado estadual Diógenes de Carvalho Neves, que tem sido visto em contato constante com os agitadores comunistas.

Logo em 9 de Janeiro de 1951, o delegado de polícia do DOPS/Santos, enviava o seguinte informe para São Paulo, onde dizia ter localizado o perigoso agitador comunista. Vamos a ele:

“ após quatro dias de investigações, cumpre-me informar o seguinte, sobre o paradeiro de Massilon Bueno, da Associação Unitária dos Funcionários Públicos e Autárquicos do Estado, contra quem existe um mandado de prisão na Delegacia de Vigilância e Capturas. Referido individuo está residindo em Santos, em casa de madeira de propriedade da Estrada de Ferro Sorocabana, casa nº 10 ( na altura, mais ou menos, da praça Washington, bairro José Menino). As informações obtidas foram a de que atualmente é chefe de uma turma de trabalhadores, na faixa do cais, pertencente a Companhia Docas, constando estar presentemente desligado do PCB. Sua prisão só poderá ser realizada de madrugada, mediante cerco de sua casa, pois os fundos da mesma dão para um terreno baldio, propicio, por isso mesmo, a fuga do referido militante comunista”.

Ou a eficiência da policia politica de Santos deixava a desejar, ou Massilon não “dava sopa para o azar”, pois embora tivesse sido localizado seu paradeiro em janeiro, somente em 20 de maio daquele ano foi preso, tendo sido apresentado no dia seguinte ao DOPS de São Paulo, tendo sido encaminhado, com oficio, a Delegacia de Vigilância e Captura, pelo delegado Clodoaldo de Abreu e escrivão Milton de Toledo.

Em 1951, estava programado para a cidade de Bauru a realização de um Congresso pela Paz Mundial e Cultura, e os ferroviários do CONSELHO DE PAZ DOS FERROVIÁRIOS DO ESTADO DE SÃO PAULO, enviaram uma delegação e dentre eles Massilon, com uma mensagem aos participantes:
“ Companheiros Ferroviários:
Temos no momento, duas tarefas de honra a cumprir: 1ª) Enviar o nosso delegado, Massilon Bueno, ao México e 2º), fazer do Congresso de Bauru, uma manifestação que não deixe duvidas aos provocadores de guerra sobre a nossa decisão de defender a paz, mas para que realizemos vitoriosamente o nosso dever é preciso que cada um se compenetre do real perigo de guerra e da necessidade de ser impedida nova carnificina. Por isso, lançamos o nosso apelo a fim que todos colaborem, com a finalidade de cobrirmos a quantia necessária para a viagem de nosso delegado, pois os ferroviários paulistas precisam estar representados no Congresso do México e através da boca de nosso representante, gritar aos fabricantes de bombas atômicas que não empunharemos armas para massacrar povos irmãos, em beneficio dos trustes internacionais. Companheiros, detenhamos o punho do opressor. Cubramos a cota para que Massilon Bueno compareça ao México. Tudo pelo Congresso do México! Tudo pelo Congresso de Bauru!
Na realidade, esta manifestação de Bauru, chamada de Congresso, acabou sendo reprimida pela polícia e acabou não se realizando em praça público, como era desejado pelos organizadores. Diversos dos presentes foram detidos, e o General Leônidas Cardoso, acabou se dirigindo a Policia local, intercedendo pela libertação dos mesmos. O Congresso acabou se realizando na residência do militante politico e lenheiro da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, Delamare Machado da Silva.
Segundo as anotações policiais, muitas vezes realizadas de forma reservada pelos investigadores da polícia politica, dão conta que em 15/10/1953, teria participado de uma reunião da União Geral dos Trabalhadores de São Paulo, onde teriam sido planejadas diversas ações a serem desenvolvidas pelos comunistas em nosso estado, e também, fazia parte de uma listagem dos comunistas atuantes na cidade de Assis-Sp. O monitoramento era constante, trazendo informações de sua participação em eleições da Cooperativa de Consumo dos Ferroviários da Sorocabana, sempre constando nestas informações a sua militância comunista.
Em março de 1956, como já vimos na história de Luiz Basqueira, os diretores da Cooperativa de Consumo dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana: Luís Laprista, Aldo Zacharias e Virgílio Marques Penteado,  demonstrando cabalmente que eram desprovidos de ética, moral e companheirismo, encaminharam ofício ao DOPS, mais precisamente ao delegado Antonio Ribeiro de Andrade, informando que iriam ocorrer eleições para renovação da diretoria da entidade e, aproveitando o ensejo, denunciam a chapa oposicionista, encabeçada por Guarino Fernandes dos  Santos e que tinha nosso protagonista, como membro do Conselho Fiscal:
“... esta chapa, senhor delegado, é composta em quase toda a sua totalidade por elementos pertencentes ao Partido Comunista Brasileiro, conforme poderá se constatar nos arquivos existentes neste departamento...
E depois de várias cantilenas anticomunistas, alegando que os comunistas eram perigosos e andavam armados, solicitavam reforço para o dia das eleições e, aliás, para o dia programado, 26 de março,  suspenderam o pleito, ocasionando tumulto na sede da Cooperativa, sendo as eleições realizadas em 20 de maio de 1956, com a vitória da chapa de Guarino e Massilon. As eleições foram presididas pelo Dr. Arthur Ramos Leal, representante do Ministério da Agricultura e claro, mereceu relatório do DOPS que dizia que os comunistas compareceram em peso nas eleições.
Se em 1957, em relatório circunstanciado é mencionado como um dos responsáveis pela convocação de greve, em 1960, eis que, surge como um dos apoiadores do General nacionalista Henrique Lott para a presidência da República e Jango Goulart para a vice-presidência, não custando recordar que o voto era desvinculado e o eleitor escolhia separadamente o presidente e o vice.
Ou a policia politica de Botucatu era mais atuante ou a UNIÃO tinha a cidade como uma de suas prioridades, afinal, é numeroso o número de informes do DOPS desta cidade, dando conta da realização de assembleias ferroviárias na cidade, sendo que em 16 de agosto de 1961, foi realizada uma com a presença de 150 ferroviários, presidida por Mario Franco de Godoi e com a presença de Guarino, Massilon e do vereador Francisco Ramirez, militante comunista na cidade. A pauta era composta por reinvindicações a serem apresentadas a direção da Estrada.
Em 1962, era novamente acusado de estar insuflando movimento grevista e que o presidente da UNIÃO, Guarino Fernandes dos Santos, havia solicitado que Massilon fosse avisado em Santos, dos rumos do movimento grevista, sendo que este não vinha medindo esforços para a paralização ser total na baixada santista, sendo que posteriormente a esta greve, a ferrovia, dirigida pelo engenheiro Chafic Jacob, promoveu a transferência de diversos líderes grevistas, dentre eles, Massilon que foi transferido para a cidade de Piracicaba. Para não fugir de seu estilo, o líder ferroviário convocou uma Assembleia com a finalidade de discutir com a categoria, a sua remoção.  A Assembleia definiu que o mesmo não deveria aceitar a remoção e esta decisão, foi comunicada pelo próprio a direção da Estrada:
“...enviei carta ao diretor da E.F. Sorocabana comunicando que por decisão de Assembleia da classe ferroviária, foi aprovada a devolução da carta de remoção para Piracicaba ao chefe de Estação de Santos. Os ferroviários consideraram a remoção como um instrumento de perseguição, fruto das ameaças do senhor Chafic Jacob. Afirmo na carta que não aceitamos responsabilidades pelas ocorrências provenientes da situação criada pela exploração impune daqueles que vivem de salários: A Força Pública, Jornalistas, radialistas e até Juízes do Ministério do Trabalho, lançando mão da arma pacifica que é a greve, disseram não a alta do custo de vida e por esta mesma atitude, somos vitimas de vingança pessoal por parte de pessoas que não apreciam nossas atitudes em defesa da classe ferroviária. Eu, Massilon Bueno, não aceito esta remoção, nas condições em que foi feita, porque a dignidade de um homem consciente exige que se imponha respeito a nossos direitos. De Santos não me afastarei, obedecendo a deliberação desta Assembleia. Demitindo-me pela segunda vez, pelo mesmo motivo de defender a classe, estarão cometendo uma injustiça maior...
Continua Massilon, em sua carta ao Diretor da EFS:
... Junto a esta missiva um Atestado Médico de saúde de minha esposa, provando que seu estado não permite o afastamento de Santos, devido alterações em sua pressão arterial alterada pelo distúrbio emocional, causado na ocasião em que perdemos um filho de dezesseis anos, morto no limpa-trilhos de uma locomotiva, lutando por uma Sorocabana maior e melhor...
... deixo claro que esta remoção é uma imposição fascista, ditatorial, antidemocrática que somente poderia ser praticada por um paranoico, que ocupando cargo de responsabilidade, tornou-se um carrasco dos ferroviários da Sorocabana...”.
Em 18 de fevereiro de 1962, a Delegacia de Polícia de Santos, envia telegrama para São Paulo, com a informação de que Massilon estaria agitando a classe ferroviária, preparando movimento grevista em busca de 45% de aumento salarial e em fevereiro do mesmo ano, em relatório dirigido ao delegado Hélio Pereira Pantaleão, o agente do DOPS informava que no dia 14 de fevereiro, havia sido realizada assembleia da UNIÃO em São Vicente, presidida por Guarino Fernandes dos Santos e que na ocasião, Massilon discursara de forma inflamada:
“... deu conta aos presentes do movimento grevista instaurado em 25 de janeiro pp., lendo em seguida um memorial, na qual solicitava da Sorocabana o afastamento do engenheiro Chafic Jacob, denunciando a perseguição por parte deste engenheiro, aos integrantes de piquetes de greve, tendo já havido a transferência de Gilvan Freire Barros, da divisão de Santos para o ramal de Dourados e de Raimundo Pereira da Silva, também de Santos para Presidente Prudente, além de sua própria para Piracicaba. Nesta altura, vários apartes foram solicitados, com os aparteantes insistindo em ameaças de morte ao engenheiro...”.
Nova reunião realizada em 1º de fevereiro de 1962, em Botucatu sob a presidência de Mario Franco de Godoi, contando com a presença de Massilon e Guarino, com Massilon discursando sobre o direito de greve, afirmando:
“... estão nos processando, deixem que nos processem, porque sabemos responde-lo e não será uma mera portaria ministerial que irá revogar lei aprovada e amparada pela constituição, que nos garante o direito de greve...”.
Em 9 de setembro de 1962, relatório reservado informava que a UNIÃO havia realizado assembleia em sua sede, no bairro de Catiapõa, em São Vicente, com a presença de Guarino Fernandes dos Santos, Francisco Gomes e Massilon, discutindo a pauta de reinvindicações que seria apresentada ao governo do Estado e dentre elas, o pagamento do 13º salário. Embora previsto desde a década de 40, na CLT, o 13º salário não era pago e se tornava presença constante na pauta de reivindicações.
Neste mesmo ano de 1962, Massilon foi candidato a Deputado Federal em dobradinha com Guarino Fernandes dos Santos, que foi candidato a Deputado Estadual e embora tenham tido boa votação, não conseguiram se eleger. Transcrevemos a seguir, o manifesto de Massilon, aos ferroviários, em busca de voto:
“ Massilon Bueno é o candidato dos ferroviários. Toda a sua vida foi dedicada aos problemas e as reivindicações dos trabalhadores em Estradas de Ferro. Desde 1925, Massilon trabalha na Estrada de Ferro Sorocabana, onde começou como ajudante de artífice truqueiro. Foi fundador do Sindicato dos Ferroviários da Sorocaba em 1934 e começou as atividades da Cooperativa de Consumo. Posteriormente, lutou pela Organização da União dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana. Participou de uma serie de palestras pela Paz Mundial, no Brasil e no Exterior, tendo sido delegado, ainda, em Congressos de Trabalhadores no México, Havana e Moscou. Com base num longo passado de lutas, foi que os trabalhadores da baixada santista, lançaram o nome de Massilon Bueno para deputado federal, salientando que os ferroviários não devem votar nos falsos representantes ferroviários, que só se apresentam em épocas de eleições. O comitê de Massilon funciona no sistema de boa vontade. Eles conclamam: Monte imediatamente, operário, um comitê em seu lar, para derrubar esta fortaleza que usa todos os meios para manter o nosso povo na mais negra miséria. O único compromisso deste comitê é o de escrever cinco cartas, para cinco pessoas honestas, de sua confiança e que devem ser entregues em mãos, com o compromisso destas pessoas fazerem o mesmo, pedindo o voto dos trabalhadores de  sua categoria, em uma pessoa que tenha um passado capaz de garantir um futuro de lutas e que prefiram passar fome, a trair a classe e que  tenham uma vida inteira na vanguarda da defesa dos justos  e legítimos direitos daqueles que labutam incessantemente nas estradas de ferro. Para Deputado Estadual, Massilon está com GUARINO FERNANDES DOS SANTOS, presidente da UNIÃO e defensor intransigente da classe ferroviária. VOTE MASSILON e GUARINO, para o bem da classe ferroviária.”
Em 4 de setembro de 1962, a Delegacia de Polícia de Botucatu, informava que este reunido com os ferroviários daquela cidade, em companhia de Guarino Fernandes dos Santos e Francisco Gomes, em campanha eleitoral dele, para Deputado Federal e de Guarino para Estadual.
Em 27 de outubro de 1963, esteve na Vila Ferroviária de São Vicente, onde realizou rápida reunião na Associação respectiva, concitando os presentes a se reunirem novamente dia 10 de novembro, para possível nova deflagração de greve da Sorocabana, caso até aquela data não sejam atendidas suas reivindicações, como o pagamento de 13º salário, retroativo a 1962.
Em março de 1964, mais precisamente na primeira quinzena, uma Assembleia das Confederações representativas dos trabalhadores brasileiros realizou-se na cidade de São Paulo, com a finalidade de iniciarem os preparativos para a realização de um grande ato no dia 1º de Maio, ocasião em que os trabalhadores dariam uma demonstração de aglutinação de massas, favoráveis ao presidente João Goulart. Nesta mesma Assembleia ficou deliberado  que uma comissão de dirigentes sindicais seguiria para Bauru, com a finalidade de verificar “in loco” a situação de Jofre Correa Neto, líder camponês encarcerado naquela localidade por ter invadido uma fazenda improdutiva de propriedade do mau patrão, JJ Abdala. Teriam surgido informações de que Jofre teria desaparecido da cadeia, juntamente com o carcereiro, com suspeitas de que o líder camponês teria sido envenenado. Mesmo com a improcedência da informação sobre a presumida morte de Jofre, resolveu-se posteriormente, enviar telegramas ao Ministro da Justiça e ao Presidente da República, no sentido de que intercedessem por Jofre, antes que o mesmo efetivamente desapareça.
Dos apontamentos no DOPS, era constante a movimentação de Massilon, sedo que em 26 de setembro de 1963, o delegado Agnelo Audi, de Botucatu, informava que em companhia de Mario Franco de Godoi e Celestino dos Santos, João Batista Domene e Francisco Costa, realizaram reunião com os ferroviários para comunicarem que se a ferrovia não atendesse suas reivindicações até o dia 30, do mesmo mês, os ferroviários entrariam em greve dia 3 de outubro.
Assim a vida deste líder era monitorada diuturnamente pela repressão política, davam conta novamente da sua presença em Botucatu –Sp., participando de Assembleia preparatória para o movimento grevista de 12 de novembro de 1963, que durou dezoito dias. O delegado de Polícia de Botucatu enviou o telegrama abaixo para São Paulo:
“... comunico v.s., assembleia realizada sábado ultimo dia 8 vigente, às 20:00 horas, sede União Ferroviários da Sorocabana, no Palacete Lunardi, Vila dos Lavradores, congregando elementos da citada agremiação. Na presidência figurou ferroviário Mario Franco de Godoi que distinguiu um único orador, Massilon Bueno que invocou principalmente aumento dos funcionários públicos federais que considerou justo e reclamou idêntica medida por parte do governo estadual. Assinalou situação calamitosa dos inativos que estão com atrasos consideráveis no recebimento de diferenças de aumento de vencimentos. As 22:00 horas encerraram sessão, que contou com cerca de 100 pessoas, transcorrendo sob aspecto de ambiente calmo”.
Em 19 de dezembro de 1963, os ferroviários reuniam-se em Assembleia no Sindicato da Santos-Jundiaí, na rua Santa Ifigênia, São Paulo, e Massilon declarava:
“ ...que uma comissão daqueles trabalhadores esteve na Guanabara, a fim de manter contato com as autoridades e saber das mesmas, em que pé se encontra a prometida federalização da Sorocabana, visto que o prazo de 30 dias já está se esgotando e o governador de São Paulo nada resolveu em favor dos ferroviários. A resposta das autoridades federais é que estão estudando o caso; portanto, continua a mesma promessa e nada fazem de concreto. Por outro lado, as autoridades do Estado, também, nada querem, apesar dos vários ofícios já enviados as mesmas, solicitando uma solução para a questão...
... que o governador de São Paulo, ao invés de solucionar o impasse, vem complicando ainda mais, cerca de dois mil ferroviários já foram dispensados e noventa e seis estão sendo processados pelo DOPS, por participarem da greve. Diante destes fatos, decidimos convocar a Assembleia para hoje, quando a classe será colocado ao par da verdadeira situação. Que a ordem do dia é mobilizar a classe ferroviária, face estar se esgotando o prazo de trinta dias, sem nenhuma solução satisfatória para o caso. Que, na Assembleia de hoje, sairá a palavra de ordem para as Assembleias a serem realizadas ao longo da ferrovia ( 18 delegacias), a partir de amanhã, dia 20 até domingo, dia 22, mantendo assim, a classe em estado de alerta, pois existe a possibilidade de um novo movimento grevista...
...que, porem, desta vez a coisa será bem diferente, visto que, se for necessário deflagrar nova greve, os ferroviários da Sorocabana contarão com o apoio da CGT, PUA, P.A.C.,Forum Sindical de Debates e de mais dezesseis ferrovias do país, conforme acordo já firmado na Guanabara...
...disse ainda que, no último dia 18, uma comissão de ferroviários se avistou com o senhor presidente João Goulart, quando de sua visita a COSIPA, tendo, na oportunidade reiterado ao senhor presidente, a necessidade da federalização da E. F. Sorocabana, fazendo ainda, sentir ao senhor presidente, que o prazo de trinta dias está se esgotando. Em resposta, o senhor Jango Goulart, mais uma vez prometeu resolver a questão. Portanto, vamos aguardar o final do prazo, mas com a classe mobilizada.”
No final de 1963, dia 26 de dezembro, nova reunião em Botucatu, com Massilon incentivando os ferroviários a enviarem telegramas ao senhor João Goulart, cobrando a federalização da Sorocabana.
Às vésperas do Golpe Militar, em fevereiro de 1964,  e novamente na cidade de Botucatu, discursou criticando de forma áspera o governador Adhemar de Barros.
Em decorrência da greve de 18 dias, juntamente com outros líderes ferroviários, foi suspenso administrativamente por trinta dias, punição esta, renovada por mais trinta dias, suspensões estas preparatórias para sua segunda demissão dos quadros da ferrovia. Mesmo suspenso, subscreve um manifesto lançado pela UNIÃO, no qual, segundo a polícia,  “atacam exageradamente  os governadores Adhemar de Barros, Carlos Lacerda e Magalhães Pinto, taxando-os de gorilas e golpistas, incitando ainda os ferroviários a adentrarem em greve de protesto, contra os mesmos” e logo depois, subscreve novo manifesto apoiando deflagração de greve geral no Brasil, comandada pela CGT.
Indiscutivelmente, Massilon sempre esteve na vanguarda nas lutas da classe ferroviária, dotado de humanismo e solidariedade, e prova cabal disto, foi a organização de protestos pela prisão do companheiro de diretoria da UNIÃO, Francisco Gomes, na cidade de Assis e posteriormente, recambiado para o DOPS/Sp, sendo certo que não foi necessária a greve, graças a liberdade do sindicalista.
Em 8 de Janeiro de 1964, encaminhou ofício ao Presidente do Fórum Sindical de Debates, na cidade de Santos, solicitando colaboração financeira das entidades sindicais da baixada santista, para poder viabilizar o envio de uma delegação ao VII Congresso Nacional dos Ferroviários, que seria realizado em Recife, no final daquele mês, explicando que em decorrência da greve de dezoito dias realizada no final de 1963, em busca de melhores salários e condições de trabalho, os ferroviários da Sorocabana e suas entidades representativas vinham sofrendo represálias por parte do governador Adhemar de  Barros que dentre outras medidas, havia demitido 140 ferroviários contratados, suspendido por trinta dias, noventa e seis ferroviários, aumentado a penalidade para sessenta dias, com ameaças de chegar a noventa, além de, a partir do mês de novembro de 1963, ter suspendido o desconto em folha das mensalidades das associações de classe, e deste mês em diante, a UNIÃO estava em dificuldades de atender suas necessidades financeiras, buscando desta forma, de forma tirana e arbitraria, liquidar com as organizações de classe da Estrada de Ferro Sorocabana. Além disso, o não pagamento dos dezoito dias de greve, ocasionou um desequilíbrio financeiro nos vinte e dois mil ferroviários que participaram do maio movimento reivindicatório da história da ferrovia. Ante esta exposição, Massilon, finaliza dizendo que as dificuldades financeiras enfrentadas pela UNIÃO e pelos ferroviários, estavam impedindo a ida de ferroviários da Sorocabana, ao VII Congresso Nacional, e solicita a colaboração de outras entidades sindicais. O apelo foi atendido e uma delegação da Sorocabana esteve presente ao Congresso.
Foi preso em 1964, demitido da ferrovia e posteriormente, em 10/05/1966, foi absolvido pelo juízo da 12ª Vara Criminal, da acusação de instigador da greve de 18 dias. Mesmo demitido e enfrentando problemas de saúde, continuou atuando politicamente e sempre que possível, estava ao lado das lutas da classe ferroviária. Em março de 1966, o Juiz Wilson José de Mello, da 12ª Vara Criminal de São Paulo, absolveu todos os denunciados por instigação da greve de 12 à 30 de novembro de 1963. Foram absolvidos: Francisco Gomes, Guarino Fernandes dos Santos, Celestino dos Santos, Massilon Bueno, José Batista, Jacinto Dias Portes, Norberto Ferreira e Antonio Augusto Mendes Junior.
Homem forjado na luta, ético e coerente, deixa saudades perenes em todos que com ele conviveram, que se recordam da capacidade de sua oratória, conseguindo comover a todos que o ouviam. A seguir, alguns dos relatos policiais, sobre suas atividades políticas. Indiscutivelmente, ao lado de Carminio Caramante, Brasil Mirim, Francisco Ramirez, Celestino dos Santos, Francisco Gomes, Luiz Bascheira, Guarino Fernandes dos Santos, constituiu-se em uma das maiores lideranças dos ferroviários, no século passado.

Este texto faz parte do livro “Ferroviários, na LUTA”, de Antonio Pedroso Junior.